O Instituto Nacional de Estatística (INE), no Boletim Mensal da Agricultura e Pescas - junho de 2020, dá conta de que a primavera quente que se verificou em Portugal favoreceu o desenvolvimento de pastagens e forragens. Área semeada de milho mantém-se, verifica-se uma redução de 10% para a área do arroz, batata mantém-se igual à campanha anterior e cereja foi muito afetada pelas intempéries registadas em maio.
A primavera muito quente e com precipitação superior ao normal em março e abril ampliou de forma acentuada o habitual pico de produção das pastagens, com um aumento de biomassa muito significativo e disponibilidades forrageiras que permitiram o pastoreio pleno dos efetivos pecuários explorados em regime extensivo.
“Existiram também condições favoráveis para a obtenção de alimentos conservados (forragens e silagens), sendo que ao longo de maio já decorreram cortes e secagens para a obtenção de fenos um pouco por todo o país, com produtividades superiores às alcançadas na campanha anterior”, salienta o relatório.
Relativamente ao milho de regadio, e exceção feita a algumas zonas no litoral Norte e Centro, as áreas destinadas a esta cultura foram semeadas até ao final de maio. Estima-se a manutenção das áreas instaladas face à campanha anterior (76 mil hectares de milho de regadio e 7 mil de milho de sequeiro).
Em contrapartida, nos cereais de inverno, estima-se um aumento generalizado nas produtividades (+10% no trigo mole e triticale e +15% no trigo duro, cevada e aveia).
Quanto às culturas de primavera/verão, de salientar a redução de 10% prevista para a área de arroz, consequência da interrupção do fornecimento de água a cerca de 3 mil hectares de canteiros desta cultura enquanto decorrerem as obras de reabilitação do aproveitamento hidroagrícola do Vale do Sado.
No milho, batata e tomate para a indústria as áreas instaladas deverão ser semelhantes às da campanha anterior, enquanto no girassol deverá haver uma redução (-15%), acompanhando a tendência observada nos últimos cinco anos. De referir que a pressão das doenças criptogâmicas tem sido intensa, obrigando à intensificação dos tratamentos fitossanitários na generalidade das culturas.
As plantações tardias de batata de regadio foram dificultadas pela precipitação de abril, tendo havido a necessidade de replantações, nomeadamente quando os tubérculos estiveram sujeitos a elevados teores de humidade no solo. Registaram-se ainda dificuldades no desenvolvimento inicial, também devido ao excesso de humidade, situação já superada.
O baixo preço de mercado (no primeiro trimestre o preço médio da batata no produtor foi 36% inferior ao registado no período homólogo) e condicionalismos resultantes da situação de emergência sanitária, nomeadamente a perceção que a procura poderia diminuir, provocou, no início da campanha, algumas hesitações relativamente à área a plantar. Observou-se, no entanto, um posterior aumento na procura de batata-semente, satisfeita pelo mercado e plantada ou a plantar ao longo de maio e junho, e que veio atenuar as reduções de área instalada inicialmente estimadas.
Desta forma, prevê-se que a superfície global de batata (sequeiro e regadio) se mantenha próxima da registada na campanha anterior (-1%). Quanto às condições fitossanitárias desta cultura, destaque para o continuado aumento da pressão do míldio, que tem obrigado a uma intensificação dos tratamentos preventivos e curativos.
No tomate para a indústria, os trabalhos de plantação em abril e princípios de maio decorreram de forma intermitente, com interrupções resultantes da dificuldade de acesso das máquinas aos terrenos saturados.
Na segunda quinzena de maio o ritmo intensificou-se, estimando-se que se possam concluir as plantações durante a primeira semana de junho. A área instalada, considerando os dados de contratação entre os primeiros transformadores aprovados (indústria transformadora de tomate) e as organizações de produtores e produtores não associados, deverá rondar os 14,9 mil hectares. As searas mais precoces apresentam um desenvolvimento normal. Têm-se registado focos de míldio que, nos casos mais extremos e por atingirem plantas muito jovens, foram incontroláveis, e que obrigaram à replantação de áreas com algum significado.
Quanto ao girassol, o tempo seco em fevereiro/março dificultou as sementeiras de sequeiro, tal como a precipitação de abril dificultou as de regadio. Prevê-se uma diminuição de 15% da área semeada, face a 2019, fixando-se nos 7 mil hectares e mantendo a tendência dos últimos cinco anos de redução da área ocupada por esta cultura.
precoces, que já estavam em fases mais adiantadas. No entanto, os dias de temperaturas anormalmente baixas, a formação de geada e a intensa precipitação da primeira quinzena de abril, provocaram elevados estragos nestas variedades, com grande parte da produção a ficar fendilhada ou sem poder de conservação (e, consequentemente, sem interesse comercial).
A agravar toda esta situação, a intempérie de 31 de maio, com chuvas, granizos e ventos fortes, provocou estragos em muitos dos frutos que tinham conseguido vingar e amadurecer. Alguns agentes deste setor, que nesta época estariam a empregar dezenas de trabalhadores na apanha da cereja, não estão a recrutar (por não ser economicamente rentável) ou têm as equipas reduzidas à mão-de-obra que habitualmente presta outros tipos de serviços agrícolas nas explorações. Estima-se uma redução de 60% na produtividade, face a 2019.
Quanto ao pêssego, a forte precipitação do final de maio agravou o cenário que já apontava para diminuição da produtividade em resultado das condições meteorológicas atípicas de abril. Prevê-se que o rendimento unitário ronde as 9,1 toneladas por hectare, 20% abaixo da alcançada na campanha anterior.
Leia o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas junho 2020 na íntegra, com as previsões agrícolas a 31 de maio.
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