Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

Apostar na produção de cebola de dias longos Porquê? Como?

Sérgio Margaço | Diretor Advice.AgriBusiness - Cora Seeds em Portugal03/03/2021
A cebola para iniciar a formação do bolbo, necessita que a duração do dia tenha de ser superior a determinado número de horas.
Cebolas Advice Cora

Cebolas Advice Cora.

As variedades de cebola classificam-se em três grupos segundo a reação ao fotoperíodo, ou seja, as necessidades diárias de horas de luz (Almeida):

  • Variedades de dias curtos: a duração do dia tem de ser superior a 11 horas. A sementeira realiza-se no verão e a colheita ocorre na primavera. Normalmente, possuem baixos teores de matéria seca e a capacidade de conservação é baixa ou nula;
  • Variedades de dias intermédios: dias com 13 horas de luz. São semeadas nos meses de outono e no início do inverno. Algumas variedades podem ter capacidade de conservação até dois a três meses.
  • Variedades de dias longos: duração do dia superior a 14 horas. A sementeira faz-se desde finais de fevereiro até meados de abril e a colheita no verão. A capacidade de armazenagem de algumas variedades é muito boa (oito meses).

Porquê?

A cebola pertence à família das Aliáceas que inclui também o alho e o alho francês que são consumidos à escala global, conhecendo-se a “boa fama” na alimentação e na saúde.

Os dados do GPP mostram que em Portugal se registou um aumento de 30% no consumo per capita de cebola, com uma evolução de 8,6 kg/habitante em 2011 para 11,2 kg/hab. em 2018. A cebola nacional dá resposta a menos de metade das necessidades do consumo. O grau de auto aprovisionamento era de 42,6% em 2011 e foi de 45,6% em 2018.

Elenka F1 com resistência a doenças e tolerância ao stress

Elenka F1 com resistência a doenças e tolerância ao stress.

A área de produção de cebola em Portugal foi de cerca de 1.500 hectares, em 2011 e em 2018. A produtividade melhorou desde 2011, ano em que se obteve 25 toneladas/ha, até 35 ton./ha em 2018. Na tabela 1, apresentam-se os dados da produção de cebola.

Tabela 1. Produção de cebola em Portugal. Fonte: GPP

Tabela 1. Produção de cebola em Portugal. Fonte: GPP.

Apresentam-se, na tabela seguinte, as quantidades que Portugal importou e exportou, assim como os respetivos valores e preços médios.

Tabela 2. Importações e exportações de cebola. *Dados preliminares. Fonte: GPP

Tabela 2. Importações e exportações de cebola. *Dados preliminares. Fonte: GPP.

Verificou-se entre 2010 e 2019:

  • Um aumento das quantidades importadas, como resposta ao aumento registado no consumo, para o qual, a ligeira tendência de aumento da produção nacional, é manifestamente escassa;
  • A exportação também registou uma tendência de crescimento, em quantidade e em valor, em que a cebola tem uma orientação exportadora crescente e que se aproxima de 10%, o que significa que 10% da produção de cebola nacional é exportada;
  • Os preços médios da cebola importada e exportada, refletem em termos gerais, as condições anuais do mercado europeu e global da cebola, pois os preços em cada campanha estão dependentes da oferta (produção obtida) e da procura (consumo). A cebola importada nos últimos 10 anos, foi paga a um preço médio de 0,28 EUR/kg.

Ainda segundo o GPP, em 2018 e 2019, Espanha foi a principal origem da cebola importada por Portugal, seguida de França, Países Baixos e Alemanha. Espanha foi também o primeiro destino das exportações de cebola, seguindo-se Cabo Verde e França.

Espanha além de ser um dos líderes europeus em quantidade produzida (em 2019, quase 1,5 milhões de toneladas em 26.520 ha), lidera a produtividade na UE, com 51 ton./ha (Eurostat).

A aposta na produção de cebolas de dias longos (DL) em Portugal é necessária para dar resposta à escassa produção atual face à procura existente e crescente. A cebola de DL, ao ser colhida nos meses de verão, no caso de ter boa aptidão para armazenagem, tem uma “janela de comercialização” de 7-8 meses, até ao início da nova colheita de cebolas de dias curtos, em março do ano seguinte.

A conclusão é que existe mercado mas a grande oportunidade está nas cebolas de DL com capacidade de conservação. Neste ponto, pode-se ter uma conclusão semelhante à aposta que vários produtores e operadores fizeram nos últimos anos, quando aderiram à produção de batata-doce. Idêntica estratégia foi iniciada com a produção (ainda em pequena escala) de batata com plantação em junho para colheita no outono e que pode beneficiar de uma janela temporal alargada para escoamento e valorização da produção com qualidade.

Elenka F1 armazenada numa pilha com cinco metros de altura

Elenka F1 armazenada numa pilha com cinco metros de altura.

Como?

A produção de cebola de DL em vários países europeus, que até têm temperatura e humidade mais desfavorável para a cultura do que Portugal, é feita totalmente mecanizada da sementeira direta até à colheita e na pós-colheita.

Em Portugal alguns produtores já deram este passo importante, porque é a forma de tornar a cultura viável e competitiva. Só assim, poderá criar atração para aumento da área cultivada e também gerar interesse na criação de estruturas adequadas para a armazenagem e conservação ao longo de vários meses, após a colheita no Verão.

Desde 2017 que a AdviceAgriBusiness realiza em Portugal, ensaios de produção de variedades de cebola da empresa italiana Cora Seeds. Durante várias atividades de benchmarking com reuniões técnicas e visitas noutros países, tem sido sempre apontada uma conclusão como grande oportunidade para a viabilização da produção da cebola de DL em Portugal: “Por ser uma cultura hortícola de alta densidade, entre 500.000 e 900.000 plantas/ha, segundo o calibre comercial pretendido para o produto final, então a cebola tem de ser cultivada de forma similar à produção de cenoura, beterraba ou nabo”.

Esta é a condição para o sucesso na produção de cebola de DL, porque a produtividade pode crescer muito face à média em Portugal (35 t/ha).

A aposta na produção de cebolas de dias longos (DL) em Portugal é necessária para dar resposta à escassa produção atual face à procura existente e crescente.

Fundador F1 com resistência a Fusarium e a raiz rosada, colhida para palotes

Fundador F1 com resistência a Fusarium e a raiz rosada, colhida para palotes.

O que tem de ser posto em prática para se produzir cebola de forma economicamente viável?

Algumas sugestões:

  • Pesquisa de mercado para identificar parcerias comerciais para o escoamento da produção;
  • Planeamento sobre a possível integração da cebola na rotação de culturas praticada na exploração;
  • Aquisição de conhecimento sobre a cultura da cebola: em termos de solos (textura, pH, salinidade, plano fertilização, etc.), exigências em rega, principais inimigos (pragas e doenças), etc.;
  • Identificação de parcelas com aptidão para o cultivo da cebola e dar especial atenção às principais infestantes que competirão com a cultura nos seus primeiros estádios de desenvolvimento, até cerca de 40 a 50 dias após a sementeira, em que as plantas de cebola têm um desenvolvimento lento, até terminarem a “fase de gancho” em que o cotilédone aparece curvado à superfície do solo e entrarem na fase de 3-4 folhas verdadeiras;
  • Definir a estratégia de luta para os diferentes inimigos da cultura, incluindo as infestantes, em que segundo a situação, poderá ter de optar por falsas sementeiras, monda térmica, desinfeção do solo e recorrer aos herbicidas autorizados (consultar em Sifito - DGAV). O controlo químico de infestantes é de facto, uma das operações mais críticas, porque exige uma boa oportunidade para realizar a intervenção nas melhores condições (por exemplo, o solo deve ter a humidade adequada), utilizar minidoses de alguns herbicidas em pré e em pós-emergência, com aplicação de doses crescentes semanalmente, observando-se quais as infestantes presentes;
  • Escolha de variedades com boas características em termos de: ciclo, vigor, forma e consistência do bolbo, formação de várias túnicas a proteger o bolbo e que permitam a colheita mecânica sem se descascarem, tolerância a stress hídrico ou térmico que favorecem os bolbos múltiplos, resistência a doenças (ex., Fusarium, raiz rosada, etc.) e a pragas (ex., tripes), aptidão para armazenagem em palotes ou a granel em pilha, com boa aceitação no mercado (fresco ou indústria).

Com a decisão de avançar para o cultivo, lembre-se sempre que é necessário um acompanhamento e monitorização permanente da cultura e muito rigor na realização das operações nas datas adequadas, sem atrasos (sementeira, rega, fertilização, proteção da cultura, etc.).

Bibliografia

Saiba mais em: www.adv-agri.com

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