Sorridente, relaxado, amigável, com aquela doce sensação que trazem os bons resultados. Foi assim que nos recebeu Marcello Carraro no amplo stand da sua empresa no Pavilhão 36 da EIMA 2021. Meia hora de entrevista, onde analisa a situação da empresa, capaz de obter os melhores resultados económicos neste delicado cenário de pandemia. Junto a si, Justo Sampayo, diretor-geral da filial ibérica que, em 2022, cumprirá 25 anos e para quem também tem palavras de felicitação e agradecimento.
Antonio Carraro simboliza a tradição familiar no fabrico de tratores. O seu atual CEO, Marcello Carraro, representa a terceira geração desde que, em 1910, o seu avô Giovanni construiu a primeira máquina agrícola multifuncional e, posteriormente, em 1960, António, o mais jovem dos seus seis filhos, lançou o primeiro trator de mono eixo 'Scarabeo'. Agora, a empresa vive um dos seus melhores momentos, com uma ampla gama de tratores especializados e um volume de vendas em progressão.
2020 foi muito bom, o melhor ano da nossa história em relação às vendas, com recordes de faturação apesar de que, nos primeiros meses de Covid-19, pensámos que iria haver problemas. Mas este ano está a ser extraordinário, com um nível de encomendas que nos faz pensar em algo muito grande. Em Itália foi implementada a Lei 4.0, que espero também que chegue a Espanha e Portugal, que oferece a fundo perdido até 40-50% na compra de um trator. Isto ajudou imenso. Vivemos um momento excecional e esperamos continuar assim, no entanto, existem agora problemas na produção porque o fornecimento está difícil e vemo-nos obrigados a modificar o programa produtivo em função da disponibilidade de matérias-primas. Acreditamos que as coisas vão melhorar, mas não sei o que se irá suceder e, de facto, já existem fábricas de automóveis e de tratores que se viram obrigadas a encerrar temporariamente. Acredito que a nossa produção se encontra assegurada até ao final do ano, mas isto é algo que sabemos hoje, amanhã podem estar em falta pneus, motores, volantes, etc.
Vivemos momentos complicados, sobretudo, porque não sabíamos o que iria acontecer. Felizmente, no nosso caso, apenas estivemos encerrados durante três semanas, mas surgiu repentinamente um grande problema que nos alterou a vida. A máscara, o distanciamento social, etc., obrigou-nos, por exemplo, a modificar a empresa no serviço de restaurante, estabelecer turnos concretos ou a vigiar os espaços na linha de montagem, entre muitas outras medidas adotadas. É difícil e temo que não voltaremos à situação anterior porque a pandemia não terminou, nem terminará tão cedo.
Observamos uma possibilidade de crescimento até duplicar o nosso volume atual de produção, porque esta tipologia de trator compacto, isodiamétrico, que pode ser operado em condições particulares, não é ainda bem conhecida em todo o mundo. Este ano já faturamos 106 milhões de euros e possivelmente iremos encerrar o ano em torno dos 125 M€, mas a minha visão é de que podemos chegar aos 200 M€ mais para a frente. Não é fácil, é um processo longo, difícil, que devemos estender a mais países porque nem todas as pessoas conhecem a utilidade destes tratores, visto que os consideram similares aos standards da mesma potência. Mais para a frente, quando os testem e os entendam, teremos clientes para toda a vida.
De momento, pensamos apenas em tratores especializados. A minha ideia passa por procurar colaborações com fabricantes de implementos, mas sempre implementos especializados, para, desta forma, poder adaptar com os nossos produtos. Iniciamos agora um projeto de trator híbrido, em colaboração com a Ecothea - uma start-up da Universidade Politécnica de Turim, especializada no design e prototipagem de veículos elétricos para a aplicação em maquinaria agrícola -, e com um consórcio de produtores de vinho.
Se falamos tanto da Agricultura 4.0, podemos também falar de uma Antonio Carraro 4.0? A verdade é que a digitalização e a transmissão contínua formam um binómio perfeito.
Já estamos a vender tratores chamados 4.0, no qual não é apenas uma denominação para favorecer o financiamento, mas também pela sua utilização em estradas e no campo, com soluções como o piloto automático. Sabemos que num trator compacto este tipo de ferramentas 4.0 são mais difíceis de aplicar do que num trator de campo aberto, mas continuamos a trabalhar encarando o futuro desta linha.
É difícil prever. O trator autónomo é uma tecnologia na qual também estamos a trabalhar, mas não é fácil aplicar em tratores compactos. De momento, vemos como algo distante. Em tratores compactos não se trata apenas de controlar a própria máquina, pois também o agricultor necessita de um controlo muito preciso para o trabalho efetuado pelos implementos, como por exemplo sucede com os atomizadores com muita eletrónica, onde é necessário vigiar com precisão as aplicações, a distância, como se trabalha o terreno, etc. De qualquer forma, na Antonio Carraro, continuamos a seguir em frente recordando como começamos, que foi a ouvir os agricultores, conhecendo as sua ideias de futuro e observando a evolução dos cultivos com o objetivo de interpretar o que eles necessitam.
A nova Série Tora foi uma das grandes protagonistas em Bolonha.
É difícil. Poderemos resistir durante um tempo, mas no final teremos de as repercutir. Este ano aplicamos dois aumentos de preços, que se ajustam em função das políticas de desconto. Percebemos que, de forma geral, as pessoas aceitaram e em alguns países onde existem importantes ajudas, como em Itália, não foi tão percetível o aumento.
Não temos necessidade de acordos nesse sentido. No segmento de tratores especialistas, estamos praticamente nós e o Grupo BCS, um concorrente que estimo e com quem falamos em muitas ocasiões. Mas não me acredito que uma grande multinacional se possa interessar por nós. A Antonio Carraro vai bem, tanto a nível de custos como de finanças. Temos uma mentalidade diferente, digo sempre que não somos 'industriais” mas que fazemos a 'grande arte' ao aplicar a filosofia tailor made tractor (trator feito à medida), pois fabricamos diversos modelos em função das necessidades dos clientes e isso é algo que um grande fabricante dificilmente consegue oferecer.
25 anos de “grande êxito“ da filial ibérica
No próximo ano, a Antonio Carraro Ibérica, filial responsável dos mercados espanhol e português, cumpre 25 anos.
Um período de ”grande êxito”, na opinião de Marcello Carraro. “A criação da filial foi uma ideia de Manel Roig, que trabalhava para a Parés Hermanos, depois fundou a Pymsa e a seguir a António Carraro Ibérica. Foi um período de crescimento contínuo, iniciado pelo próprio Roig, que foi depois continuado por Justo Sampayo e esperamos que continue no futuro. Estou muito contente com os resultados obtidos e contamos com os concessionários que trabalham connosco desde há muitos anos”.
O CEO quis aproveitar a oportunidade para enviar “uma mensagem de continuidade e felicitação“ a Sampayo e a toda a sua equipa. ”Confiamos que continuaremos a crescer em Espanha e Portugal e a ideia é que, através da Ibérica, reforcemos a nossa presença nos mercados sul-americanos, onde estamos a avançar pouco a pouco devido ao trabalho desenvolvido a partir daqui”, concluiu.
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