Revista Agriterra foi media partner do seminário
A fileira do morango reuniu, em peso, a 18 de março no auditório do INIAV, em Oeiras. No encontro, os especialistas foram unânimes: o setor assume uma relevância importante no âmbito dos pequenos frutos e da agricultura, mas são muitos os desafios que temos pela frente: desde as alterações climáticas, à escassez e qualidade da água, passando pelo aumento do custo das matérias-primas e pela falta disponibilidade de mão-de-obra. Mas também é essencial “apostar numa forte cooperação empresarial, ganhar escala e dimensão, para construir uma fileira com valor”, salientou Gonçalo Santos Andrade, Presidente da Portugal Fresh. Uma coisa é certa: Portugal irá continuar a dar destaque ao morango, sendo que o evento volta a repetir-se em 2023, desta feita, na região do Algarve. A organização permanece a mesma: INIAV, COTHN e com o suporte da empresa agrícola Pontorizonte Agricultura Lda.
A investigadora lembrou que, só na Europa, existem mais de 31 programas de melhoramento de cultivares produzidas, sendo que entre 1995 e 2018, foram patenteadas 5550 cultivares de morangueiro.
No melhoramento, os objetivos gerais passam pelo desenvolvimento de novas variedades com elevada adaptabilidade a diferentes meios ambientais (solo e clima) e sistemas de produção (ar livre, cultura protegida e cultura sem solo). “O melhoramento tem como principais objetivos a produtividade, a precocidade, a qualidade do fruto, a resistência/tolerância às doenças, a arquitetura da planta e a qualidade nutricional", relatou.
No que respeita à indústria de viveiros, Maria da Graça Palha referiu que “é uma atividade económica importante e com grande dinâmica, pois é necessário produzir milhões de plantas em cada época de produção”.
“É uma indústria altamente especializada, que requer tecnologias laboratoriais, tais como a cultura in vitro, técnicas para a qualidade fitossanitária, técnicas de armazenamento das plantas em câmaras frigoríficas por períodos longos, entre outros”, explicou.
Em matéria de técnicas de produção, destaque para a rega e fertilização, a proteção integrada e controlo biológico com redução de produtos químicos, iluminação artificial (LED), a redução do impacto dos fatores bióticos e abióticos (alterações climáticas), e por fim, a redução dos custos de mão-de-obra, com desenvolvimento de sistemas robóticos automatizados para colher o fruto de forma autónoma ou semi-autónoma.
Entre as estratégias futuras a ter em conta e apontadas por Maria da Graça Palha, destaque para o aumento da área e volume de produção do morango nacional, aumentar a competitividade da cultura (através da implementação de tecnologias sustentáveis), apostar na produção fora de época (outono-inverno e verão), diminuição dos custos de produção através do uso eficiente da água e nutrientes, controlo de pragas e doenças e mecanização de operações culturais.
Além disso, acrescentou, “é essencial promover o produto pela diferenciação, associado às qualidades nutricionais e potencialidades de saúde destes produtos”.
“No futuro, a tendência para a expansão da cultura continuará a acontecer com desenvolvimento de novas variedades resilientes às alterações climáticas e a pragas e doenças, com adaptabilidade a diferentes ambientes e com menor impacto ambiental e maior segurança e qualidade para o consumidor”, conclui a investigadora do INIAV.
Gonçalo Santos Andrade, Presidente da PortugalFresh, abordou o tema do setor agroalimentar como motor económico do País e da União Europeia. “Os consumidores tiveram sempre acesso a produtos ótimos porque temos uma Política Agrícola Comum (PAC) forte”, começou por dizer.
Contudo, avisou que o setor “tem que comunicar cada vez mais de forma mais profissional. Basta pensarmos que baseamos a nossa produção no conhecimento e na inovação. E temos de construir uma comunicação assertiva para passar a mensagem correta para os consumidores”.
Além disso, Gonçalo Santos Andrade lembrou que é importante estar atento a outros mercados, nomeadamente, aos mais competitivos. “É essencial para inovar e estar a par do melhor que se faz noutros países. É importante conhecer os mercados e as novas tendências”, apelou.
Gonçalo Santos Andrade deixou também um alerta para o futuro da fileira do morango em Portugal: “não podemos depender do mercado espanhol 72%, se queremos valorizar a nossa fruta. Temos excelentes parceiros em Espanha, mas se queremos valorizar produtos, principalmente a nível do morango, temos de fazer parcerias, nomeadamente com os países nórdicos, que muito valorizam o morango português”.
Em Portugal, a cultura do morango ocupa uma área de 323 hectares, com uma produção anual superior a 10.600 toneladas (INE, 2018).
As regiões com maior produção são o Algarve, o Ribatejo e Oeste e o Alentejo. No nosso País, o morango é produzido praticamente durante todo o ano, ocorrendo o período de maior oferta na primavera, de abril a junho, e o de média oferta de fevereiro a março e julho. A época outonal corresponde ao período de menor oferta (AGRO 556, 2007, INIAV).
Os frutos que não possuem qualidade ou calibre para a comercialização em fresco são canalizados para a indústria de transformação.
Apesar das exportações terem vindo a aumentar gradualmente (cerca 4000 toneladas em 2017 para 5000 em 2018) (INE, 2018), a balança comercial é deficitária sendo importadas mais de 19.000 toneladas de morangos e exportadas apenas cerca de 5.000 (INE, 2018). A Espanha, Holanda e Reino Unido são alguns países do norte da Europa onde o morango português tem boa aceitação, encabeçando o topo da lista das exportações nacionais (GPP, 2018).
Em Portugal, a cultura em hidroponia, técnica através da qual se cultivam os morangos sem necessidade de solo, tem aumentado nos últimos anos, já que permite boas produtividades, uniformidade dos frutos e redução do consumo de água e de nutrientes. Alguns dos maiores produtores têm vindo a proceder à substituição dos estufins por túneis altos, que possibilitam o trabalho com máquinas e tornam os tratamentos fitossanitários mais fáceis e seguros.
Devido a uma crescente procura, regista-se um aumento progressivo da produção de morango em Proteção Integrada e também em Agricultura Biológica.
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