ENTREVISTA 34 Este aumento não se consegue só fazendo novas barragens (com a certeza de que ainda há que fazer algumas, como no caso do Tejo), faz-se também com um incremento da eficiência dos sistemas de distribuição de água. Há que modernizar muitos sistemas antigos. De resto, foi anunciado no nosso encontro um pacote de 45 projetos de execução, que estão prontos para arrancar para obra, com um investimento de cerca de 700 milhões de euros. É importante garantir esse financiamento. A Jornada ocorreu num contexto de forte pressão sobre a produção agrícola europeia e de revisão da PAC, que está a gerar muita contestação. De que forma estas mudanças europeias vão condicionar o investimento em regadio e a resiliência hídrica em Portugal? Preocupa-nos muito a incerteza, que é sempre um problema na agricultura. Os agricultores funcionam com estes ciclos de sete anos, que passam num instante, e no final de cada período mudam as regras todas e dizem- -nos ‘produzam mais’ ou ‘produzam menos’. Cada vez que se fala de uma reforma da PAC os agricultores estão sempre contra, por princípio. Mas o que está em cima da mesa é muito mais profundo do que isso. Porque segundo o eurodeputado Nascimento Cabral, que está por dentro da negociação, nem o Parlamento, nem sequer o Conselho Europeu, têm uma visão clara da proposta da Comissão. Até houve uma reunião de vários países a votar contra a proposta. Preocupa-nos que os fundos para o investimento na agricultura deixem de ser exclusivos e passem a ser partilhados com outros fundos estruturais. Não quer dizer que vão acabar, quer dizer é que vão mudar: deixarão de estar dentro do pacote da política agrícola e serão geridos juntamente com os outros fundos estruturais. Pior que isso, é ser dada liberdade aos governos dos países para poderem financiar mais ou menos essas políticas. É um retrocesso muito grande, pois nas reformas anteriores discutia-se a maneira de distribuir o dinheiro para o investimento, mas este era garantido e distribuído por país. Neste momento, vive-se uma nacionalização da PAC e não temos dúvidas que os países com outra capacidade financeira podem criar desequilíbrios. Porque o agricultor português não pode competir com o agricultor espanhol ou com o agricultor francês. Estamos a falar de países que têm uma capacidade de financiamento que nós não teremos. E é isso que nos preocupa mais, esta desigualdade. Numa Europa em que, teoricamente, todos temos as mesmas condições para produzir, estas condições vão ser alteradas, independentemente de não haver a garantia de que os fundos sejam só para a agricultura. Concretizando, sobre a proposta que está em cima da mesa, que impactos vê a nível do investimento em regadio e resiliência hídrica no país? Neste momento, e tal como a proposta está, os impactos são gravíssimos. O dinheiro disponível da política agrícola para o tipo de investimentos que desejamos é zero. Obviamente que os fundos agrícolas para financiar a ‘Água de Une’ não são suficientes, também terão de haver outros tipos de fundos. Mas temos a garantia do ministro da Agricultura que para esta Estratégia Nacional não haverá problemas de financiamento, e estamos numa fase em que os constrangimentos que havia aos financiamentos externos estão ultrapassados. Portanto, neste momento estamos na espectativa, mas temos a esperança que se possa concretizar. n OBSERVATÓRIO DO REGADIO AGREGA INFORMAÇÃO DISPERSA O Observatório do Regadio, lançado durante a XVI Jornada FENAREG, é uma plataforma online que dá acesso aos números oficiais da agricultura, congregando dados da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), do IFAP, da Direção Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV), do Instituto Nacional de Estatística (INE), no que respeita ao licenciamento agrícola, e de várias associações de regantes. Esta ferramenta interativa e de consulta fácil – alojada para já na home page do site da FENARAG – reúne informações como a área agregada por região e por núcleo, as culturas disponíveis, as mutações da água ou, como referido, os dados do licenciamento agrícola. A plataforma dirige-se não só aos agricultores, mas também às empresas que fazem estudos para saberem quais são as regiões mais especializadas em determinado tipo de culturas, e até mesmo à comunicação social que, através deste serviço, poderá perceber o que representa o regadio nas várias fileiras. O Observatório do Regadio “é ainda uma plataforma simples, mas que pode evoluir”, e que já coloca a inteligência artificial a trabalhar os grandes números que existem sobre o regadio. “Alguns estão mais disponíveis que outros”, como explica José Núncio, mas o grande objetivo é agregar informação que até então estava “muito dispersa”, facilitando a sua leitura e interpretação. Nas palavras do presidente da FENAREG, “é uma pena termos de ser nós a avançar com este Observatório, porque o Estado já o devia ter feito”, mas temos agora uma fonte “fidedigna, que nos dá uma panorâmica importante ao caracterizar o que é o regadio nacional”.
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