80 ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS meiro curso de Engenharia do Ambiente em Portugal, mantendo hoje um compromisso firme com a sustentabilidade. Há muito ainda a fazer, mas é deste caminho — feito de conhecimento, inovação e cooperação — que nascerá um futuro sustentável, à altura da responsabilidade que devemos às próximas gerações. FILIPE DUARTE SANTOS, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável “A segurança alimentar é fundamental numa situação de policrise” O setor agroflorestal no nosso país está confrontado com um desafio grande porque tem uma forte dependência nas políticas, no apoio e no excesso de complexidade e regulamentação da UE, tem de se adaptar a um clima mais quente, mais seco e mais irregular, luta com falta de candidatos aos cursos ligados às ciências agrícolas e florestais, e com falta de mão de obra no campo, e ainda, por vezes, com uma injustificada e prejudicial imagem negativa nos meios de comunicação social. Recentemente o esforço para contrariar este último fator tem sido bem sucedido. Aliás considero ser notável a resiliência dos agricultores em Portugal. É necessário reforçar a importância de assegurar a segurança alimentar do país numa situação de policrise mundial, polarização e desorientação política na UE, e incerteza quanto ao futuro. A agricultura tem uma contribuição importante para o PIB nacional e para o equilíbrio da balança de pagamentos. A água é obviamente essencial para o setor porque ela é a fonte da vida. Há uma tendência clara de diminuição da precipitação média anual fruto de secas mais frequentes geradas pelas alterações climáticas, mas o país tem muitas disponibilidades acessíveis de água. A primeira prioridade deverá ser usar a água com maior eficiência nos setores urbano, agrícola e industrial. Para que o setor agrícola mantenha e aumente a sua competitividade internacional é necessário que continue a desenvolver e a expandir o uso do regadio utilizando as tecnologias mais avançadas de eficiência no uso da água de rega. É necessário reter mais água e aumentar a redistribuição de Norte para Sul de modo a fazer face aos períodos de seca mais frequentes, cuidar da sustentabilidade dos aquíferos e reutilizar mais a água (ApR). Devem-se incentivar as medidas de adaptação do setor agroflorestal às alterações climáticas utilizando os conhecimentos, tecnologias e boas práticas aplicadas em outras regiões mediterrâneas que enfrentam desafios semelhantes. A agricultura regenerativa é uma fonte de esperança no futuro. Finalmente é necessário criar um regime económico, financeiro e jurídico moderno de gestão integrada dos recursos hídricos adequado à situação de escassez atual e futura, que promova a competitividade económica, a equidade e a eficiência. É ainda essencial valorizar, modernizar e assegurar o bom funcionamento dos sistemas de monitorização da água. ÁLVARO MENDONÇA E MOURA, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal “Agora é o tempo da execução” A agricultura é o primeiro setor a sentir os efeitos das alterações climáticas mas, simultaneamente, é dos que melhor podem contribuir para a sua mitigação, ao fixar carbono, ao promover a circularidade dos nutrientes e ao produzir alimentos e outros bens que reforçam a soberania nacional. Por outro lado, dadas as nossas condições edafoclimáticas, o desenvolvimento da agricultura está muito dependente da garantia de água e da sua distribuição no território. Embora os recursos hídricos não sejam globalmente escassos em Portugal, são limitados e devem, como tal, ser geridos de uma forma integrada entre os diferentes setores utilizadores e numa estreita parceria entre estes e a Administração. É neste sentido que a boa gestão e o uso eficiente da água são essenciais; mas não bastam. Há investimentos urgentes, muitos dos quais identificados na recente estratégia 'Água que Une' que são absolutamente necessários para conferir maior capacidade de resiliência e adaptação das zonas rurais às alterações climáticas, promovendo o seu desenvolvimento social e económico e a preservação e promoção do ambiente, da paisagem e dos valores naturais. Por tudo isto, este dia que chama a atenção da comunidade internacional para as alterações climáticas e, muito em especial, para o desígnio da água, deve levar-nos não apenas a refletir, mas, sobretudo, a agir. O tempo dos planos esgotou-se, agora é o tempo da execução.
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