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“2021 está a ser extraordinário, faz-nos pensar em algo muito grande"

Entrevista a Marcello Carraro, CEO da Antonio Carraro

Ángel Pérez29/11/2021

Sorridente, relaxado, amigável, com aquela doce sensação que trazem os bons resultados. Foi assim que nos recebeu Marcello Carraro no amplo stand da sua empresa no Pavilhão 36 da EIMA 2021. Meia hora de entrevista, onde analisa a situação da empresa, capaz de obter os melhores resultados económicos neste delicado cenário de pandemia. Junto a si, Justo Sampayo, diretor-geral da filial ibérica que, em 2022, cumprirá 25 anos e para quem também tem palavras de felicitação e agradecimento.

Antonio Carraro simboliza a tradição familiar no fabrico de tratores. O seu atual CEO, Marcello Carraro, representa a terceira geração desde que, em 1910, o seu avô Giovanni construiu a primeira máquina agrícola multifuncional e, posteriormente, em 1960, António, o mais jovem dos seus seis filhos, lançou o primeiro trator de mono eixo 'Scarabeo'. Agora, a empresa vive um dos seus melhores momentos, com uma ampla gama de tratores especializados e um volume de vendas em progressão.

Marcello Carraro, no stand da empresa, na EIMA 2021
Marcello Carraro, no stand da empresa, na EIMA 2021.

Comecemos pelos números. O ano passado as vendas dispararam. Como acredita que irão fechar em 2021?

2020 foi muito bom, o melhor ano da nossa história em relação às vendas, com recordes de faturação apesar de que, nos primeiros meses de Covid-19, pensámos que iria haver problemas. Mas este ano está a ser extraordinário, com um nível de encomendas que nos faz pensar em algo muito grande. Em Itália foi implementada a Lei 4.0, que espero também que chegue a Espanha e Portugal, que oferece a fundo perdido até 40-50% na compra de um trator. Isto ajudou imenso. Vivemos um momento excecional e esperamos continuar assim, no entanto, existem agora problemas na produção porque o fornecimento está difícil e vemo-nos obrigados a modificar o programa produtivo em função da disponibilidade de matérias-primas. Acreditamos que as coisas vão melhorar, mas não sei o que se irá suceder e, de facto, já existem fábricas de automóveis e de tratores que se viram obrigadas a encerrar temporariamente. Acredito que a nossa produção se encontra assegurada até ao final do ano, mas isto é algo que sabemos hoje, amanhã podem estar em falta pneus, motores, volantes, etc.

Conseguiram encerrar o ano com recorde de faturação, mas, a respeito da empresa, como foram vividos estes 20 meses desde o início da pandemia e em que situação saem dela?

Vivemos momentos complicados, sobretudo, porque não sabíamos o que iria acontecer. Felizmente, no nosso caso, apenas estivemos encerrados durante três semanas, mas surgiu repentinamente um grande problema que nos alterou a vida. A máscara, o distanciamento social, etc., obrigou-nos, por exemplo, a modificar a empresa no serviço de restaurante, estabelecer turnos concretos ou a vigiar os espaços na linha de montagem, entre muitas outras medidas adotadas. É difícil e temo que não voltaremos à situação anterior porque a pandemia não terminou, nem terminará tão cedo.

Quais são os principais objetivos traçados do ponto de vista económico a curto, médio e longo prazo?

Observamos uma possibilidade de crescimento até duplicar o nosso volume atual de produção, porque esta tipologia de trator compacto, isodiamétrico, que pode ser operado em condições particulares, não é ainda bem conhecida em todo o mundo. Este ano já faturamos 106 milhões de euros e possivelmente iremos encerrar o ano em torno dos 125 M€, mas a minha visão é de que podemos chegar aos 200 M€ mais para a frente. Não é fácil, é um processo longo, difícil, que devemos estender a mais países porque nem todas as pessoas conhecem a utilidade destes tratores, visto que os consideram similares aos standards da mesma potência. Mais para a frente, quando os testem e os entendam, teremos clientes para toda a vida.

Continuarão focados no trator especializado ou têm previsto ampliar o vosso catálogo, seja com tratores standard ou com implementos?

De momento, pensamos apenas em tratores especializados. A minha ideia passa por procurar colaborações com fabricantes de implementos, mas sempre implementos especializados, para, desta forma, poder adaptar com os nossos produtos. Iniciamos agora um projeto de trator híbrido, em colaboração com a Ecothea - uma start-up da Universidade Politécnica de Turim, especializada no design e prototipagem de veículos elétricos para a aplicação em maquinaria agrícola -, e com um consórcio de produtores de vinho.

Marcello Carraro com Justo Sampayo, junto ao novo trator híbrido apresentado na Feira
Marcello Carraro com Justo Sampayo, junto ao novo trator híbrido apresentado na Feira.

A eletrificação pode chegar aos tratores especializados, dada à limitação de potência que têm?

Há alguns anos que temos vindo a realizar estudos sobre a eletrificação. Nos dias de hoje, a única solução funcional para tratores compactos é a apresentada na EIMA 2021, que é um modelo híbrido. Atualmente têm um custo muito caro, mas acredito que, num ano, será possível vender a um preço razoável para uma utilização apropriada. A tecnologia ainda não consegue oferecer uma solução completamente elétrica para um trator compacto. Testamos com fabricantes de motores elétricos e, de momento, acreditamos que não seja possível. Quem sabe se em dois anos será uma realidade? Continuamos a investigar porque estamos interessados em aprofundar o conceito de trator elétrico.

Lançaram também uma novidade no serviço pós-venda: os óculos interativos HoloMaintenance. A Rede de Concessionários está preparada e atualizada para oferecer este serviço e, de modo geral, para enfrentar o desafio da digitalização?

Atualmente, ainda não estão todos os concessionários preparados, mas estarão em breve, pois o sistema é fácil de utilizar. É algo novo que necessita de tempo para a sua implementação. Foi lançado, sobretudo, com o pensamento no mercado da Nova Zelândia, onde nos é muito difícil oferecer assistência remota. Realizamos um primeiro teste, ao tratar-se de um país muito distante, onde vendemos bastante e temos uma grande necessidade de intervenção e, devo dizer, que tudo funcionou muito bem. É certo que em outras zonas, como os países do Mediterrâneo, a cultura do concessionário é diferente e este processo irá ser mais lento. Mas com as novas gerações, acreditamos que o iremos implementar.

Se falamos tanto da Agricultura 4.0, podemos também falar de uma Antonio Carraro 4.0? A verdade é que a digitalização e a transmissão contínua formam um binómio perfeito.

Já estamos a vender tratores chamados 4.0, no qual não é apenas uma denominação para favorecer o financiamento, mas também pela sua utilização em estradas e no campo, com soluções como o piloto automático. Sabemos que num trator compacto este tipo de ferramentas 4.0 são mais difíceis de aplicar do que num trator de campo aberto, mas continuamos a trabalhar encarando o futuro desta linha.

Como acha que será o trator do futuro? 100% elétrico, sem condutor?

É difícil prever. O trator autónomo é uma tecnologia na qual também estamos a trabalhar, mas não é fácil aplicar em tratores compactos. De momento, vemos como algo distante. Em tratores compactos não se trata apenas de controlar a própria máquina, pois também o agricultor necessita de um controlo muito preciso para o trabalho efetuado pelos implementos, como por exemplo sucede com os atomizadores com muita eletrónica, onde é necessário vigiar com precisão as aplicações, a distância, como se trabalha o terreno, etc. De qualquer forma, na Antonio Carraro, continuamos a seguir em frente recordando como começamos, que foi a ouvir os agricultores, conhecendo as sua ideias de futuro e observando a evolução dos cultivos com o objetivo de interpretar o que eles necessitam.

A nova Série Tora foi uma das grandes protagonistas em Bolonha

A nova Série Tora foi uma das grandes protagonistas em Bolonha.

De momento, as fábricas estão a sofrer uma escassez de matérias-primas, em conjunto com a forte subida de preços em termos logísticos e energéticos. Têm capacidade para assumir este aumento de custos, tendo em conta que vimos de anos de alterações sucessivas da regulamentação de emissões e motorizações, as quais também tiveram impacto nos custos?

É difícil. Poderemos resistir durante um tempo, mas no final teremos de as repercutir. Este ano aplicamos dois aumentos de preços, que se ajustam em função das políticas de desconto. Percebemos que, de forma geral, as pessoas aceitaram e em alguns países onde existem importantes ajudas, como em Itália, não foi tão percetível o aumento.

O setor da mecanização agrícola vive momentos muito intensos, com numerosas operações empresariais (aquisições, fusões, acordos, etc.). Perante este cenário, continuamos a ver no futuro uma Antonio Carraro tal e qual como a conhecemos atualmente ou está aberta a operações deste género?

Não temos necessidade de acordos nesse sentido. No segmento de tratores especialistas, estamos praticamente nós e o Grupo BCS, um concorrente que estimo e com quem falamos em muitas ocasiões. Mas não me acredito que uma grande multinacional se possa interessar por nós. A Antonio Carraro vai bem, tanto a nível de custos como de finanças. Temos uma mentalidade diferente, digo sempre que não somos 'industriais” mas que fazemos a 'grande arte' ao aplicar a filosofia tailor made tractor (trator feito à medida), pois fabricamos diversos modelos em função das necessidades dos clientes e isso é algo que um grande fabricante dificilmente consegue oferecer.

Como vê o futuro das feiras comerciais, como a EIMA? A experiência digital não obteve o êxito que se esperava e, de qualquer forma, voltar ao presencial superou as expetativas.

Não sei. É difícil prever. Eu pessoalmente prefiro as feiras presenciais, mas já tenho uma certa idade e tenho de saber a opinião dos jovens sobre este tema. Estive bastante contente na EIMA 2021, depois de três anos sem contatos pessoais com o cliente, o que é muito importante para nós. E não me acredito que isso possa ser substituído com uma feira digital. Como sabe, o ano passado testou-se uma iniciativa assim e é bastante diferente.
O CEO de Antonio Carraro está muito agradecido pelos quase 25 anos de trabalho e sucesso da filial ibérica chefiada por Justo Sampayo...
O CEO de Antonio Carraro está muito agradecido pelos quase 25 anos de trabalho e sucesso da filial ibérica chefiada por Justo Sampayo.

25 anos de “grande êxito“ da filial ibérica

No próximo ano, a Antonio Carraro Ibérica, filial responsável dos mercados espanhol e português, cumpre 25 anos.

Um período de ”grande êxito”, na opinião de Marcello Carraro. “A criação da filial foi uma ideia de Manel Roig, que trabalhava para a Parés Hermanos, depois fundou a Pymsa e a seguir a António Carraro Ibérica. Foi um período de crescimento contínuo, iniciado pelo próprio Roig, que foi depois continuado por Justo Sampayo e esperamos que continue no futuro. Estou muito contente com os resultados obtidos e contamos com os concessionários que trabalham connosco desde há muitos anos”.

O CEO quis aproveitar a oportunidade para enviar “uma mensagem de continuidade e felicitação“ a Sampayo e a toda a sua equipa. ”Confiamos que continuaremos a crescer em Espanha e Portugal e a ideia é que, através da Ibérica, reforcemos a nossa presença nos mercados sul-americanos, onde estamos a avançar pouco a pouco devido ao trabalho desenvolvido a partir daqui”, concluiu.

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