BA10 - Agriterra

ABACATE 26 Abacate A “MONOCULTURA” DO ABACATEIRO E A BIODIVERSIDADE Amílcar Duarte MED-Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências e Tecnologia Campus de Gambelas | 8005-139 Faro CONCEITO DE MONOCULTURA Podemos considerar que há umregime de monocultura em duas situações. Nas culturas anuais, a monocultura consiste em semear (ou plantar) a mesma cultura em anos sucessivos na mesma parcela de terreno, em vez de fazer uma rotação de culturas. Nestes casos, a monocultura leva à diminuição da produtividade das culturas e ao aumento dos problemas fitossanitários, com o consequente aumento da aplicação de produtos fitofarmacêuticos. Considera-se, portanto, que a monocultura tem um impacto ambiental negativo, comparado comum sistema de rotação de culturas. Nas culturas permanentes, como é o caso do abacateiro, a mesma cultura permanece naturalmente na mesma parcela durante toda a vida do pomar. Dentro da mesma visão agroecológica, o que não devemos é plantar um pomar com plantas da mesma espécie (ou da mesma família) das plantas que antes ocupavam a parcela. Não é, por isso, recomendável plantar abacateiros onde antes havia plantas damesma espécie ou damesma família. No caso do Algarve e da cultura do abacateiro, isso não está a acontecer. Há casos em que se está a plantar abacateiros onde antes havia citrinos, o que é mais sustentável que repetir citrinos na mesma parcela. A segunda situação que podemos considerar como monocultura é o cultivo de plantas da mesma espécie ou da mesma família emgrandes extensões. Tivemos como exemplo de monocultura o cultivo de cereais no Alentejo em grande parte do séc. XX. Isso deixa toda uma região dependente da venda de um único produto, o que tem consequências negativas na economia e no emprego, conduzindo frequentemente as populações mais pobres ao agravamento da pobreza. O emprego passa a ter um elevado grau de sazonalidade, em função das necessidades de mão-de-obra da única cultura da região. A economia fica dependente da venda de um único produto. Usando o conceito fora da atividade agrícola, fala-se de monocultura do turismo no Algarve. Por isso, o desenvolvimento da agricultura é importante para que a região não dependa exclusivamente de uma atividade económica. MONOCULTURA E CULTURA ESTREME Há quem confunda o conceito de monocultura com o de cultura estreme, chamando monocultura a um campo que tem apenas uma cultura. A maioria das áreas agrícolas estão ocupadas com culturas estremes. O cultivo de várias espécies no mesmo espaço (consociações) tem algumas vantagens do ponto de vista Nos últimos anos tem havido um forte crescimento da área plantada com abacateiros em vários países. Em Portugal, esse aumento tem ocorrido sobretudo no Algarve, em zonas do litoral, próximo de centros urbanos. Isso faz com que a perceção de aumento da área seja superior aos números reais desse aumento. Perante esta situação, alguns movimentos têm vindo a fazer uma forte campanha contra a cultura do abacateiro, falando permanentemente da sua “monocultura”, com efeitos muito nefastos sobre a biodiversidade. Importa, por isso, clarificar o que é uma monocultura e se o abacateiro pode, ou não, constituir uma monocultura em Portugal, assim como, se constitui um risco para a biodiversidade.

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