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Revista Agriterra foi media partner do seminário

Morango em Portugal: é essencial apostar na cooperação empresarial, ganhar escala e dimensão

Ana Clara25/03/2022

A fileira do morango reuniu, em peso, a 18 de março no auditório do INIAV, em Oeiras. No encontro, os especialistas foram unânimes: o setor assume uma relevância importante no âmbito dos pequenos frutos e da agricultura, mas são muitos os desafios que temos pela frente: desde as alterações climáticas, à escassez e qualidade da água, passando pelo aumento do custo das matérias-primas e pela falta disponibilidade de mão-de-obra. Mas também é essencial “apostar numa forte cooperação empresarial, ganhar escala e dimensão, para construir uma fileira com valor”, salientou Gonçalo Santos Andrade, Presidente da Portugal Fresh. Uma coisa é certa: Portugal irá continuar a dar destaque ao morango, sendo que o evento volta a repetir-se em 2023, desta feita, na região do Algarve. A organização permanece a mesma: INIAV, COTHN e com o suporte da empresa agrícola Pontorizonte Agricultura Lda.

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De há muito que o morango é um fruto altamente apetecível (pelas suas qualidades organoléticas, estéticas, nutritivas e funcionais) para o consumidor português e com tradição na produção, porém, a cultura continua a ter uma expressão reduzida em Portugal.
O País não é autossuficiente e importa anualmente entre 16 a 20 mil toneladas. O seminário ‘Haverá fileira em Portugal?’ juntou, em Oeiras, a 18 de março, diversos atores intervenientes da fileira do morango (viveiristas, produtores, empresas de distribuição e de comercialização, técnicos, investigadores e demais agentes) para promover a discussão e análise do setor de modo a contribuir para a sua revitalização de forma ativa, sustentada, inovadora e competitiva. Ao todo, marcaram presença cerca de 120 pessoas.
Durante todo o dia debateram-se os vários desafios que a fileira enfrenta, face às alterações climáticas, à escassez e qualidade da água, ao profissionalismo dos viveiros e multiplicidade de tipos de plantas, ao aumento do custo das matérias-primas e à disponibilidade e qualidade da mão-de-obra. Uma das fragilidades apontadas foi a inexistência de variedades nacionais e de campos experimentais para as variedades obtidas no estrangeiro com vista à sua caraterização agronómica e facilitar a escolha do produtor. Para a rentabilidade do negócio, a aposta é produzir em alturas em que há menos fruta no mercado, quando esta é mais valorizada (outono - inverno e verão).
Uma das especialistas mais respeitadas em Portugal no que ao morango diz respeito é Maria da Graça Palha, investigadora do INIAV, que, na sua comunicação fez uma resenha histórica sobre a produção do fruto no País. A especialista abordou o estado da arte da fileira, uma análise setorial e o potencial da cultura em Portugal.
Europa, Ásia e América são os continentes, por excelência, da produção do morango, com países como a China, os EUA, o México, o Egito, a Turquia, Espanha, Coreia do Sul, Marrocos, Polónia e Rússia a liderarem a tabela cimeira. Em Portugal, regiões como o Algarve, o Oeste, o Ribatejo, Coimbra, Alentejo Litoral e Trás-os-Montes são as zonas com mais aptidão para a cultura. A cultura protegida é a predominante no Alentejo, localizada na sua maioria nos concelhos de Odemira e Santiago do Cacém. No Ribatejo e Oeste são mais comuns a cultura sob coberto e ao ar livre. No Algarve, a produção divide-se entre estufa e ar livre e concentra-se maioritariamente em Faro e Olhão.
Maria da Graça Palha lembrou que, em 2020, Portugal consumiu cerca de 34195 toneladas de morango, sendo que “o morango consumido é praticamente todo ele importado de Espanha”, em valores que rondam os 90 a 95%.
Quanto aos avanços tecnológicos, a nível mundial, destaque para o melhoramento, as ferramentas biotecnológicas, baseadas em marcadores moleculares. Com o melhoramento a registar um grande avanço, isso levou a que o número de variedades fosse aumentando exponencialmente. “Falamos de uma indústria que movimenta muitas plantas, e sobretudo nos países mais avançados na cultura, houve um desenvolvimento muito significativo na indústria de viveiros”, referiu.

A investigadora lembrou que, só na Europa, existem mais de 31 programas de melhoramento de cultivares produzidas, sendo que entre 1995 e 2018, foram patenteadas 5550 cultivares de morangueiro.

No melhoramento, os objetivos gerais passam pelo desenvolvimento de novas variedades com elevada adaptabilidade a diferentes meios ambientais (solo e clima) e sistemas de produção (ar livre, cultura protegida e cultura sem solo). “O melhoramento tem como principais objetivos a produtividade, a precocidade, a qualidade do fruto, a resistência/tolerância às doenças, a arquitetura da planta e a qualidade nutricional", relatou.

“O morango consumido é praticamente todo ele importado de Espanha”, em valores que rondam os 90 a 95%, disse Maria da Graça Palha...
“O morango consumido é praticamente todo ele importado de Espanha”, em valores que rondam os 90 a 95%, disse Maria da Graça Palha.

Indústria de viveiros

No que respeita à indústria de viveiros, Maria da Graça Palha referiu que “é uma atividade económica importante e com grande dinâmica, pois é necessário produzir milhões de plantas em cada época de produção”.

“É uma indústria altamente especializada, que requer tecnologias laboratoriais, tais como a cultura in vitro, técnicas para a qualidade fitossanitária, técnicas de armazenamento das plantas em câmaras frigoríficas por períodos longos, entre outros”, explicou.

Em matéria de técnicas de produção, destaque para a rega e fertilização, a proteção integrada e controlo biológico com redução de produtos químicos, iluminação artificial (LED), a redução do impacto dos fatores bióticos e abióticos (alterações climáticas), e por fim, a redução dos custos de mão-de-obra, com desenvolvimento de sistemas robóticos automatizados para colher o fruto de forma autónoma ou semi-autónoma.

Maria da Graça Palha destacou os principais desafios da cultura: as alterações climáticas, a escassez e a qualidade da água e a disponibilidade de mão-de-obra. A juntar a isto, há que ter em conta os custos de produção, cada vez mais elevados, os preços, com grandes instabilidades e flutuações, bem como a concorrência, nomeadamente de outros países com melhor organização da fileira.

Oportunidades e estratégias

Entre as estratégias futuras a ter em conta e apontadas por Maria da Graça Palha, destaque para o aumento da área e volume de produção do morango nacional, aumentar a competitividade da cultura (através da implementação de tecnologias sustentáveis), apostar na produção fora de época (outono-inverno e verão), diminuição dos custos de produção através do uso eficiente da água e nutrientes, controlo de pragas e doenças e mecanização de operações culturais.

Além disso, acrescentou, “é essencial promover o produto pela diferenciação, associado às qualidades nutricionais e potencialidades de saúde destes produtos”.

“No futuro, a tendência para a expansão da cultura continuará a acontecer com desenvolvimento de novas variedades resilientes às alterações climáticas e a pragas e doenças, com adaptabilidade a diferentes ambientes e com menor impacto ambiental e maior segurança e qualidade para o consumidor”, conclui a investigadora do INIAV.

Ao todo, marcaram presença no seminário do morango cerca de 120 pessoas
Ao todo, marcaram presença no seminário do morango cerca de 120 pessoas.

“É preciso rever a Estratégia do 'Prado ao Prato' e o Pacto Ecológico Europeu”

Gonçalo Santos Andrade, Presidente da PortugalFresh, abordou o tema do setor agroalimentar como motor económico do País e da União Europeia. “Os consumidores tiveram sempre acesso a produtos ótimos porque temos uma Política Agrícola Comum (PAC) forte”, começou por dizer.

Contudo, avisou que o setor “tem que comunicar cada vez mais de forma mais profissional. Basta pensarmos que baseamos a nossa produção no conhecimento e na inovação. E temos de construir uma comunicação assertiva para passar a mensagem correta para os consumidores”.

O responsável da PortugalFresh considerou também que a ambição da UE em ser líder mundial no combate às alterações climáticas, “é uma boa ambição mas temos de ser realistas, a estratégia do Pacto Ecológico Europeu e do ‘Prado ao Prato’ tem que ser completamente revista, o que precisamos neste momento é de alimentação para o mundo, tem que haver uma revisão grande desta estratégia”.

Além disso, Gonçalo Santos Andrade lembrou que é importante estar atento a outros mercados, nomeadamente, aos mais competitivos. “É essencial para inovar e estar a par do melhor que se faz noutros países. É importante conhecer os mercados e as novas tendências”, apelou.

Gonçalo Santos Andrade, da PortugalFresh, durante a sua comunicação
Gonçalo Santos Andrade, da PortugalFresh, durante a sua comunicação.

Organização da fileira

Gonçalo Santos Andrade deixou também um alerta para o futuro da fileira do morango em Portugal: “não podemos depender do mercado espanhol 72%, se queremos valorizar a nossa fruta. Temos excelentes parceiros em Espanha, mas se queremos valorizar produtos, principalmente a nível do morango, temos de fazer parcerias, nomeadamente com os países nórdicos, que muito valorizam o morango português”.

O responsável da Portugal Fresh não tem dúvidas de que “é fundamental apostar numa forte cooperação empresarial, ganhar escala e dimensão, para construir uma fileira com valor”. Do seu ponto de vista, resumiu, “temos ainda uma falta de estratégia a nível da produção” e, por isso, “é fundamental trabalhar na união e organização da fileira”.
Durante o seminário, teve ainda lugar vários painéis de discussão, nomeadamente, um dedicado ao setor viveirista e uma mesa redonda que debateu a inovação e competitividade à escala nacional e global, e que contou com os testemunhos de várias empresas do setor.
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Todos os presentes foram unânimes quanto à importância da fileira do morango em Portugal, tendo ficado decidido que estes encontros se devem repetir. Assim, o próximo seminário terá lugar na região do Algarve, em 2023, com a colaboração do INIAV e do COTHN e com o suporte da empresa agrícola Pontorizonte Agricultura Lda.

O morango em Portugal

Em Portugal, a cultura do morango ocupa uma área de 323 hectares, com uma produção anual superior a 10.600 toneladas (INE, 2018).

As regiões com maior produção são o Algarve, o Ribatejo e Oeste e o Alentejo. No nosso País, o morango é produzido praticamente durante todo o ano, ocorrendo o período de maior oferta na primavera, de abril a junho, e o de média oferta de fevereiro a março e julho. A época outonal corresponde ao período de menor oferta (AGRO 556, 2007, INIAV).

Os frutos que não possuem qualidade ou calibre para a comercialização em fresco são canalizados para a indústria de transformação.

Apesar das exportações terem vindo a aumentar gradualmente (cerca 4000 toneladas em 2017 para 5000 em 2018) (INE, 2018), a balança comercial é deficitária sendo importadas mais de 19.000 toneladas de morangos e exportadas apenas cerca de 5.000 (INE, 2018). A Espanha, Holanda e Reino Unido são alguns países do norte da Europa onde o morango português tem boa aceitação, encabeçando o topo da lista das exportações nacionais (GPP, 2018).

Em Portugal, a cultura em hidroponia, técnica através da qual se cultivam os morangos sem necessidade de solo, tem aumentado nos últimos anos, já que permite boas produtividades, uniformidade dos frutos e redução do consumo de água e de nutrientes. Alguns dos maiores produtores têm vindo a proceder à substituição dos estufins por túneis altos, que possibilitam o trabalho com máquinas e tornam os tratamentos fitossanitários mais fáceis e seguros.

Devido a uma crescente procura, regista-se um aumento progressivo da produção de morango em Proteção Integrada e também em Agricultura Biológica.

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