Sob a égide ‘Biosoluções, um passo em frente na agricultura’, a FNA 25 reuniu no CNEMA, em Santarém, centenas de agricultores, técnicos, engenheiros e empresários que, durante os nove dias de feira, partilharam as últimas inovações em soluções capazes de responder às exigências da eficiência, sustentabilidade e economia circular no setor agrícola. O evento consolidou o crescente interesse em boas práticas e novas tecnologias, como pode conferir na reportagem que preparámos com alguns dos muitos expositores presentes.
A FNA 25 – Feira Nacional de Agricultura / Feira do Ribatejo realizou-se entre 7 e 15 de junho no CNEMA, em Santarém. De acordo com a organização, esta edição contou com “mais expositores, mais área ocupada” e “elevada satisfação nos contactos e negócios efetuados”. A Agriterra visitou a feira e apresenta-lhe de seguida as perspetivas do setor sobre as novas biosoluções, que também mobilizaram milhares de participantes no evento para a valorização da produção agrícola.
Para a AJAP - Associação dos Jovens Agricultores de Portugal, as duas edições das grandes feiras do setor que decorreram no primeiro semestre do ano (a Ovibeja e a FNA 25), “tiveram propósitos complementares”. De acordo com Firmino Cordeiro, diretor-geral da associação, se durante a Ovibeja a AJAP teve a oportunidade de entregar às diferentes forças políticas o documento ‘Pacto - Inovação Portugal Rural’ (que visa a concertação entre entidades públicas e privadas com o objetivo de atenuar os efeitos do envelhecimento dos territórios rurais e do despovoamento, e contrariar a taxa muito elevada de abandono de atividades económicas), na FNA organizou um segundo seminário sobre estes temas e a divulgação do Pacto, sensibilizando futuros subscritores do documento e trabalhando na calendarização das próximas ações a desenvolver.
“É nossa convicção que o novo governo, depois de, no final do anterior mandato, ter lançado dois documentos estruturantes - ‘Água que Une’ e ‘Florestas 2050’ -, possa acolher e iniciar a reflexão necessária com vista a dar luz verde a este ‘Pacto - Inovação Portugal Rural’, uma vez que em campanha eleitoral foi, por unanimidade, bem aceite por todas as forças políticas com assento parlamentar”, defende Firmino Cordeiro.
Na AJAP, e no seu stand, muito se falou da necessidade de se instalarem mais jovens agricultores, de mais investimento, da escassez de financiamento, bem como sobre outros problemas específicos. Entre eles, o responsável destaca “a falta de terra (devia ser reequacionado o lançamento da Bolsa de Terras e do Banco de Terras); o emparcelamento; ou o crédito bancário a taxas de juros convidativas para que os jovens possam aceder a fundos que lhes permitam acudir às necessidades de investimento”. “Abordámos o tema da água e a necessidade da sua disponibilidade aos jovens agricultores” e “também a burocracia existente para obter licenças para construções, para fazer reservas próprias de água, e outros constrangimentos sempre morosos e, por vezes, limitadores do investimento”, detalha.
No que respeita à temática da feira, 'Biosoluções', Firmino Cordeiro acredita que as biosoluções “estão na ordem do dia na Europa e deviam estar na atualidade mundial. Todos estamos atentos às novidades e a novas soluções para, paulatinamente, irmos substituindo produtos de síntese química por outros muitos específicos, de espectro muito afunilado ao agente causador da praga ou doença em concreto, quase sempre com resíduo zero, e ainda por outros exclusivamente orgânicos (sem qualquer resíduo)”.
A participação da Biond na FNA 2025 teve como principal objetivo reforçar o conhecimento e a divulgação dos Programas Operacionais da associação, “com obra feita e a acontecer no terreno”. Segundo o diretor-geral da Biond estes programas visam implementar incentivos à gestão florestal, que já apoiaram cerca de 10.000 produtores florestais de eucalipto, num total de 50.000 parcelas intervencionadas em parceria com as suas organizações florestais, prestadores de serviços e entidades públicas locais. “Fazemos um balanço muito positivo da nossa presença: conseguimos dar visibilidade ao trabalho que está a ser desenvolvido e estabelecemos um diálogo muito construtivo com produtores e parceiros, alinhado com o nosso propósito de contribuir para uma floresta de eucalipto mais produtiva, mais resiliente e mais sustentável”, detalha Gonçalo Almeida Simões.
Considerando “muito pertinente a escolha da temática 'Biosoluções' para esta edição da feira, por ser um tema que diz muito à Biond e que está no centro do nosso trabalho diário”, o responsável defende que as biosoluções “representam um caminho fundamental para responder aos grandes desafios que Portugal enfrenta, nomeadamente a adaptação às alterações climáticas, a necessidade de reforçar a resiliência dos territórios e a procura por sistemas de produção mais sustentáveis”. Esta edição da FNA “permitiu aprofundar o debate em torno destas questões e demonstrou o crescente interesse dos produtores e agentes do setor por práticas e tecnologias que conciliem produtividade, sustentabilidade e respeito pelo ambiente”, conclui, sublinhando que a Biond “contribui ativamente para este movimento”.
No âmbito de mais uma participação na recente edição da FNA, a Biostasia “traçou objetivos de vendas, pois a marca já ‘leva’ os clientes à feira, que vão adquirir os respetivos produtos”, esclarece Marisa Saias, business development manager da especialista em bioinovação sustentável. Objetivos esses que “foram praticamente atingidos, apesar de ser notória a redução de número de visitantes na FNA 25”, afirma, adiantando que a Feira Nacional da Agricultura “continua a ser uma boa ‘montra’, mas já não nos traz o potencial de novos clientes profissionais de outros tempos”.
Quanto a lançamentos, Marisa Saias avança à Agriterra que a Biostasia esteve a comercializar pela primeira vez a sua nova gama Casa, Horta e Jardim, pronta a usar. Nesta gama, dita não profissional, de soluções em spray “para aplicação imediata, sem necessidade de diluição”, a responsável destaca o Biostamax, produto estrela desde sempre da marca Biostasia, mas também as soluções anti fungos, sabão fosfórico, óleo de neem, dessecante e repelentes.
A discussão dos grandes desafios e oportunidades atuais do setor, este ano centrada na temática 'Biosoluções' representou um “tema que apreciamos e defendemos desde sempre, e que faz parte da visão e missão da empresa”, comenta.
A CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal comemora em 2025 os 50 anos da sua fundação, e foi nesse espírito que concebeu um stand “de que se orgulha” na última edição da Feira Nacional de Agricultura, onde recebeu diversas individualidades – incluindo o presidente da República, o comissário europeu da Agricultura e o ministro que representa o setor – e promoveu iniciativas diárias dedicadas ao contacto com as diversas regiões e estruturas associativas que representa.
Como detalha Luís Mira, naquele que “é o maior evento nacional dedicado ao setor agrícola” e onde a participação da confederação “é óbvia e praticamente obrigatória, até porque integra a administração do CNEMA”, a CAP realizou ainda um conjunto diversificado de conferências e seminários, este ano sob a égide das biosoluções, “mobilizando a sociedade para o setor, o que é de enorme importância para os agricultores”. O evento contou com uma emissão experimental de um canal televisivo dedicado à agricultura e ao mundo rural, “o que representa um passo muito significativo na nossa valorização perante a sociedade civil”, reitera o secretário-geral da CAP, concluindo: “neste enquadramento, as nossas expectativas para a FNA2025 foram alcançadas e os nossos objetivos cumpridos”.
Quanto à relevância das biosoluções e da inovação e aplicação de novas tecnologias na agricultura, Luís Mira defende que “representam o futuro e é nele que estamos focados. As biosoluções emergem atualmente como ferramentas fundamentais para responder às exigências de eficiência, de transição e de sustentabilidade, representam soluções inovadoras capazes de potenciar a produtividade agrícola e florestal, de minimizar o impacto ambiental, de reforçar a resiliência face às alterações climáticas e de permitir a valorização de um conjunto de subprodutos do setor em que, a par do contributo para a redução da dependência energética nacional, há um contributo para a descarbonização da economia e da própria atividade agrícola, numa lógica de verdadeira circularidade”, afirma.
A CAP tem vindo a promover as biosoluções, mas “o impacto que um evento desta magnitude proporciona, particularmente para os públicos que vão além dos próprios agricultores e profissionais ligados ao setor, é fundamental para catapultar o tema para a atenção da sociedade de uma forma geral”, remata Luís Mira.
A CONFAGRI continua a marcar uma presença ativa na FNA, “marcada por um forte espírito de cooperação e representatividade do setor cooperativo agrícola nacional”. Nas palavras de Nuno Serra, secretário-geral da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, “como sempre, a nossa principal missão é reforçar a presença e reconhecimento das nossas federações e associadas através da promoção dos seus produtos e serviços, dar visibilidade ao trabalho desenvolvido em diversas áreas estratégicas e consolidar a nossa ação institucional junto dos diferentes agentes do setor, incluindo a esfera governativa”. Neste âmbito, “é com satisfação que afirmamos ter alcançado plenamente estes objetivos”, sublinha.
A presença da CONFAGRI no seu pavilhão próprio “permitiu reunir um conjunto alargado de cooperativas que puderam dar a conhecer e comercializar os seus produtos de excelência”. Já no seu stand institucional, a confederação dinamizou ações de degustação, que contaram com a participação ativa do público e “revelaram a qualidade incontestável dos produtos cooperativos”, afirma o secretário-geral da CONFAGRI. Paralelamente, a confederação deu a conhecer as suas múltiplas áreas de intervenção (em particular o trabalho desenvolvido pelo Departamento de Sustentabilidade, Inovação e Qualidade) e realizou o colóquio ‘O Cooperativismo em Portugal’, em parceria com o Crédito Agrícola e o Encontro de Dirigentes, Técnicos e Agricultores do SNIRA - Sistema Nacional de Informação e Registo Animal.
Reiterando “o dinamismo e a relevância crescente do setor cooperativo agrícola em Portugal”, o responsável conclui que a FNA 2025 “foi, sem dúvida, um momento muito positivo para a CONFAGRI e para todos os seus associados”.
Segundo Nuno Serra, as cooperativas agrícolas têm trilhado a jornada da sustentabilidade do setor em conjunto com a CONFAGRI, “procurando dar resposta aos desafios que a agricultura portuguesa enfrenta através da partilha de boas práticas agrícolas e de novas soluções que tenham um impacto mais positivo para a esfera ambiental e económica da produção nacional”. Um desígnio que “é já partilhado entre todo o setor agroalimentar” e no qual “as novas soluções que a biotecnologia oferece são ponto de encontro entre agricultores, técnicos, engenheiros e empresários”, conclui.
Nesta edição de 2025 da FNA, a Food4Sustainability CoLAB afirmou-se como um agente estratégico da transição agroecológica, destacando o papel das Bio-Regiões, o lançamento do Idanha Rural Food Park, a apresentação de novos produtos à base de bolota (no âmbito do projeto OakFood) e o primeiro pesto biopónico do mundo (desenvolvido no âmbito do AmpliAqua). Com uma presença ativa em múltiplas sessões e através do seu laboratório de saúde e função dos solos dedicado ao microbioma, “a F4S reafirmou o seu compromisso com soluções regenerativas enraizadas na ciência e no território”, de acordo com o vice-presidente da Food4Sustainability CoLAB, Gonçalo Amorim.
No que respeita a Bio-regiões, ou “territórios vivos para a sustentabilidade”, como lhes chama Gonçalo Amorim, Idanha-a-Nova, sede da F4S, foi pioneira em Portugal. A F4S “participou ativamente nas sessões dedicadas a este modelo territorial, sublinhando a importância crescente das Bio-Regiões como espaços de experimentação real para biosoluções adaptadas ao contexto ecológico, social e produtivo”.
Coorganizado pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova e pela F4S, o programa ‘Uma Saúde, Um Planeta’ “foi o palco onde apresentámos o conceito do Idanha Rural Food Park, um ecossistema de inovação agroalimentar regenerativa” que valoriza produtos silvestres e autóctones, sublinha também o vice-presidente da F4S.
O responsável destaca novos produtos com ADN regenerativo a propósito de “duas inovações alimentares que resultam diretamente do nosso trabalho em I&D”: protótipos alimentares desenvolvidos à base de bolota, com potencial de exportação; e o primeiro pesto do mundo feito com manjericão cultivado em sistema biopónico, isento de pesticidas e fertilizantes de síntese.
Gonçalo Amorim faz ainda uma menção especial ao avançado Laboratório de Solos (localizado em Arruda-dos-Vinhos), dedicado ao estudo da funcionalidade do solo e ao microbioma. De referir ainda, na participação da F4S na FNA 25, a sessão de Laboratórios Colaborativos dedicados ao setor primário e agroalimentar, onde este CoLAB partilhou a sua “experiência concreta no desenvolvimento e validação de biosoluções em contexto real, promovendo inovação acessível, escalável e com impacto tangível nos territórios”.
António Saraiva, diretor executivo do InnovPlantProtect, é perentório ao afirmar que “tendo em conta a temática desta edição da FNA, teríamos de estar presentes, uma vez que as biosoluções são o ponto central da atividade e da missão do InPP”. A participação na FNA 2025 “foi um passo importante para consolidar a marca InnovPlantProtect no panorama agrícola nacional. Fazemos um balanço globalmente positivo”, afirma à Agriterra.
O InPP organizou o seminário ‘Seis anos de inovação: o caminho dos CoLABs para o futuro dos setores agrícola e agroalimentar’, reunindo, pela primeira vez, seis CoLABs dos setores agrícola e agroalimentar – InnovPlantProtect, Colab4Food, FeedInov, Food4Sustainability, MORE CoLAB e SmartFarmCoLAB. O seminário “serviu como uma oportunidade para partilhar os resultados já alcançados no desenvolvimento de soluções para uma agricultura mais inovadora, sustentável e competitiva”, explica António Saraiva.
No âmbito da Agenda Mobilizadora InsectERA, a equipa do InPP está a desenvolver bioestimulantes inovadores a partir de subprodutos da produção industrial de insetos. “Estes produtos têm demonstrado resultados muito promissores, com um enorme potencial para reduzir a aplicação de fertilizantes minerais (nomeadamente azoto), aumentar a produtividade e otimizar a fixação de nutrientes na planta e no solo. A libertação lenta de nutrientes para as culturas confere-lhes um efeito prolongado, contribuindo para a saúde e fertilidade do ecossistema agrícola e para a economia circular”, detalha o diretor executivo.
Considerando que o desenvolvimento de biosoluções exige “um investimento significativo em investigação e desenvolvimento para que um novo produto chegue com sucesso ao mercado e às mãos dos agricultores”, o responsável conclui que “os desafios que o setor enfrenta são complexos, com restrições regulatórias crescentes, tanto a nível nacional como internacional”. Num contexto em que a procura por soluções amigas do ambiente e seguras para a saúde humana “é premente”, o InPP desenvolve produtos e serviços “que respondem às exigências atuais do mercado e da legislação, trabalhando para oferecer alternativas eficazes aos métodos convencionais”.
No entanto, e na opinião de António Saraiva, “um dos maiores desafios não é apenas desenvolver estas novas biosoluções, mas sim garantir a sua aceitação e confiança por parte dos agricultores e das empresas. A FNA foi, nesse sentido, uma excelente plataforma para continuar a aprofundar este diálogo com o setor”, conclui.
A FNA 26 já tem data marcada, entre os dias 6 a 14 de junho do próximo ano.
A Revista Agriterra é Media Partner da FNA - Feira Nacional de Agricultura / Feira do Ribatejo.
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