A cultura da nogueira, à semelhança do que se passou há alguns anos com a amêndoa, começa a despertar o interesse de alguns produtores. A Nogam, da holding Sogepoc (família Ortigão Costa), é já o maior produtor de noz da Península Ibérica, com 615 hectares de nogueiral e uma unidade fabril única na Europa. Mas também a Agromais está a apostar nesta cultura (Ver Caixa).
A família Ortigão Costa, conhecida mundialmente pelo tomate de indústria da Sugal, decidiu avançar em 2016 com a plantação de nogueiras no Alentejo, na região de Évora. Tendo inaugurado em 2021 uma unidade de processamento (limpeza, secagem, calibragem, descasque e embalamento do miolo) “de forma a assegurarmos toda a cadeia de valor”, explica à Agriterra Tiago Costa, CEO Agricultural Business da Sogepoc.
A Nogam apostou nas variedades Chandler, Howard e Tulare. “A Chandler é a mais representativa cerca de 80%. Produz bem, nas nossas condições, apesar de sermos diferentes dos Estados Unidos e do Chile. É a referência no mercado em termos de qualidade e a que tem o melhor preço”, diz-nos o diretor executivo.
A Nogam, da holding Sogepoc (família Ortigão Costa), é já o maior produtor de noz da Península Ibérica
A Chandler é uma variedade de polpa clara, que enche bem a noz e tem casca mole, “sendo a melhor opção para competir com os EUA”, defende o CEO Agricultural Business da Sogepoc acrescentando que o modelo de produção em que a empresa apostou é similar ao norte-americano, mas “é um upgrade porque temos a consultoria dos nossos parceiros chilenos que aplicam conceitos de fruticultura à nogueira, pelo que acreditamos que vamos ter uma produtividade igual ou superior à dos EUA, com custos de produção idênticos ou até mais baixos”.
O compasso escolhido foi de 7/5, “mas também experimentámos 7/2,5”, e fez-se poda de formação nos dois primeiros anos, com o formato de copa, ou seja de ‘pinheiro’, como fazem no Chile, ao contrário do formato em vaso utilizado nos EUA.
“Vamos ser os únicos capazes de entregar noz fresca todo o ano, acabada de partir”, Tiago Costa, Nogam
Tiago Costa adianta: “após isso, separam-se por calibres e já pode ser vendida assim. Quando não conseguimos vender com casca e temos outros pedidos para miolo, passamos à zona de partir e aproveitamos o miolo. Este, depois, passa por processos de seleção ótica e manual que o separa em metades, quartos e pedaços, para ser embalado nestas diferentes dimensões”.
A maior organização de produtores (OP) nacional de cereais e hortícolas, sedeada no Ribatejo, decidiu apostar na nogueira “como cultura alternativa, uma vez que tem margens favoráveis para o agricultor”, diz à Agriterra Susana Covão, engenheira agrícola, técnica da cultura da nogueira na Agromais.
A OP quis perceber se a região tinha condições para a cultura, uma vez que era habitual verem-se nogueiras, principalmente junto a poços. Juntou terrenos de vários associados interessados e, em 2017, começou a plantar nogueiras, com o apoio da Nogaltec, empresa espanhola (que já tem técnicos portugueses) especializada na cultura.
A Agromais tem agora 270ha de nogueiras, uma área que tem vindo a aumentar todos os anos. Sendo 260ha da variedade Chandler e 10h da Howard. “A área já é grande mas está dispersa por muitas pequenas parcelas”, refere Susana Covão.
Câmara estomática determina a rega
A base do modelo de condução da cultura é o perfil do solo e a condutividade. A rega é realizada com tubo duplo, seguindo as indicações das sondas de humidade mas também o resultado da câmara estomática. Ou seja, “cada agricultor tem uns saquinhos, tapa-se uma folha e põe-se lá dentro, faz-se pressão até sair água e consoante vários critérios – idade da planta, se tem produção ou não, etc. - rega-se de acordo com uma tabela que também é fornecida”, explica-nos a técnica.
Ao segundo ano termina todo o tipo de mobilização, refere Susana Covão, acrescentando que entre os camalhões, “na entrelinha, deixamos vegetação espontânea ou semeamos gramíneas e leguminosas, que se cortam e deixam no terreno”. O compasso é de 7/4,5 ou 5 e a primeira produção foi após a quinta primavera mas ainda foi fraca.
A aposta será no mercado nacional mas também na exportação – para Alemanha, França, Reino Unido e Turquia -, todavia “o preço varia muito consoante o calibre”. A noz será comercializada com “marca da Agromais” estando prevista a montagem de equipamento de lavagem, secagem e embalamento, que poderá evoluir para miolo (metades, quartos e pedaços).
Susana Covão diz-nos que nos primeiros anos fizeram prevenção para os fungos, adiantando que as principais pragas da cultura são o piolho (afídeos), a cicadela (cigarrinha verde), a cydia pommonella (bichado da fruta) e a zeuzera, enquanto as doenças mais comuns são as antracnoses e bacterioses da folha e do fruto.
A colheita é semi-mecânica, através de vibração para cima de panos, porque “ainda não compensa ter uma máquina dedicada”, mas a técnica salienta que um grupo de agricultores se prepara para investir neste equipamento.
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