“A investigação conduzida no ISA mostrou ainda ser possível substituir perto de 60% dos fertilizantes minerais por estrumes, mantendo a qualidade dos frutos” 53 AGRICULTURA BIOLÓGICA A integração vertical – da produção à marca – é considerada por Gonçalo Rodrigues “um modelo altamente viável e desejável para fortalecer o setor”. No entanto, admite que esta integração só se torna exequível em muitas fileiras se assumir natureza cooperativa, permitindo aos produtores ganhar escala sem perder controlo da cadeia de valor. CERTIFICAÇÃO, APOIOS E O DÉFICE DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA A certificação continua a ser um dos pontos mais sensíveis do setor, sobretudo para os pequenos produtores. Na visão do especialista é urgente simplificar processos e operacionalizar a certificação de grupo, que permitiria partilhar custos e reduzir o peso burocrático. A digitalização e a interoperabilidade entre entidades de controlo e administração pública são também essenciais para evitar duplicação de informação e tornar os processos mais eficientes. No campo dos apoios, as ajudas à conversão e manutenção no âmbito do PEPAC têm sido “absolutamente vitais” para viabilizar a transição. Mas persistem lacunas graves, nomeadamente a falta de assistência técnica especializada e a morosidade dos processos de análise e pagamento de projetos, que frequentemente descapitalizam as explorações. Faltam ainda “instrumentos eficazes que incentivem especificamente a organização comercial conjunta e a agregação da oferta na fase pós-produção” frisa o investigador. INVESTIGAÇÃO PRONTA A CHEGAR AO TERRENO Vários resultados recentes da investigação nacional apresentam hoje maturidade suficiente para serem adotados pela prática agrícola e pela indústria transformadora. No domínio da inovação agronómica, Gonçalo Rodrigues destaca os resultados recentes do projeto NOTS, coordenado pelo ISA, cuja aplicação prática está pronta a ser transferida para o terreno e para a indústria. De acordo com o investigador, a integração de leguminosas nas rotações culturais permitiu aumentos muito significativos no desempenho do solo, com o azoto total a subir entre 70% e 80% e a matéria orgânica a aumentar 30% a 40%. Em pomares e vinhas, a introdução de culturas de cobertura leguminosas demonstrou melhorias claras na fertilidade e na saúde dos sistemas produtivos. A combinação de resíduos orgânicos com leguminosas revelou igualmente um forte potencial de regeneração do solo, o que pode reforçar a sustentabilidade de longo prazo das explorações. “A investigação conduzida no ISA mostrou ainda ser possível substituir perto de 60% dos fertilizantes minerais por estrumes, mantendo a qualidade dos frutos”, esclarece Gonçalo Rodrigues, evidenciando assim um caminho para reduzir custos e dependência de insumos externos. n
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