BA21 - Agriterra

38 SISTEMAS AUTOMÁTICOS DE REGADIO o aumento das temperaturas e do consumo no futuro próximo. Pimenta Machado defende que é preciso preparar o país para esta situação. Neste contexto considerou igualmente a importância dos ajustes feitos recentemente à Convenção de Albufeira, um acordo com Espanha que tem mais de 25 anos, e no contexto do qual as novas negociações permitiram alcançar um novo entendimento sobre o Rio Tejo e sobre o Rio Guadiana, com o estabelecimento de caudais diários no Rio Tejo e a viabilização da tomada de água do Pomarão. INDEPENDÊNCIA DE ESPANHA A execução do projeto Água Que Une, que inclui entre outros a construção das barragens de Girabolhos e Alvito/Ocreza, permitirá otimizar em 35% a gestão da água em Portugal e irá tornar-nos mais independentes de Espanha, sobretudo numa faixa de 70kms onde atualmente o nível de dependência é de 90%. Esta é a convicção do presidente da APA, que revelou ainda a que no que diz respeito à resiliência hídrica, a UE está fortemente apostada na eficiência e que os financiamentos seguem esta orientação. Uma abordagem que, no entanto, considera que precisa de ser ajustada porque os investimentos focados apenas na eficiência não chegam para compensar a diminuição dos índices de pluviosidade que afetam já a maioria dos países na região. É preciso apostar também na construção de mais barragens e em centrais de dessalinização. AGRICULTURA: PEÇA CHAVE NO REFORÇAR DA RESILIÊNCIA EUROPEIA Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, para quem a resiliência e a autonomia da agricultura e da floresta são essenciais, considerou que o atual contexto geopolítico mudou de forma substancial as perspetivas para a agricultura, criando um ambiente mais favorável ao desenvolvimento do setor na Europa. Aquele responsável, que considera que, quando passe à prática, o projeto Água Que Une consubstancia uma das mais importantes mudanças estruturais no país em décadas, referiu que é preciso não esquecermos que foi a globalização – mesmo com todos os defeitos que teve e que urge corrigir - que tirou milhares de milhões de pessoas da fome e da pobreza, permitindo a extraordinária evolução que tivemos como sociedades neste séculoa qual só foi possível em grande parte graças ao desenvolvimento da agricultura. Esta tem um papel fundamental a desempenhar na defesa da Europa. Duas vertentes que dominam atualmente as prioridades para a Europa nos três pilares Defesa, Energia e Alimentação. Uma mudança que se estendeu também ao próprio discurso da Comissão Europeia, antes exclusivamente centrado nas causas ambientais, e que agora compreendeu que sem resiliência alimentar não pode haver autonomia estratégica. O próximo grande desafio, no contexto europeu, segundo Álvaro Mendonça e Moura, irá ser a competição pelas verbas que terão de andar a par nas duas áreas mais cruciais: agricultura e defesa. Pelo que é preciso, mais do que nunca, integrar agricultura e sustentabilidade ambiental. A Europa tem agora de trabalhar a resiliência em todas as suas frentes e deve fazê-lo independentemente das tarifas de Trump e/ou da nova ordem económica emergente, dois aspetos que funcionaram como um despertador para o que temos de fazer para sermos mais fortes. “Aumentar a resiliência passa pela agricultura, necessariamente, pelo que a nossa ambição tem de ser agora a de fomentar o desenvolvimento do setor, tanto na vertente da produção quanto na do aumento dos rendimentos dos agricultores e rejuvenescimento do setor”. Um esforço de modernização que passa também, e inevitavelmente, pela água. Neste contexto, recordou o processo de aprovação na UE do Plano Nacional de Barragens, que incluiu a construção de Alqueva, e que só foi possível pelo peso político dos governantes portugueses à época. Sobre o Alqueva o presidente da CAP explicou que a inclusão de Alqueva e Baixo Sabor no sistema de black start só pode acontecer através da ligação entre bacias e trazendo água de fora destas regiões para se poderem transformar em estações giratórias. Uma transformação que tem de ocorrer de forma célere e efetiva para podermos ser verdadeiramente resilientes do ponto de vista hídrico, considerou. O responsável da CAP adiantou ainda que a maior ou menor dependência de Portugal no que diz respeito à àgua depende apenas de nós, porque basta-nos reter mais água para sermos mais autónomos. Isto significa que temos de ser inteligentes e apostar no aproveitamento, reduzindo as perdas, fazendo charcas, construindo interligações e barragens. De resto, os impactos económicos e a criação de emprego decorrentes de infraestruturas modernas como Alqueva e o Mira são inegáveis, referiu, revelando que o Alqueva até ao início deste ano tinha gerado mais de 3.300 milhões de euros de riqueza, um valor que ultrapassa largamente o do investimento efetuado; e o Perímetro de Rega do Mira, segundo dados de um estudo recente da EY Portugal/Lusomorango, ultrapassou os 502 milhões de euros em 2023. “Sendo que a Europa, o maior exportador de bens alimentares do mundo, tem agora de tratar do assunto da defesa por si própria e não estar dependente dos EUA”, concluiu. n C M Y CM MY CY CMY K

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx