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“A luz é o fator de produção mais barato”

Emília Freire23/03/2021
A poda é uma operação cultural imprescindível para a formação e renovação da planta e otimização da produção. Nas fruteiras a poda tem vários objetivos: equilibrar os gomos florais e os foliares, mas também deixar entrar a luz e arejar a copa. “A luz é o fator de produção mais barato a que, por vezes, não se dá valor”, alerta Rui Maia de Sousa, coordenador do Pólo de Alcobaça do INIAV.

Neste artigo vamos falar da poda de algumas das principais fruteiras nacionais – Pomóideas (pereiras e macieiras), Prunóideas (pessegueiros e cerejeiras), citrinos e videiras (uva de mesa). Para isso, a Agriterra falou com investigadores e técnicos que trabalham nesta área para sabermos quais as técnicas de poda mais recentes.

Começando pelos objetivos da poda, já sabemos que a melhoria da qualidade, calibre e produtividade são sempre as metas latentes em todas as operações culturais mas, no caso da poda, vamos perceber a intenção específica de cada ação.

“A luz é o fator de produção mais barato a que, por vezes, não se dá valor”, lembra o coordenador da ex-Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade, Pólo de Alcobaça do INIAV.

“É importante referir porque é que podamos as árvores. Não o fazemos só para que fiquem bonitas e alinhadas… Podamos as árvores porque queremos que o pomar seja competitivo, seja produtivo e tenha uma vida económica maior. Para isso, temos de limpar madeira, de manter o equilíbrio”, frisa Rui Maia de Sousa, alertando: “É bom também que quem vai podar saiba distinguir o que é um gomo foliar e um gomo floral”, salienta o investigador.

"Podamos as árvores porque queremos que o pomar seja competitivo, seja produtivo e tenha uma vida económica maior. Para isso, temos de limpar madeira, de manter o equilíbrio”, Rui Maia de Sousa

Gomos de Pereira 'Rocha': à esquerda - Gomo foliar (olho); à direita - Gomo Floral (Botão)

Gomos de Pereira 'Rocha': à esquerda - Gomo foliar (olho); à direita - Gomo Floral (Botão)

O calibre é muito importante

A questão do calibre é muito importante, porque o consumidor prefere frutos maiores, por isso, o produtor tem de ter isso em conta. Embora o especialista frise que “os frutos maiores têm menos sabor, porque o conteúdo das células está mais diluído com água, têm menos dureza e conservam-se pior, para além de outros inconvenientes”.

Apesar de as pereiras e as macieiras serem ambas Pomóideas, têm um comportamento muito distinto, alerta, salientando: “as pereiras são mais rebeldes a produzir, custam mais a vingar os frutos e a formar gomos florais, enquanto as macieiras são mais dóceis, produzem sempre mais”. Pelo que, “em termos de poda, temos de ter um tipo de atuação completamente diferente. Queremos que as macieiras cresçam, por isso temos de tirar ramos na base para ela subir e na pereira é precisamente o contrário, temos de tirar ramos no topo para que ela cresça na parte mais baixa”, explica Rui Maia de Sousa.

A poda pretende então regular o número de gomos florais e gomos foliares que ficam, sendo que “na pereira, em geral, temos de deixar um pouco mais de ramos, mais gomos florais”.

O sistema de condução escolhido para o pomar também determina o tipo de poda. “O sistema de eixo central revestido [mais utilizado hoje em dia] permite ter cerca de 2.000 árvores por hectare, e compassos de 4 m x 1-1,5m, enquanto há 20 anos tínhamos 500 a 600 árvores e compassos da ordem de 6m x 3 m”. Neste sistema as árvores são muito mais estreitas, “permitindo ter muito mais luz e um maior controlo em termos de pragas e doenças, porque são mais arejadas, têm menos humidade no interior”.

“A poda faz toda a diferença”

Miguel Leão, também investigador do Pólo de Alcobaça do INIAV, com diversos projetos a decorrer focados na produção de Pomóideas em alta densidade, salienta que “o mercado é que vai determinando muitas das alterações nos sistemas de produção”. Falando, por exemplo dos calibres “neste momento, já não faz sentido orientar os pomares para a produção de calibres pequenos porque não pagam sequer o seu próprio custo de produção, e porque não há margem para ineficiências, toda a produção tem de ser adaptada ao que o mercado exige e valoriza mais”.

E no caso das macieiras “já não basta só termos os frutos grandes e com alto brix, no caso das variedades vermelhas, também têm de ter níveis muito elevados de coloração, se assim não for, não têm a mesma valorização”. Por isso, “já sabemos à partida que, para termos aquele perfil de calibres à colheita, temos de trabalhar com um intervalo muito restrito de frutos por árvore, ajustando-o logo no início. E depois, garantir o melhor microclima luminoso para potenciar a coloração e as características organoléticas dos frutos”.

A maior parte dos pomares são conduzidos em eixo central revestido todavia, mesmo assim, ainda tem os seus problemas. Por isso, Miguel Leão sublinha que “a poda faz toda a diferença, não só para manter a forma da árvore, mas igualmente para garantirmos que a árvore tem o número certo e os melhores gomos florais, que proporcionem a melhor localização, iluminação e qualidade aos frutos”.

Com a poda, acrescenta o investigador, “estamos constantemente a substituir e a estimular a produção de novos ramos, com a produção assim a surgir sempre em órgãos de frutificação novos, com melhor desempenho fisiológico”.

“Estamos constantemente a substituir e a estimular a produção de novos ramos, com a produção assim a surgir sempre em órgãos de frutificação novos...

“Estamos constantemente a substituir e a estimular a produção de novos ramos, com a produção assim a surgir sempre em órgãos de frutificação novos, com melhor desempenho fisiológico”, diz Miguel Leão

“Obter frutos de maior calibre"

Falando agora de Prunóideas, Maria Paula Simões, professora da Escola Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco, explica que “o pessegueiro e a cerejeira são ambas do mesmo género e, embora com caraterísticas distintas, também têm muitas coisas em comum”

A professora conta à Agriterra que “em termos de formas de condução não tem havido grande evolução, tem havido, sim, uma melhor gestão das cultivares e uma renovação dos pomares. A maior parte dos produtores todos os anos planta pomares novos na procura de cultivares melhoradas, que produzam frutos de elevada qualidade”.

Na comercialização “o calibre é determinante, por isso, a poda tem por objetivo, antes de mais, obter frutos de maior calibre. A poda faz, assim, um equilíbrio entre vigor e produção, sem esquecer a luz, a altura e volumetria da planta de forma a sermos capazes de realizar todas as outras técnicas culturais”.

“No caso do pessegueiro, além da poda de inverno, a poda em verde é fundamental porque é uma árvore que cresce muito e é preciso uma poda bastante violenta, que gera muita lenha”, adianta.

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Citrinos: ideal seria podar de dois em dois anos

Descemos agora mais para sul, onde Amílcar Duarte, professor da Universidade do Algarve, tem em curso o projeto PodaCitrus (financiado pela União Europeia), que decorre até ao final do ano, em parceria com a Frusoal, com ensaios de vários tipos de poda, para analisar os efeitos ao nível da epiderme dos frutos “porque com algumas alterações de tratamentos fitossanitários e de podas tinham começado a surgir alguns problemas epidérmicos nos frutos”.

Amílcar Duarte conta que a pandemia atrapalhou um pouco os objetivos mas refere que “fizemos algumas podas de rejuvenescimento, mas temos estado a ensaiar algumas formas de condução, tentar abrir mais a árvores, fazer mais um vaso, que habitualmente não se faz nos citrinos”.

O professor salienta que “a poda nos citrinos é mais complicada que noutras fruteiras que têm sistemas de condução bem definidos. Nos citrinos há produtores que não podam quase nada, há outros que podam um bocado mais, é mais uma operação que controla a qualidade do fruto e também algumas pragas e doenças, mas não é uma operação essencial que se possa dizer: ‘se não fizermos isto não produzimos’”.

Para Amílcar Duarte “o ideal seria podar, pelo menos, de dois em dois anos para abrir janelas e a copa”. O limoeiro tem uma rebentação mais vigorosa e lançamentos maiores, por isso “dá para fazer uma poda mais orientada para uma determinada forma, para condicionar mais a forma da planta, no caso dos restantes citrinos não tanto, porque as rebentações são mais curtas”.

Resposta de um ramo horizontal a um atarraque

Resposta de um ramo horizontal a um atarraque.

“Poda varia de variedade para variedade”

No caso da uva de mesa, falámos com o diretor executivo e responsável de produção da Frutalmente (marca Dona Uva). Mário Rodrigues explica-nos que os produtores da Organização têm “dois sistemas de condução: em cordão bilateral, nas vinhas mais antigas e em ‘Y’ nas vinhas aéreas”.

O responsável conta que “a poda varia de variedade para variedade. Há variedades que se dão bem em talão, com cortes onde se deixam três ou quatro gemas, que são os gomos que vão dar o fruto. E há variedades que se dão bem em podas à vara, curtas, médias ou longas, dependendo da zona onde é mais produtiva”.

Por exemplo, “na variedade Crimson (uva rosada sem grainha), deixamos de oito a dez varas, cada uma com 12 a 14 gemas, porque é uma variedade pouco produtiva, por isso temos de deixar muitos gomos de frutificação para compensar a baixa produtividade”.

No caso das variedades Vitória ou Red Globe já podem ficar só com metade da carga de lenha porque todos os gomos são férteis. “Se deixarmos uma videira com muita carga, vamos ter uvas com calibres menores, cachos mais pequenos, porque a cepa tem muitos ‘filhos’ para alimentar”.

Mário Rodrigues salienta que “todas as variedades da videira produzem à vara”, mas, adianta: “como temos algumas onde os gomos mais férteis são no terço inferior, para poupar um pouco a mão-de-obra da poda, conseguimos fazer com que elas produzam muito bem em talão, mas são raras. Das oito a dez variedades que temos só há duas que produzem bem em talão: Cardinal e Alphonse Lavallée”.

Época e finalidade da Poda*

--> Poda de inverno ou poda em seco – para estimular a formação de madeira e aumentar o vigor da árvore;

--> Poda de verão ou poda em verde – para estimular a formação de órgãos de frutificação, reduzir o vigor e ‘travar’ em altura a árvore.

*em Pomóideas e Prunóideas

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