Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

Pequenos frutos: "potencial de crescimento ainda é muito grande"

Emília Freire05/04/2021

A produção de pequenos frutos em Portugal é uma história de sucesso e o especialista Pedro Brás de Oliveira, que trabalha no setor há mais de 30 anos, assegura que continua a haver potencial de crescimento. Ainda na framboesa, a campeã que, sozinha, vale 23% das exportações nacionais de frutas, em valor, mas principalmente na amora e no mirtilo, que poderão ser a próximas ‘estrelas'.

As exportações de pequenos frutos voltaram a bater recordes em 2020, atingindo 247 milhões de euros e 39,3 mil toneladas, com as vendas da fileira ao exterior a crescerem em valor (+5,5%) e em quantidade (+2%). Os pequenos frutos mantêm-se, assim, os líderes das exportações agrícolas nacionais, sendo os produtos do setor das frutas e legumes mais vendidos para fora de Portugal. Desde 2015, as vendas ao exterior praticamente triplicaram.

Num ano em que as exportações nacionais caíram acima de 10%, devido à pandemia de Covid-19, a fileira agroalimentar, no geral, e o setor dos pequenos frutos, em particular, assumem-se como a exceção neste panorama de profunda retração.

Os pequenos frutos continuam a ter potencial de crescimento, ainda na framboesa, mas principalmente na amora e no mirtilo...

Os pequenos frutos continuam a ter potencial de crescimento, ainda na framboesa, mas principalmente na amora e no mirtilo. Foto: Couleur, Pixabay

Pedro Brás de Oliveira, investigador do INIAV, dedicado aos pequenos frutos há mais de 30 anos, diz à Agriterra que “em 1990, quando quase ninguém falava de pequenos frutos, havia apenas 80ha, no total, excetuando o morango, claro, que somava cerca de 1.000”.

A partir daí a evolução foi brutal. Mas, a situação inverteu-se e a área de morango diminuiu bastante (pouco mais de 300 hectares) e o mirtilo, por exemplo, já deve ocupar perto de 2.000 hectares. (Ver Quadro 1)

Para isso, contribuíram vários fatores, sendo um dos principais a entrada da gigante Driscoll’s em Portugal, que fez toda a diferença. Mas também há exemplos de empresas portuguesas que produzem há muitos anos e com grande sucesso.

“A maior área cabe ao mirtilo, mas ainda é uma cultura recente e as plantações demoram muito a entrar em velocidade de cruzeiro, mas na framboesa a produção por hectare é bastante mais elevada”, lembra o especialista.

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A 'estrela da companhia' é a framboesa, representando cerca de 23% das exportações nacionais de frutas (793 milhões de euros em 2020), ultrapassando, por exemplo, os citrinos, que somaram 178,7 milhões.

Pedro Brás Oliveira considera que “o sucesso da framboesa é um sucesso tecnológico, porque temos uma das produtividades mais elevadas da Europa, só superada pelos holandeses e belgas, que têm a tecnologia de cultura protegida muito mais desenvolvida que nós”.

Estamos a falar de produção em túnel, que é onde se consegue obter a melhor qualidade visual, exigida para exportação.

“No âmbito do plano ‘Terra Futura’ a Herdade Experimental da Fataca, em Odemira, do INIAV, está a ser transformada em polo de inovação para os Pequenos Frutos”, Pedro Brás de Oliveira

Morango é pouco rentável

Questionado sobre o porquê do desinvestimento no morango, o investigador é perentório: “Porque não dá dinheiro”. E adianta: “o mercado de primavera é dominado pela Espanha. Deste lado da Europa, porque do lado de lá é a Turquia”.

Pedro Brás de Oliveira salienta que “a aposta deverá ser no morango de inverno, que é quando os espanhóis têm mais dificuldades, ou então de verão, com produção de ar livre, que Espanha também não tem muitas condições, como estão a fazer as Frutas Classe, por exemplo, apostando em variedades de alto valor, para exportação”. Até porque, frisa: “o rendimento do produtor fora de época é sempre superior ao que consegue na época… por exemplo, também não fazemos framboesa na época, porque toda a Europa está a produzir”.

No caso do mirtilo, a grande área de produção é ao ar livre, no norte do País, mas no litoral alentejano segue-se o exemplo da framboesa, sendo produzido em túnel. Já a groselha continua a ser um nicho de mercado.

Pedro Brás de Oliveira considera que "quando houver a amora certa, que o consumidor aprecie, a amora tem tudo para crescer" Foto...

Pedro Brás de Oliveira considera que "quando houver a amora certa, que o consumidor aprecie, a amora tem tudo para crescer" Foto: Gábor Adonyi, Pixabay

A amora é uma cultura que tem progredido muito lentamente porque “tem uma pós-colheita muito difícil e a produtividade é muito inferior à framboesa”. Contudo, o especialista adianta: “existiam poucas variedades de amora, mas agora começam a surgir algumas muito boas, por isso há mais gente a apostar e, segundo dizem os ‘gurus’, o futuro vai ser na amora. E faz sentido: quando houver a amora certa, que o consumidor aprecie, a amora tem tudo para crescer porque o mercado da framboesa é enorme e ela tem um mercado paralelo à framboesa”.

Até já há sinais, porque “os mercados mais maduros, em termos de pequenos frutos, como o Reino Unido e os Estados Unidos estão já a aumentar muito o consumo de amora. Começam a aparecer variedades boas e, por exemplo, a Driscoll’s está a apostar na amora”, avança Pedro Brás de Oliveira.

“O sucesso da framboesa é um sucesso tecnológico, porque temos uma das produtividades mais elevadas da Europa, só superada pelos holandeses e belgas, que têm a tecnologia de cultura protegida muito mais desenvolvida que nós”, Pedro Brás Oliveira

“85% da nossa produção é framboesa e continua a haver mercado para crescer...

“85% da nossa produção é framboesa e continua a haver mercado para crescer: estamos a falar de um mercado que vale 10 mil milhões de euros na Europa”, diz Luís Pinheiro, da Lusomorango. Foto: Ulrike Leone, Pixabay

Framboesa aposta no sistema ‘long-cane’

Falando agora de inovações, em relação à framboesa, o investigador do INIAV afirma que “a tendência está a ser para produzir framboesa em lançamento de segundo ano tratado pelo frio, ou seja, no chamado sistema ‘long-cane’, porque a fase vegetativa já vem feita, por isso o produtor só faz a fase produtiva”, sendo que as plantas são importadas, maioritariamente, de viveiros holandeses.

Este sistema tem também a vantagem de se poder fazer a plantação “quando bem entender, e assim, permitir ao produtor fazer ele próprio o escalonamento da sua produção”.

Por isso, há um negócio novo que é a produção destas plantas, diz o especialista, assim, “para saber se Portugal tem condições para produzir estas plantas com a mesma qualidade que a Holanda o INIAV teve um projeto, em parceria com a First Fruit, onde fez vários ensaios: na Holanda, em Odemira e em Santo Tirso e comparámos as plantas umas com as outras”.

E as conclusões mostram que “a zona do Minho tem condições para produzir estas plantas com muita qualidade”, assegura, adiantando que “a First Fruit já o está a fazer”.

Pedro Brás de Oliveira lembra também que “no âmbito do plano ‘Terra Futura’, a Herdade Experimental da Fataca, em Odemira, do INIAV, está a ser transformada em Pólo de Inovação para os Pequenos Frutos” e já há projetos a andar: “temos um protocolo com a BeiraBaga para o melhoramento da framboesa, outro com a Berry Smart para viveiro de mirtilos, que vai fazer uma unidade de cultura de tecidos, e estamos também a assinar outro protocolo para melhoramento de amora”.

A exigência tecnológica na cultura dos pequenos frutos é cada vez maior, alerta o investigador, dando o exemplo da framboesa: “As produtividades são muito altas e só se é competitivo com produtividades muito altas. Para isso, o produtor tem de ter um apuro tecnológico muito elevado”, acrescentando que, “por exemplo, na produção em ‘long-cane’ um bom produtor já não aceita menos que 20 ton/ha na primeira produção e o objetivo é fazer duas produções por ano”.

“Portugal tem grande potencial para a produção de mirtilo”, defende Francisco Matos Silva, da Bagas de Portugal e AGIM Foto...

“Portugal tem grande potencial para a produção de mirtilo”, defende Francisco Matos Silva, da Bagas de Portugal e AGIM Foto: Comfreak, Pixabay

Falando agora um pouco de mirtilo, o especialista garante que “Portugal tem boas condições para produzir mirtilo ao ar livre” e refere que “maio e junho, até já são considerados os ‘meses de Portugal’ no mercado europeu porque Espanha e Marrocos já não têm e o norte da Europa ainda não tem”. E há ainda outra janela de mercado no outono: outubro/novembro.

Precisamente para tentar aproveitar a alta de preço desta janela de mercado, o INIAV esteve a fazer ensaios com redes de várias cores e espectros para “atrasar a produção do mirtilo, para chegar a essa altura”.

Produção aposta na qualidade

Para perceber como vão as coisas no campo, a Agriterra falou também com duas Organizações de Produtores (OP) de dimensões e zonas diferentes: a Lusomorango, que é a maior OP nacional de frutas e legumes, em volume de negócios, e tem produção no litoral alentejano, Algarve e Almeirim; e com a Bagas de Portugal, uma cooperativa da zona de Sever do Vouga, ligada à Associação para os Pequenos Frutos e Inovação Empresarial (AGIM).

Francisco Matos Silva, da direção da Bagas de Portugal e da AGIM, frisa que “Portugal tem grande potencial para a produção de mirtilo”, mas alerta que “é uma cultura que dá muito trabalho na apanha, poda e fertilização, onde tudo tem, cada vez mais, de ser muito bem planeado, tendo em conta a descida do preço”.

O responsável refere a dificuldade de produção de muitos dos associados porque “na grande maioria não são agricultores profissionais, fazem a cultura do mirtilo como rendimento extra, além de estarmos a falar sempre de pequenas propriedades”.

A cooperativa nesta campanha comercializou cerca de 70 toneladas de pequenos frutos (85% mirtilo), mas também goji e physalis.

Por seu lado, Luís Pinheiro, presidente do conselho de administração da ‘gigante’ Lusomorango – que conta com 41 associados e regista um volume de negócios superior a 65 milhões de euros, exportando mais de 95% da sua produção – diz-nos que “85% da nossa produção é framboesa e continua a haver mercado para crescer: estamos a falar de um mercado que vale 10 mil milhões de euros na Europa, onde há mais de 400 milhões de consumidores e as estimativas apontam que até 2025 o mercado europeu da framboesa irá crescer cerca de 10% ao ano”.

O dirigente sublinha que os pequenos frutos são uma cultura altamente adaptada a Portugal e em constante modernização que, pelas suas caraterísticas organoléticas, são especialmente apreciados nos mercados europeus mais exigentes, sobretudo, da Europa central e do norte.

As apostas da Lusomorango vão então para: ainda a framboesa, mas também para a amora: “é um mercado com grande atratividade para o futuro, que nos últimos cinco anos tem estado sempre a crescer”.

Quanto ao mirtilo, Luís Pinheiro diz que “é uma cultura muito diferente, onde a flexibilidade é mais difícil de obter, que tem uma dimensão global e onde Portugal não tem escala”. Todavia, salienta que “a mecanização pode ser relevante”, referindo que já há experiências nos EUA.

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