BA24 - Agriterra

I CONFERÊNCIA TÉCNICA PERA E MAÇA 14 Concretamente a nível de programas de capacitação para a agricultura, esta “é um dos nossos setores alvo e tem sido o grande foco de atuação desde que iniciámos, em 2024, o Programa de Proximidade, Transição e Impacto, no âmbito do plano de transição Net Zero do banco”. Dando dois exemplos de ações no setor agrícola, a especialista destaca a Formação em Agricultura Regenerativa, “um programa de formação adaptado ao perfil e necessidades do agricultor português, que utiliza agricultores mentores no terreno para demonstração prática e se foca em culturas com alto potencial agrónomo e económico para a transição, como a viticultura, culturas arvenses, e olivicultura". De acordo com Filipa Saldanha, “a maçã e a pera estão na mira” para futuras ações. A segunda é o Programa de Transição para a Agricultura Sustentável, uma iniciativa de capacitação “bastante mais abrangente, que se vai orientar por quatro eixos ambientais - clima, solo, água e biodiversidade”, e que arranca a 2 de dezembro. Desenvolvido em parceria com a Consulai e quatro OPs (AgroMais, ANPOC, MIGDALO e O Melro), esta ação visa dotar agricultores e técnicos com práticas mais inovadoras e sustentáveis, utilizando uma metodologia One to Many para escalar o impacto das aprendizagens além dos participantes. Com “uma relação histórica, de mais de cem anos, com o setor agrícola”, o Crédito Agrícola está a desenvolver uma nova proposta de valor para a agricultura nacional, que deverá ser lançada no próximo ano, focada em três categorias elegíveis para novas linhas de crédito bonificado: agricultura climate smart, focada na redução do uso de fertilizantes sintéticos e pesticidas, sistemas de cultivo diversificados e sistemas de rega mais eficientes; agricultura regenerativa, para investimento na adoção de práticas que reconstruam a matéria orgânica do solo, restaurem a biodiversidade e aumentem o sequestro de carbono; e inovação e tecnologia, para apoiar a transição e o investimento em novas tecnologias. Sublinhando que “Portugal é um dos países mais vulneráveis aos impactos climáticos e o terceiro setor bancário mais exposto”, Filipa Saldanha concluiu que o trabalho de financiamento bonificado e capacitação de proximidade deve ser feito em simultâneo. PENSAR AS ALTERNATIVAS COM AÇÃO ESTRATÉGICA ‘Biosoluções e práticas sustentáveis na cultura da pera e da maçã’ foi o tema da segunda mesa redonda da conferência organizada pela Agriterra. A análise levada a cabo por Hugo Oliveira, investigador auxiliar do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho, Gonçalo Vale, consultor da AGRO.GES e Jorge Soares, presidente da APMA, sob a moderação de Gonçalo Rodrigues, professor auxiliar do ISA, revelou oportunidades na adaptação às imposições legislativas em curso, transformando desafios em soluções emergentes face à retirada de substâncias ativas e à necessidade de uma agricultura mais sustentável, e modificando perceções sociais através da aposta na inovação e sustentabilidade. Jorge Soares abordou o impacto da imposição regulamentar de retirada de substâncias ativas na produção de maçã, sublinhando a necessidade de mudança de paradigma no setor. “A via química fez-nos cavalgar sobre o problema e está esgotada”, defendeu. Neste contexto é imperativo explorar as soluções naturais e de base natural, “apesar de serem mais difíceis, morosas e, inicialmente, menos eficazes”. Mas o impacto da retirada de químicos no setor das pomóideas é significativo: a pera, especialmente, enfrenta um problema grave com a falta de produtos específicos e eficazes. Defendendo que a estratégia passa por explorar ao máximo o natural em detrimento do químico, Jorge Soares acredita que, no caso da maçã, o caminho passa também “pela procura de variedades mais resilientes”. Hugo Oliveira trouxe ao debate a perspetiva da investigação e do desenvolvimento de biosoluções, com foco na área do fogo bacteriano. Na sua opinião, a lacuna no desenvolvimento biológico tem uma causa: o Pacto Ecológico Europeu esvaziou o leque de substâncias químicas, “mas em paralelo não estimulou o suficiente o desenvolvimento de novas abordagens biológicas”. Para o fogo bacteriano, por exemplo, “existem apenas dois produtos biológicos homologados, e nenhum foi desenvolvido especificamente para este problema. Falta uma categoria biológica específica” para esta bactéria, ainda que “exista um produto novo de origem biológica dedicado ao fogo bacteriano, que está em fase de registo”. Trata-se dos bacteriófagos (vírus que infetam bactérias), explicou uma tecnologia promissora que já é utilizada nos EUA há 20 anos. O investigador considera que os principais constrangimentos para a adoção de novas soluções são a falta A adoção estratégica e efetiva de tecnologia e biosoluções são as premissas para os produtores de pera e maçã do futuro

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