No mesmo olival, com a mesma idade, o troço onde foram aplicadas as soluções da Timac Agro produziu mais.
Sem agricultura não há alimentos. Sem agricultura a população mundial morre à fome. Mas a agricultura de hoje enfrenta vários desafios: alterações climáticas, população a crescer e os campos disponíveis para cultivo a diminuir. Basicamente hoje exige-se do mesmo hectare que produza muito mais do que há umas décadas. Mas serão os campos capazes disso?
Basta pensarmos que atualmente a população mundial ronda os 7,5 mil milhões de pessoas. No entanto, estudos indicam que, em 2050, esse número pode subir para os 10 mil milhões. Como é que conseguiremos alimentar todas essas pessoas, sabendo que as dificuldades que a agricultura enfrenta são cada vez mais prementes?
Em novembro de 2021, a Agriterra esteve em Saint-Malo, França, onde visitou o Centro Mundial de Inovação (CMI) da Timac Agro. Porquê? Porque lá os investigadores utilizam as algas da Bretanha que, pela particularidade da geografia, nomeadamente das marés, têm uma resistência ímpar, para criar todo um conjunto de suplementos capazes de ajudar as várias culturas a resistir às alterações climáticas e a potenciar a sua produção natural. Não se trata de mexer com a genética das plantas, mas sim de potenciar o que já lá está. Observar o processo da cultura e ajudá-la, principalmente nos momentos mais críticos, para que obtenha todos os nutrientes que necessita e não sofra stress hídrico, por exemplo.
As soluções foram apresentadas, oficialmente, no final do ano passado, mas vários produtores estão a testá-las há já algum tempo. A Quinta da Vila Chã foi uma delas, sendo que José Barroso este ano fez uma experiência curiosa: testou os produtos de três fornecedores diferentes. Os resultados, nomeadamente o aumento substancial na produção, foram suficientes para o convencer a avançar para todos os 50 hectares de olival e, inclusive, para os 45 hectares de vinha.
No mesmo olival, com a mesma idade, o troço onde foram aplicadas as soluções da Timac Agro produziu mais – “nas minhas contas foi cerca de 600 quilos por hectare a mais e, em termos de rendimento de gordura, deu mais 0,6%”. Ou seja, “deu mais produção e rendimento”.
Como explicou à Agriterra, José Barroso tem utilizado, no olival, soluções de nutrição via foliar porque os resultados são mais interessantes, mesmo ao nível do tempo despendido na preparação das caldas. Os suplementos sólidos levam imenso tempo e a eficácia nunca é tanta porque não conseguem ter uma solubilidade 100%, explica o engenheiro.
A solução escolhida (líquida) tem a vantagem não só de obrigar a um menor tempo de preparação como poder ser disseminada através da máquina, sendo pulverizada e absorvida pela planta via foliar.
Este tipo de solução tem de ser adaptado não só à cultura em causa e à sua localização, mas também ao seu estágio. “E ao momento da aplicação”, acrescenta José Barroso. Sendo que a Timac Agro dá apoio técnico desde o primeiro momento. Aliás, é através desse apoio que é configurada a solução, por forma a ser totalmente adaptada às necessidades nutricionais da cultura em causa, assim como o momento de aplicação. Os técnicos, depois de analisarem os resultados dos testes ao solo e à cultura, definem os suplementos a colocar para cada fase. O objetivo é ter a planta saudável e nutrida e não deixá-la esgotada num ano, explica José Barroso.
Normalmente tudo começa com uma análise de solo, explica Marco Morais, diretor-geral da Timac Agro. Com base nos resultados, é definida uma solução que satisfaça os parâmetros analisados. Os solos são analisados anualmente, refere José Barroso, e depois os resultados são partilhados com a Timac Agro para poder adaptar a solução, tendo, também em conta, as análises foliantes. Porque o que importante é perceber o estado nutritivo da cultura. Para perceber se a solução está a fazer efeito e, ao fim do primeiro mês perceber o potencial produtivo, explica José Barroso. Num ano em que a floração é fraca é preciso continuar a nutrir a planta, acrescenta. É fácil perceber que, depois de um ano em que a oliveira teve uma produção substancial vai estar nutricionalmente fraca. E que, por isso mesmo, necessita de um suplemento alimentar extra, por forma a fazer o seu ciclo de dormência vegetativa para que, quando rebentar, tenha mais energia. São abordagens que, há alguns anos, não eram sequer equacionadas, reflete José Barroso. Não nos devemos esquecer que o olival tem um ciclo plurianual, refere Marco Morais. O que obriga a um cuidado constante e contínuo.
José barroso explicou que optou por só ter variedades espanholas (arbequina, arbosana e duas outras que, por enquanto, só ainda têm um número de código) porque são variedades mais adaptadas para esta nova era. Em tempos teve oliveiras galegas mas desistiu porque a produção era menor quando comparada com as outras variedades.
José Barroso, da Quinta da Vila Chã.
A diferença das soluções apresentadas pela empresa francesa reside no facto de se basearem em produtos naturais. Diga-se algas e minerais. A ideia veio das algas da região, que demostraram resistir às questões do stress hídrico, vento, salinidade e variação de temperatura. Foi então que surgiu a ideia de tentar passar essa resistência para outras culturas. A questão resultou em mais de oito anos de investigação, 450 ensaios laboratoriais e 250 ensaios de campo em diferentes países - incluindo Portugal.
Não se trata de modificar o perfil genético das culturas. Aquando da visita ao centro de investigação houve o cuidado de passar essa mensagem. O que se pretende, explicou Sylvain Pluchon, diretor de produtos R&D do CMI, é nutrir a planta por forma a que esta tenha energia suficiente para produzir mais. Basicamente “aumentar a qualidade de produção, melhorar o solo e otimizar os recursos naturais”. Como? Através de algum chamado bioestimulante (ou suplementos nutricionais especializados, se preferirem) que, de uma forma simplista, consiste em dar compostos derivados de substâncias naturais que, quando aplicado à planta, vão-lhe dar uma maior proteção para o tão temido stress e, com isso, aumentar a sua produção. Com uma vantagem extra, explica por Jéssica da Costa, development director products and markets na Timac Agro Internacional, de que a planta, ao estar mais nutrida, necessita de menos fertilizantes. Embora reconheça que a empresa não faça essa medição e acrescente que não se pode confundir bioestimulação com fertilizante.
A utilização de produtos naturais (em detrimento dos químicos) é algo apreciado por José Barroso. É certo que, reconhece, que é um equilíbrio que não é fácil de alcançar, dado que a pressão para produzir é cada vez maior, dado o aumento da população. Por outro lado, os custos também aumentam, mas o mesmo não acontece com as receitas. O que significa que as margens ficam cada vez mais esmagadas. Em termos climatéricos a agricultura tem de conviver com cada vez menos água, mas sem esta não há agricultura, porque não conseguem produzir. É certo que os sistemas têm de evoluir e consegue-se regar com maior precisão, mas, em compensação, há cada vez mais regadio.
É por isso que ter as culturas devidamente nutridas e, com isso, conseguir ter uma maior e constante produção, é algo essencial. E se, ao fazê-lo, se consegue, simultaneamente, ajudar o meio ambiente... é um dois em um sempre bem-vindo.
Quinta da Vila Chã – Cartaxo
Produção: 50 hectares de olival / 45 hectares de vinha
Soluções utilizadas: Irys e Kaoris
www.agriterra.pt
Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa