FNA23 revela vitalidade da agricultura portuguesa

Sustentabilidade e inovação tecnológica foram as tendências que marcaram a dinâmica da recente edição da Feira Nacional de Agricultura. Centenas de expositores afirmaram a vitalidade do setor agrícola com lançamentos e demonstrações de produtos e equipamentos. A Agriterra conversou com alguns e apresenta, nesta reportagem, o balanço do certame e as inovações do mercado.

Na entrada principal do recinto da 59ª Feira Nacional de Agricultura – 69ª Feira do Ribatejo a intervenção artística “Eggcident” confrontou milhares de visitantes com ovos estrelados gigantes que alertaram para a problemática das alterações climáticas, tornando o tema da FNA 2023, centrado no carismático ovo e na sua relevância para o setor agrícola e enquanto superalimento, numa questão também sustentável.

No rescaldo do evento realizado no CNEMA - Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas, em Santarém, entre os dias 3 e 11 de junho, a organização sublinhou que “a escolha do ovo como tema central da FNA foi um sucesso” entre expositores e visitantes, paralelamente ao destaque dado ao potencial deste e de outros superalimentos na produção nacional.

Constituindo “uma montra da atual dinâmica da agricultura portuguesa e uma afirmação das suas raízes ribatejanas”, o evento revelou as últimas novidades tecnológicas do mercado na Exposição de Maquinaria, que exibiu máquinas de grande e pequeno porte, tratores e alfaias para todo o tipo de culturas e utilizações; e na Exposição Institucional e de Equipamentos, onde várias organizações do sector deram a conhecer projetos de referência com preocupações ambientais no setor agrícola.

Em comunicado, o CNEMA sublinha que “a presença das principais marcas de máquinas e equipamentos atraiu visitantes de todos os pontos do país”, dinamizando muitos contactos e negócios. Nomeadamente com as empresas da região, que estiveram reunidas na Fersant – Feira Empresarial da Região de Santarém, evento paralelo à FNA23.

Na tradicional Exposição Agropecuária, as raças autóctones portuguesas estiveram bem representadas entre os cerca de 400 efetivos de raças bovinas e equinos (de coudelarias nacionais), caprinos, ovinos, suínos e galinhas em exibição nesta feira reconhecida como o maior certame agrícola nacional.

A vitalidade da agricultura ficou demonstrada nestas mostras, onde foi possível observar um setor inovador, sofisticado e cada vez mais tecnológico. Mas, como evidenciou o debate nas mais de trinta conferências e seminários realizados ao longo da feira, os desafios que o setor enfrenta são complexos. Isso mesmo ficou patente no Ciclo de Conferências “Conversas de Agricultura”, com destaque para as questões da sustentabilidade, e nos demais encontros empresariais, como a Conferência Global de Avicultura, o evento dedicado à aplicação do PEPAC em 2023 ou a 10ª Conferência de Jovens Agricultores, durante a qual foi lançado o 10°Concurso de Jovens Agricultores, e que contou com a participação do eurodeputado Nuno Melo, que a Agriterra entrevista nesta edição.

De acordo com Bruno M. Alves, diretor comercial do Espaço Mecânico o certame permitiu perceber “a dinâmica gerada por todos os operadores em oferecer soluções que respondam às exigências que o mercado exige, sejam elas soluções de rentabilidade funcional, económica ou financeira”. Contudo, “o contexto económico coloca desafios que promovem alguma expectativa relacionada com os apoios governamentais aos diversos sectores”, sublinha.

Em termos de público, “foi visível uma maior participação”. Com a expectativa de recolher informação relevante na FNA sobre as tendências do mercado e compreender quais são as necessidades e dificuldades dos seus clientes, de modo a “tomar decisões estratégicas sobre o rumo do mercado e do setor”, a empresa afirma que “a primeira parte dos objetivos estão alcançados”.

Outra meta foi, naturalmente, a recolha de potenciais contactos de empresas e projetos com interesse nos produtos e serviços que a Espaço Mecânico representa. Como explica Bruno Alves, “cumpre-nos agora tratar esta informação e traduzi-la em vantagens para concretização de negócios que possam ser profícuos para todas as partes”.

 Face à oportunidade de marcar, mais uma vez, presença neste evento nacional onde é visitada por pessoas de todo o país (regiões autónomas incluídas) e apresentar as suas gamas e novidades de equipamentos, a Kubota faz um balanço da FNA que ”só pode ser positivo”. Segundo Bruno Pignatelli, general manager da Tratores Ibéricos, que representa a marca Kubota em Portugal, “atingimos todos os objetivos propostos”, incluindo no que respeita à disponibilização do stand da empresa aos seus concessionários e colaboradores, para que comercializassem no local. Repetente de longa data no certame do CNEMA, a empresa reitera que “a maior crítica que fazemos, e desde há já muito tempo, é o facto de temporalmente [a FNA] ser muito alargada”.

Ainda assim, no que concerne os nove dias de eventos e debate dos grandes desafios do mercado, Bruno Pignatelli defende que “tudo o que for feito no sentido de dinamizar qualquer indústria que tenha a ver com agricultura só pode beneficiar o nosso sector”, detalhando que “tem sido boa ideia dar um tema a cada edição da FNA”.

Para a Atlas Agro Insurance MGA, a Feira Nacional da Agricultura “é, por excelência, um centro de dinamização agroalimentar - quer pelos temas prementes que atribui ao certame a cada ano que passa, quer pela atração de profissionais do setor para os seus stands, como expositores e visitantes”. Segundo Beatriz Caldeira, brand manager da ATLAS, nesta edição a empresa ficou a conhecer “o que de melhor se faz em Portugal do ponto de vista agropecuário” e assistiu à realização de diversas iniciativas sobre a atualidade do setor, contando com especialistas de diferentes áreas.

Esclarecendo que para a Atlas “é fundamental marcar presença” anualmente neste “importante ponto de encontro do sector agrícola”, Beatriz Caldeira sublinha que, deste modo, ”não só garantimos o prestígio da marca junto do seu público-alvo, como temos a possibilidade de estabelecer contacto personalizado com os produtores agrícolas”. Nas palavras da responsável, “é através da proximidade com o setor que podemos ficar a conhecer os principais desafios por que passam os produtores agrícolas e, desta forma, trabalhar para apresentar as melhores soluções de risco agrícola.”

A Feira Nacional de Agricultura de 2023 foi o certame de arranque das atividades de divulgação da Agenda Mobilizadora InsectERA - lançada em Fevereiro por um consórcio liderado pela Ingredient Odyssey SA (EntoGreen), que visa projetar um novo setor bioindustrial em Portugal até 2025 -, pelo que a expectativa colocada no evento se revelou alta, “envolvendo um grande empenho da equipa da Comissão Executiva e dos parceiros da Agenda”, com destaque para o Município de Santarém, que promoveu esta participação.

Fazendo um balanço dos nove dias de feira, Daniel Murta, fundador & CEO da EntoGreen, conclui que “cada um representou parte do grande sucesso que foi esta presença, ultrapassando largamente as melhores expectativas da organização”. Tanto que o auditório InsectERA “ficou totalmente preenchido várias vezes ao longo do evento”, tendo ainda sido promovidas três sessões de showcooking e várias participações em conferências centrais da FNA onde os insetos foram tema de interesse.

“Que seja do nosso conhecimento, esta foi a primeira vez, a nível mundial, que existiu um programa com múltiplos eventos dedicados ao novo setor bioindustrial dos produtos derivados de inseto, enquadrado num evento como a Feira Nacional da Agricultura”, comenta Daniel Murta, rematando: “como disse o Presidente da República, digno de ser um projeto único no mundo”.

Na opinião do CEO da EntoGreen, a presença de uma Agenda Mobilizadora que visa desenvolver um novo setor bioindustrial de produtos derivados de inseto na FNA “revela o constante interesse pela exposição e divulgação da inovação que nasce em Portugal”. Para além de uma forte presença da Agenda Mobilizadora, com um programa próprio muito abrangente, foram realizadas várias atividades com o foco nesta temática, caso da participação de uma das empresas parceiras da Agenda na Conferência Geral de Avicultura, onde se discutiu como a utilização de produtos derivados de inseto podem contribuir para a sustentabilidade do setor avícula e para a nutrição de galinha poedeiras, explica Daniel Murta.

Outra estreante na FNA foi a Biostásia, que pela primeira vez esteve no certame agrícola a acompanhar o seu distribuidor oficial, o Sr. Orgânico. Louvando a organização do evento pela sua “preocupação em passar a melhor e mais atual informação”, através das inúmeras palestras que promove, Marisa Morgado Saias, business development manager da Biostasia defende que “é importante que se fale e debata sobre todos os desafios, para que em conjunto se possa remar para conclusões e soluções mais adequadas a todos, especialmente às PMEs portuguesas como nós”.

Os produtos Biostasia foram apresentados num novo formato e num novo local dentro da FNA, e as expectativas, que “eram muitas”, foram superadas, explica Marisa Saias: “as pessoas e os profissionais aderiram a este novo formato de apresentação e disponibilidade dos nossos produtos”, diz. Os objetivos de dinamização de ambas as marcas e venda de produtos Biostasia foram ambos atingidos, garante.

A empresa deu destaque à Gama Growth & Protect, “especialmente aos produtos que visam colmatar as necessidades da água nas culturas (H2O) e aos que visam proteger as culturas do calor (Bprotect Sik)”. A gama de proteção BProtect foi a mais procurada e mais vendida, avança a responsável. A Biostasia tem um portfolio de produtos de combate a pragas e controlo de doenças “vasto e com provas dadas”, que chega a praticamente a todas as culturas nas suas diferentes fases.

Já a Atlas Agro Insurance MGA, “a primeira seguradora exclusivamente dedicada aos riscos agrícolas” apostou, entre as várias soluções apresentadas, no Seguro de Colheitas (que protege a colheita dos fenómenos climáticos adversos que afetam a produção das culturas) e no Seguro de Ativos Biológicos (que serve para segurar os investimentos realizados na plantação, abrangendo as plantas, equipamentos e sistemas de rega).

No segmento da maquinaria, a Kubota apresentou as novidades de equipamentos das suas gamas de tratores e equipamentos agrícolas, destacando “a continua evolução no nível de equipamentos e agricultura de precisão”. No caso desta empresa, “tivemos até um simulador”, adianta Bruno Pignatelli. Na perspetiva do responsável, para além deste avanço tecnológico, o setor denota “o aparecimento de cada vez mais marcas de tratores, com preços mais económicos, oriundos de países como a India, Turquia e China”.

Também o Espaço Mecânico apresentou as marcas que representa para o setor agrícola e “as novidades que estas trazem no momento”. Segundo Bruno Alves, “sem dúvida que os equipamentos que criaram mais celeuma foram os da gama FIRSTGREEN ELETRIC, a primeira marca de carregadoras compactas 100% elétricas. “Foi entusiasmante verificar a curiosidade e a constatação, por parte do público e restantes operadores do setor, das inúmeras vantagens que este produto apresenta”. Como sempre faz, a empresa aproveitou ainda estes momentos para estar com os seus clientes.

Por agora, e como refere Daniel Murta, na FNA23 a InsectERA promoveu exclusivamente os objetivos estruturados para os anos de 2023, 2024 e 2025”, com a convicção de que “já em 2024 vai ser possível apresentar novos desenvolvimentos e, talvez, alguns produtos finais”. Quem sabe a tempo da edição de 2024 da Feira Nacional da Agricultura / Feira do Ribatejo, que já tem data marcada para os dias 8 a 16 de junho.

Até lá, público e expositores podem acompanhar todos os desenvolvimentos do certame agrícola nacional e fazer negócios em formato digital.

A Associação dos Jovens Agricultores de Portugal foi uma das muitas organizações presentes na recente Feira Nacional da Agricultura. Em declarações à Agriterra, Firmino Cordeiro, diretor geral da AJAP, sublinha que “depois de várias edições bastante semelhantes que a AJAP vinha protagonizando na FNA, esta acabou por se sobressair, muito pelo surgimento do Laboratório Vivo da Agricultura 4.0 e da promoção da Dieta Mediterrânica, tema central do stand da AJAP". ”

No âmbito desta iniciativa, o autocarro panorâmico de divulgação do projeto da AJAP esteve em exibição no recinto da FNA nos dois primeiros dias da feira, constituindo “um enorme atrativo, por se tratar de divulgar o lançamento de uma plataforma online importante, nomeadamente para jovens agricultores e jovens empresários rurais”.

Marcante foi também a escolha do tema do stand da AJAP, este ano associado à Dieta Mediterrânica, por toda a dinâmica alcançada com a promoção da sua importância na dieta alimentar e com provas de produtos. Associado a um projeto da organização que visa a divulgação desta prática alimentar reconhecida pela UNESCO, o tema foi mote para dar a provar aos visitantes produtos à base de vegetais, frutas, azeite e queijos.

De destacar ainda a nova localização do stand da AJAP, na nave A, que possibilitou “novas dinâmicas, devido à presença de um maior número de organizações do setor afetas a produtores e a distribuidores”, explica Firmino Cordeiro.

Importa referir que a associação recebeu mais de 250 convidados (agricultores e técnicos) de entidades protocoladas e delegações da AJAP distribuídas pelo país, o que “revela a importância que muitos dos nossos agricultores e associados atribuem a este relevante evento montra da agricultura”. A nível de presenças, há que destacar a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao stand da AJAP, no dia da inauguração. E referir ainda a presença de membros da direção da AJAP, do seu diretor geral e dos restantes órgãos sociais da organização.

A grande ausente da 59ª edição da FNA foi a ministra da Agricultura, “resultado de divergências políticas e de defesa do setor com a CAP, entidade com enormes responsabilidades na organização da FNA”. Contudo, e como comenta o diretor geral da AJAP, “mantiveram-se os problemas dos agricultores, que transversalmente percorrem o país. A seca e as consequências das alterações climáticas, a inflação e os elevados custos dos fatores de produção, associados a uma política de apoios tardios e poucos expressivos, tornam a nossa agricultura cada vez mais vulnerável, com agricultores insatisfeitos, envelhecidos e um claro aumento de descrença no setor que tem afastado muitos jovens da atividade”.

 Para o responsável, a FNA “é muito mais do que uma feira agrícola, é um local de encontro das várias agriculturas e agricultores” presentes no país. “Mais ou menos intensivas, de regadio ou sequeiro”, conclui. O certame é também “um importante local de discussão de políticas agrícolas nacionais e europeias, bem como de temas mais técnicos, digitais e apoios ao setor”, refere Firmino Cordeiro. “Montra das nossas raças autóctones, com a realização de vários concursos, de máquinas e equipamentos, do cavalo e campinos, é também lazer, gastronomia, e muitas provas dos bons vinhos, azeites, enchidos, queijos doces e frutas que as diferentes regiões trazem a Santarém”, detalha.

Quanto à temática do Ovo, provavelmente a escolha deste produto pela organização da FNA se deva ao fato de “ocupar um lugar muito importante na nossa alimentação”, sugere Firmino Cordeiro, esclarecendo: “é a proteína mais completa e mais barata à disposição dos consumidores”, e estamos em tempos de crise.

Em nota de balanço, o responsável conclui que esta participação da AJAP foi bastante positiva, avançando que a associação “pretende fazer ainda mais e melhor em próximas edições”.