Um dos focos da nova Política Agrícola Comum (PAC) é a sustentabilidade da produção e “a produção animal é muito importante para a sustentabilidade dos territórios, sendo que mais de 50% da Superfície Agrícola Útil (SAU) nacional são pastagens pobres quase a roçar o abandono”, refere Luís Alcino Conceição, responsável pelo projeto ISOmap Forragem – Tecnologias Normalizadas na Produção de Forragens, liderado pelo Instituto Politécnico de Portalegre, e que decorre até agosto de 2022.
Por isso, adianta que “este projeto tem uma visão clara dos novos itinerários culturais na produção de culturas forrageiras e criando uma rede de informação e transferência de conhecimento através de sinergias entre a investigação, o ensino superior e o setor empresarial agropecuário”.
O projeto, que dá continuidade à linha de investigação e transferência de tecnologia iniciada com o projeto MechSmart Forages (http://mechsmartforages.ipportalegre.pt/), está a ser desenvolvido em parceria com o Instituto Nacional de Investigação Agrária de Veterinária (INIAV), com campos de ensaio na Herdade da Comenda, em Elvas, onde estivemos à conversa com Luís Alcino.
O professor do IPPortalegre – e também coordenador do Centro Nacional de Competências para a Inovação Tecnológica do Setor Agroflorestal (InovTechAgro) – explica-nos que com o projeto se pretende “contribuir para a melhoria da eficiência do uso de máquinas agrícolas com tecnologia assente na Norma ISO 11783 para aplicação a taxa variável de fatores de produção em itinerários técnicos de produção de forragens compatíveis com a gestão sustentável dos recursos naturais como o solo e a água”.
Para atingir estes objetivos específicos, a equipa de investigadores tem vindo a fazer demonstrações da utilização de máquinas para aplicação a taxa variável de produtos fitofarmacêuticos (herbicidas e fertilizantes); da criação de mapas de prescrição para aplicação de produtos a taxa variável; explicar e demonstrar os resultados obtidos por diferentes técnicas de deteção remota para o delineamento de zonas de maneio diferenciado e aplicação de produtos a taxa variável; bem como contribuir para o uso de novos itinerários culturais na produção de forragens conciliando técnicas de conservação do solo e da água com a aplicação a taxa variável de fatores e produção; e demonstrar a importância do uso de tráfego controlado na gestão de parcelas com a produção de forragens.
“Estes campos de ensaio na Herdade da Comenda não são mobilizados desde 2015, praticamos sementeira direta e fazemos avaliação do solo através do estudo da condutividade elétrica e estamos a estudar o custo/benefício entre a produção e a metodologia de aplicação a taxa variável”, salienta Luís Alcino.
Todas as máquinas têm o sistema ISObus para que todos os dados fiquem disponíveis e possam ser analisados, “queremos simplificar a componente instrumental, desenvolvendo uma metodologia de base que possa ser trabalhada em conjunto com a componente agronómica, adaptando às condições de cada solo e do clima a cada momento”.
Para cumprir o objetivo de “facilitação instrumental do uso da tecnologia utilizada no projeto”, e aproveitando as tecnologias digitais de que dispomos, o projeto ISOmap tem já um canal no YouTube que os agricultores podem consultar, com vídeos simples e demonstrativos, como podem usar os equipamentos e fazer as várias camadas de um mapa de prescrição.
Devido ao sistema ISObus (uma linguagem de comunicação entre o trator e a alfaia), todas as instruções que queremos dar à máquina que temos ligada ao trator – pulverizador, distribuidor de adubo, etc. – podemos fazê-lo a partir da cabine do trator, onde também recebemos todos os dados da tarefa em tempo real, permitindo fazer os ajustes necessários a cada momento, explica o responsável do projeto.
Por exemplo, no nosso trator de demonstração, existem dois ecrãs, sendo um para as funções do trator e o outro dedicado às funções de agricultura de precisão – “onde temos toda a informação que vem da máquina operadora, é também aqui que carregamos toda a informação de cartografia digital e é daqui que seguem para a máquina as instruções previstas nessa cartografia”, descreve, adiantando que “ao possuir este protocolo de comunicação equipamento o agricultor possa depois adquirir e utilizar uma alfaia de qualquer fabricante independentemente da marca do trator".
Luís Alcino acrescenta ainda que “mesmo que o agricultor tenha um trator mais antigo, pode optar por comprar uma linha ISObus dedicada e ligá-la ao sistema de autoguiamento do trator e passando a ter as funcionalidades de origem de um sistema ISOBUS".
“Devido ao sistema ISObus, todas as instruções que queremos dar à máquina que temos ligada ao trator – pulverizador, distribuidor de adubo, etc. – podemos fazê-lo a partir da cabine do trator, onde também recebemos todos os dados da máquina em tempo real, permitindo fazer os ajustes necessários a cada momento”
Como se pode ver nos tutoriais disponíveis no canal de Youtube do ISOmap Forragem, há possibilidade de se carregarem várias ‘camadas’ de informação no sistema, de forma a dar instruções o mais completas possível às alfaias.
Por exemplo, de acordo com a carta de NDVI da cultura (que se pode ir buscar à plataforma Sentinel), em conjunto com as informações da mesma parcela dadas pela condutividade elétrica do solo e da ceifeira na campanha anterior, tendo em conta o clima registado e previsto, o agricultor define então as doses de adubo (por exemplo) que quer aplicar em cada zona que o NDVI identifica.
Entre muitas outras informações e análises que podem ajudar o agricultor a decidir as quantidades de herbicida, adubo, etc. a aplicar, Luís Alcino refere que nos ensaios que estão a fazer na Comenda, para as várias parcelas e misturas forrageiras (três misturas com base em gramíneas e leguminosas – azevéns, triticale e trevos anuais), “a partir da condutividade elétrica do solo foi feita a avaliação física, química e biológica do solo (azoto, fósforo, potássio, matéria orgânica, etc.), à qual se juntam dados de deteção remota com origens em diferentes plataformas, nomeadamente a plataforma Sentinel e imagens áreas obtidas por voos de baixa altitude com um drone. Cruzamos esta informação com amostras georreferenciadas da forragem que temos no terreno e com dados de anos anteriores, porque temos o pivot no mesmo local do projeto MechSmart Forages que fizemos anteriormente, e ainda com imagens de matéria verde e seca, bem como com algumas avaliações bromatológicas, como teor de proteína bruta e de fibra”.
Nestes ensaios, de acordo com o ano meteorológico, a condução dos cortes da forragem é feita com a utilização dos animais, e ou com cortes mecânicos para fenossilagem e feno. Em regra, o restolho é sempre pastoreado de um ano para o outro.
Luís Alcino adianta que todos os resultados irão sendo atualizados no site e no canal de Youtube do projeto: https://isomapforragem.ipportalegre.pt/.
www.agriterra.pt
Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa