Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

“Noz é boa oportunidade de investimento”

Emília Freire15/03/2022

A cultura da nogueira, à semelhança do que se passou há alguns anos com a amêndoa, começa a despertar o interesse de alguns produtores. A Nogam, da holding Sogepoc (família Ortigão Costa), é já o maior produtor de noz da Península Ibérica, com 615 hectares de nogueiral e uma unidade fabril única na Europa. Mas também a Agromais está a apostar nesta cultura (Ver Caixa).

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A família Ortigão Costa, conhecida mundialmente pelo tomate de indústria da Sugal, decidiu avançar em 2016 com a plantação de nogueiras no Alentejo, na região de Évora. Tendo inaugurado em 2021 uma unidade de processamento (limpeza, secagem, calibragem, descasque e embalamento do miolo) “de forma a assegurarmos toda a cadeia de valor”, explica à Agriterra Tiago Costa, CEO Agricultural Business da Sogepoc.

Esta unidade, com capacidade para trabalhar 6.000 toneladas de noz (os 4.000 que a Nogam irá produzir quando estiver em velocidade de cruzeiro, mais 2.000 ton de fruto que pretende ir buscar a outros produtores da região), é “a única na Europa com o processamento completo das nozes” e faz parte de um investimento de cerca de 50 milhões de euros do grupo.
Tiago Costa considera que “a noz é boa oportunidade de investimento”, salientando que a Beira Interior e o Alto Alentejo são zonas interessantes, porque a cultura da noz gosta de solos profundos e bem drenados e precisa de 700 a 800 horas de frio. Mas também importa ter tempo seco na colheita porque “quando chove a noz começa a abrir. Nós temos grande capacidade de recolha e secagem, conseguindo realizar toda a colheita, no máximo, em 20 dias”.

A Nogam apostou nas variedades Chandler, Howard e Tulare. “A Chandler é a mais representativa cerca de 80%. Produz bem, nas nossas condições, apesar de sermos diferentes dos Estados Unidos e do Chile. É a referência no mercado em termos de qualidade e a que tem o melhor preço”, diz-nos o diretor executivo.

A Nogam, da holding Sogepoc (família Ortigão Costa), é já o maior produtor de noz da Península Ibérica

A Beira Interior e o Alto Alentejo são zonas interessantes...
A Beira Interior e o Alto Alentejo são zonas interessantes, porque a cultura da noz gosta de solos profundos e bem drenados e precisa de 700 a 800 horas de frio.

Upgrade do modelo norte-americano

A Chandler é uma variedade de polpa clara, que enche bem a noz e tem casca mole, “sendo a melhor opção para competir com os EUA”, defende o CEO Agricultural Business da Sogepoc acrescentando que o modelo de produção em que a empresa apostou é similar ao norte-americano, mas “é um upgrade porque temos a consultoria dos nossos parceiros chilenos que aplicam conceitos de fruticultura à nogueira, pelo que acreditamos que vamos ter uma produtividade igual ou superior à dos EUA, com custos de produção idênticos ou até mais baixos”.

O responsável explica ainda à Agriterra que optaram por fazer camalhões maiores do que o habitual porque o solo onde estão os nogueirais não é da melhor qualidade e é muito heterogéneo e assim consegue-se evitar acumulação de água e concentra-se maior volume de solo para as raízes das árvores. Depois das análises ao solo decidiram também aplicar matéria orgânica (80ton/ha) nos camalhões.

O compasso escolhido foi de 7/5, “mas também experimentámos 7/2,5”, e fez-se poda de formação nos dois primeiros anos, com o formato de copa, ou seja de ‘pinheiro’, como fazem no Chile, ao contrário do formato em vaso utilizado nos EUA.

Tiago Costa adianta-nos que “a rega também foi diferente nos primeiros anos, para a planta desenvolver as raízes e explorar o maior volume de solo, com regas espaçadas mas muito profundas e acompanhadas de uma fertilização muito cuidada, para garantir produtividades elevadas”.
Tiago Costa, CEO Agricultural Business da Sogepoc
Tiago Costa, CEO Agricultural Business da Sogepoc.
O responsável assegura que os problemas fitossanitários da cultura são os normais, “nada de extraordinário”, que “não há muitas pragas” e que os nogueirais da Sogepoc estão em Modo de Produção Integrada. A nogueira começa a produzir habitualmente ao terceiro ano, mas em Portugal “como não há pólen só temos produção ao quarto ano”.

Exportação para a Europa é a grande aposta

A unidade de processamento deverá gerar “cerca de 100 postos de trabalho permanentes e também alguns temporários”, é um dos elementos da estratégia de “diversificação” da sociedade familiar e representa um investimento de “6,9 milhões de euros”, explica o responsável, adiantando que, desse investimento, 1,7 milhões de euros foram financiados pelo programa COMPETE 2020, em função da “inovação produtiva” que representa a unidade.
“Como vamos, de certa maneira, substituir a oferta americana no mercado europeu, que importa bastante noz, e nós próprios [Portugal] somos capazes de importar 70% do que consumimos, pretendemos ter uma oferta diferenciada que nos dá a perspetiva de vir a faturar entre 20 a 25 milhões de euros com esta unidade”, afirmou o diretor executivo na altura da inauguração da unidade.
Além da compra de noz a outros produtores nacionais, a Nogam quer igualmente estabelecer “parcerias com produtores chilenos”, que irão permitir complementar a colheita portuguesa com “colheita de contra estação do Chile”.
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Esta é uma aposta fortemente vocacionada para a exportação, que deverá representar “60% a 70%” das operações da fábrica”, a qual, apesar de estar a posicionar-se “também para o mercado português”, tem como objetivo “substituir a oferta americana” para mercados fortemente importadores, “nomeadamente Espanha, Itália e Alemanha”, oferecendo assim muito mais sustentabilidade, rastreabilidade e rapidez, devido à proximidade.
A empresa vende, por exemplo, para mercados abastecedores – “para Portugal também”, lembra o responsável –, com casca para Espanha e Itália e miolo para a Alemanha.
“Por um lado, vamos conseguir substituir a oferta americana, por outro, ao importar noz chilena com casca, vamos ser nós a parti-la aqui e a conseguir entregar aos clientes um produto mais fresco”, explica o responsável da Nogam. Isto porque o trajeto dos frutos entre os Estados Unidos e a Europa “dura cerca de 40 dias” e a noz é importada já em miolo, apesar de ser “sempre mais bem conservada dentro da casca”.
“O que vamos fazer é partir [a noz] próximo da encomenda, em quantidades de menor dimensão, portanto a encomenda pode ser mais pequena. Para todos os efeitos, vamos ser os únicos capazes de entregar noz fresca todo o ano, acabada de partir”, concluiu Tiago Costa.

“Vamos ser os únicos capazes de entregar noz fresca todo o ano, acabada de partir”, Tiago Costa, Nogam

Processamento da noz começa pelo descasque do ‘cascarrão verde’

O processamento começa pela eliminação do ‘cascarrão verde’ que envolve a noz seca no momento da colheita. Depois de uma lavagem da casca castanha, vai à secagem “a uma temperatura não acima de 35° e de forma gradual, durante cerca de 35h, um processo que é ajustado à humidade da noz à entrada”.
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Tiago Costa adianta: “após isso, separam-se por calibres e já pode ser vendida assim. Quando não conseguimos vender com casca e temos outros pedidos para miolo, passamos à zona de partir e aproveitamos o miolo. Este, depois, passa por processos de seleção ótica e manual que o separa em metades, quartos e pedaços, para ser embalado nestas diferentes dimensões”.

A Nogam vende noz para três segmentos de mercado: retalho; snacks e confeitarias. E complementa a oferta de noz também com amêndoa, porque possui igualmente 170ha de amendoal. Embora, “no caso da amêndoa só secamos e vendemos com casca”.

Agromais aposta na noz como cultura alternativa para os associados

A maior organização de produtores (OP) nacional de cereais e hortícolas, sedeada no Ribatejo, decidiu apostar na nogueira “como cultura alternativa, uma vez que tem margens favoráveis para o agricultor”, diz à Agriterra Susana Covão, engenheira agrícola, técnica da cultura da nogueira na Agromais.

A OP quis perceber se a região tinha condições para a cultura, uma vez que era habitual verem-se nogueiras, principalmente junto a poços. Juntou terrenos de vários associados interessados e, em 2017, começou a plantar nogueiras, com o apoio da Nogaltec, empresa espanhola (que já tem técnicos portugueses) especializada na cultura.

A Agromais tem agora 270ha de nogueiras, uma área que tem vindo a aumentar todos os anos. Sendo 260ha da variedade Chandler e 10h da Howard. “A área já é grande mas está dispersa por muitas pequenas parcelas”, refere Susana Covão.

Câmara estomática determina a rega

A base do modelo de condução da cultura é o perfil do solo e a condutividade. A rega é realizada com tubo duplo, seguindo as indicações das sondas de humidade mas também o resultado da câmara estomática. Ou seja, “cada agricultor tem uns saquinhos, tapa-se uma folha e põe-se lá dentro, faz-se pressão até sair água e consoante vários critérios – idade da planta, se tem produção ou não, etc. - rega-se de acordo com uma tabela que também é fornecida”, explica-nos a técnica.

Ao segundo ano termina todo o tipo de mobilização, refere Susana Covão, acrescentando que entre os camalhões, “na entrelinha, deixamos vegetação espontânea ou semeamos gramíneas e leguminosas, que se cortam e deixam no terreno”. O compasso é de 7/4,5 ou 5 e a primeira produção foi após a quinta primavera mas ainda foi fraca.

A aposta será no mercado nacional mas também na exportação – para Alemanha, França, Reino Unido e Turquia -, todavia “o preço varia muito consoante o calibre”. A noz será comercializada com “marca da Agromais” estando prevista a montagem de equipamento de lavagem, secagem e embalamento, que poderá evoluir para miolo (metades, quartos e pedaços).

Susana Covão diz-nos que nos primeiros anos fizeram prevenção para os fungos, adiantando que as principais pragas da cultura são o piolho (afídeos), a cicadela (cigarrinha verde), a cydia pommonella (bichado da fruta) e a zeuzera, enquanto as doenças mais comuns são as antracnoses e bacterioses da folha e do fruto.

A colheita é semi-mecânica, através de vibração para cima de panos, porque “ainda não compensa ter uma máquina dedicada”, mas a técnica salienta que um grupo de agricultores se prepara para investir neste equipamento.

Susana Covão
Susana Covão.

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