Joana Henriques, Eugénio Diogo, Helena Bragança
Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários e Florestais e Sanidade Vegetal, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.
16/03/2022Figura 1. Distribuição mundial dos fungos de quarentena para citrinos (adaptado de https://gd.eppo.int).
A citricultura constitui um importante setor da agricultura portuguesa. Acompanhando o aumento da produção e o reconhecimento da qualidade da laranja nacional em mercados externos, o nível das exportações tem vindo a aumentar nos últimos anos. No entanto, também as importações apresentam um acréscimo, sendo, no geral dos citrinos, superiores às exportações, sobretudo com origem na África do Sul, seguido de Espanha e países da América do Sul.
A importação de material vegetal, frutos incluídos, acarreta um risco de entrada de agentes causadores de novas doenças o que poderá causar avultados danos e perdas económicas, principalmente no caso de organismos de quarentena. A UE e a Organização Europeia para a Proteção das Plantas (OEPP) elaboram regularmente listas de organismos a controlar, estando em vigor o Regulamento de Execução (UE) 2019/2072 da Comissão. A entrada de material vegetal nos países da UE está sujeita inspeções nos Postos de Controlo Fronteiriços incluindo a verificação dos certificados fitossanitários emitidos nos países de origem e o controlo visual de produtos. Se necessário, aquando da observação de sintomas são enviadas amostras para análise no Laboratório Nacional de Referência, INIAV, IP.
Phyllosticta citricarpa (ex. Guignardia citricarpa) provoca a doença da mancha negra dos citrinos que causa severas perdas de qualidade e produtividade pela redução do valor comercial e queda prematura de frutos. Está elencada na lista das 20 pragas prioritárias cujo potencial impacto económico, ambiental ou social é considerado de maior gravidade para a UE (regulamento delegado (EU) 2019/1702). Afeta todos os citrinos produzidos comercialmente, à exceção da laranja-azeda e lima-do-Taiti. Ocorre nas regiões subtropicais húmidas na África, Austrália, Sudeste Asiático, América do Sul e Central (Fig. 1). Em 2017 foi reportado na Europa, em Portugal, Malta e Itália, porém nenhum caso foi confirmado pelas autoridades fitossanitárias.
Três fungos do género Elsinoë provocam doenças na generalidade dos citrinos (E. australis, E. citricola e E. fawcettii) vulgarmente chamadas por verrugose ou sarna-dos-citrinos, causando perdas de rendimento e qualidade. Os principais hospedeiros de E. fawcettii são laranja-amarga, toranja, limão, tangerina e algumas cultivares de laranja. O fungo pode infetar frutos, folhas e caules e está amplamente distribuído por países da América Central e do Sul, África, Asia e Oceânia (Fig. 1). Elsinoë australis infeta principalmente laranja, apenas os frutos, e está restrito a poucos países: sul dos EUA, na América do Sul, Oceânia e Ásia (Fig. 1). Elsinoë citricola foi recentemente identificado no Brasil, muito semelhante a E. fawcettii, o seu estudo tem sido limitado pelo pouco material descrito.
Os frutos são infetados nos estágios iniciais de desenvolvimento, podendo ocorrer crescimento deformado e queda prematura. Na casca dos frutos maduros, formam-se lesões salientes com forma, tamanho e cor diferentes de acordo com a espécie e cultivar. Formam-se protuberâncias dispersas que podem coalescer em manchas escamosas ou extensas áreas de erupções finas que não se estendem para o interior do fruto. As pústulas de E. australis são maiores, mais lisas e circulares do que as de E. fawcettii, que são tipicamente irregulares, verrucosas e fissuradas (Fig. 2 d-g). A dispersão fungo ocorre pela disseminação dos esporos formados nas superfícies das pústulas, através de gotas de água (chuva, rega) e vento. Esta doença é comum em condições quentes e húmidas (subtrópicos húmidos e trópicos mais amenos), sendo também favorecida por pomares densos e sombreados.
Pseudocercospora angolensis provoca a cercosporiose dos citrinos em várias espécies sendo laranja, tangerina e toranja os principais hospedeiros. Os frutos infetados perdem o valor comercial e ataques severos podem provocar desfoliação intensa. O fungo está disperso por vários países de África (Fig. 1).
Este fungo pode afetar folhas, frutos e raramente caules. Nas folhas os sintomas aparecem principalmente na página inferior, inicialmente formam-se manchas amarela-esverdeadas que com a maturação aumentam de tamanho (4–10 mm) e escurecem ficando com a margem castanha e um halo amarelo, o centro da lesão pode secar e cair deixando um buraco. Durante o tempo húmido, as lesões tornam-se pretas. Em frutos jovens, formam-se lesões necróticas circulares ligeiramente afundadas com um anel elevado, dando ao fruto uma aparência empolada e eventual queda prematura do fruto. (Fig. 2 h – k).
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