79 ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS e social. O imediatismo do presente leva-nos a implorar socorro enquanto se adiam as soluções estruturais que ultrapassam a nossa expectativa de vida. O multilateralismo e as convenções, como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC), procuram dar rumo, mas as instituições estão fragilizadas por orçamentos curtos e agendas politizadas, mais reativas do que transformadoras. A Europa procura um equilíbrio entre impor regras e consciencializar, enquanto EUA, Brasil e Índia ponderam se a erradicação da fome e outros objetivos do desenvolvimento sustentável podem coexistir com metas climáticas ambiciosas— cenário que o Outlook OCDE-FAO 2025-2034 sugere possível. Para o agroflorestal, a verdadeira adaptação não virá do ativismo ideológico, mas da inovação, da ciência e de políticas consistentes. Só o compromisso de longo prazo poderá equilibrar clima e ambiente e garantir futuro ao setor. SOFIA MOREIRA DE SOUSA, representante da Comissão Europeia em Lisboa “Agricultura e floresta são parte da solução” No Dia Internacional das Alterações Climáticas sublinhamos a urgência da crise climática e o papel central da agricultura e da floresta, setores expostos a secas, ondas de calor, inundações e incêndios. Apesar de vulneráveis, são também parte da solução: solos bem geridos, árvores e culturas capturam carbono e asseguram serviços ambientais vitais. A agricultura representa 11% das emissões da UE, mas reduziu-as em 24% desde 1990, prova de que a mudança é possível. A Política Agrícola Comum e a Visão da Comissão para a Agricultura e Alimentação apoiam esta transição, conciliando rendimento justo, sustentabilidade e proteção dos recursos naturais. Para cumprir as metas de 2040 e 2050, é crucial acelerar inovação, digitalização, diversificação de culturas e valorização dos serviços ambientais. A UE já definiu o rumo: apoiar agricultores e gestores florestais na construção de sistemas mais sustentáveis, resilientes e inovadores. É um caminho exigente, mas também uma oportunidade de adaptação, reforço da soberania alimentar, proteção da biodiversidade e garantia de qualidade de vida futura. Hoje enfrentamos incertezas; amanhã colheremos os frutos da resiliência e da solidariedade. PAULO JORGE FERREIRA, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas “Portugal deve encarar o desafio como uma oportunidade para inovar” Os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera mostram que Portugal viveu, este ano, o verão mais quente desde 1931, com temperaturas médias 1,55°C acima do normal e três ondas de calor, a última das quais se prolongou de 29 de julho a 17 de agosto. Também a Europa registou tempestades, inundações e ondas de calor que afetaram mais de 413 mil pessoas, provocando 335 mortes e prejuízos de 18 mil milhões de euros. As alterações climáticas constituem um dos maiores desafios globais do nosso tempo, uma urgência inadiável que convoca a participação de todos e exige um esforço global concertado, em todos os setores da sociedade. Portugal deve encarar o desafio como uma oportunidade para inovar, transformar a economia e proteger os ecossistemas que sustentam a vida, com base no conhecimento, na ciência, na inovação e na cooperação entre instituições e sociedade. A ciência tem um papel decisivo na compreensão dos impactos, na antecipação de riscos e no desenvolvimento de soluções inovadoras que apoiem políticas públicas eficazes, mas nenhuma solução será duradoura sem educação para a sustentabilidade, sem mudança de comportamentos e sem ação coletiva. A ação climática e o desenvolvimento sustentável são temas de grande relevância para as instituições de ensino superior (IES). Quando a Comissão Europeia adotou as atuais metas para a neutralidade carbónica e redução de emissões de gases, há muito que as IES tinham colocado esses temas nas suas agendas. Para este compromisso global, as instituições de ensino superior têm contribuído de várias formas: no ensino, promovendo a literacia ambiental e formando cidadãos conscientes e responsáveis; na investigação, desenvolvendo tecnologias sustentáveis e soluções de descarbonização; na inovação, contribuindo para processos produtivos mais verdes; e na governação, adotando práticas que tornem os seus campi mais eficientes e ecológicos. Este tem sido também o caminho que a Universidade de Aveiro tem trilhado desde os anos 70, quando criou o pri-
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