BA24 - Agriterra

ENTREVISTA 33 área da agricultura, o diretor do governo responsável pelo planeamento na área da agricultura e os presidentes do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). Os temas em destaque foram a ‘Água que Une’, com a apresentação do professor António Carmona Rodrigues sobre os próximos passos desta estratégia, concretamente sobre a empresa que irá gerir e implementar os vários projetos; as atuais questões da Política Agrícola Comum (PAC), com o eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral a analisar o andamento das negociações em Bruxelas relativas às reformas em curso; e a apresentação do Observatório do Regadio, a nova plataforma lançada pela FENAREG. O evento reforçou a urgência de avançar com a Estratégia Nacional ‘Água que Une’, considerada decisiva para a produtividade e competitividade da agricultura portuguesa. Quais são hoje os principais entraves à sua execução e que passos imediatos considera indispensáveis para acelerar o processo? Neste momento é indispensável passarmos à ação. O programa foi aprovado no Conselho de Ministros em março, mas já está a ser discutido desde o final do ano passado. A FENAREG revê-se no que está aprovado e, já em 2019, tinha apresentado um primeiro levantamento das necessidades de investimento do regadio, sendo certo que a ‘Água que Une’ vai além do regadio. O levantamento está feito e, portanto, o que nos preocupa agora é sabermos qual será o mecanismo que o irá implementar. Trata-se de uma estratégia global, que integra novos reservatórios, alteamento de barragens, modernização e reabilitação de regadios e outros investimentos, pelo que é muito importante que haja uma empresa que esteja vocacionada para fazer a articulação de todas estas valências. Entendemos, até, que seria importante ser uma agência, a quem seja dada plenos poderes para promover os projetos, de modo a conseguirmos levar a bom porto esta estratégia ambiciosa. De resto, o investimento é para realizar até 2030, que é ‘depois de amanhã’, o que significa que temos de ser ágeis. A propósito de investimento, a FENAREG estima que cada ano sem investimento em regadio custe ao país mais de 500 milhões de euros e que se percam cerca de 4.500 euros por hectare/ano. Que impacto concreto tem esta inação na viabilidade económica das explorações e no futuro da indústria agroalimentar portuguesa? Esse investimento pode significar a passagem de uma balança deficitária para uma balança equilibrada. Como sabemos, o regadio é responsável por 60% da balança agroalimentar e 30% da produção, apesar de representar apenas 17% da área. Cada hectare de regadio produz cinco vezes e meia mais do que cada hectare equivalente de sequeiro. E é curioso que ao fim de dez anos, que é o horizonte previsto para os investimentos a realizar, as perdas são iguais ao investimento. Ou seja, numa década, os tais 500 milhões de euros que não se ganham ao implementar a estratégia serão equivalentes ao valor que seria investido e que poderia resolver o problema de imediato. Temos o exemplo da EDIA, com o Alqueva, onde em quatro anos se pagou o projeto e hoje em dia é um ativo que dá rendimento ao Estado. Os últimos anos permitiram ganhos superiores a 80% na eficiência hídrica do regadio. Onde estão hoje as maiores margens de melhoria, na modernização das infraestruturas, na digitalização ou na gestão integrada da água? E quais são as tecnologias mais determinantes para o próximo ciclo de investimento? No conjunto de todos esses fatores. Mas, sem dúvida, o investimento na melhoria dos sistemas de regra foi o grande salto. Hoje em dia 80% das explorações já são regadios de gota a gota, um sistema muito mais eficiente. Por outro lado, temos à disposição novas tecnologias para previsão e monitorização do tempo, do tipo de dotações e do tipo de rega, e a informação que é recolhida torna muito mais eficiente a utilização da água. Apesar de nos últimos anos ter havido um aumento da área, houve uma redução do volume total, o que quer dizer que conseguimos, com a mesma ou menos água, produzir bastante mais. O aumento da capacidade de resiliência é muito importante para o agricultor. Quando se realiza um investimento é fundamental que esse investimento tenha garantias. E hoje em dia, com a incerteza climática que reina, o que os cientistas dizem não é que vai chover menos, mas que vai chover com mais intensidade, com frequência, e que as secas vão ser mais prolongadas. Neste contexto, temos de ter outra capacidade de garantia de água e daí a relevância de aumentar a capacidade das reservas, como vimos defendendo. “Foi anunciado um pacote de 45 projetos que estão prontos para arrancar para obra. É importante garantir esse financiamento”

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