A União Europeia (UE) é o terceiro produtor mundial de citrinos com cerca de 6 500 000 toneladas, sendo que Espanha e Itália representam cerca de 80% da sua produção. Portugal, Grécia e Chipre representam o restante. Já os dados mais recentes conhecidos, que respeitam à campanha 2020/2021, dão conta de que, no nosso País, a produção cresceu cerca de 20%, sendo o calibre da fruta médio e a qualidade razoável, diz-nos José Oliveira, Presidente da Direção da AlgarOrange - Associação de Operadores de Citrinos do Algarve, que começa por contextualizar o enquadramento da produção nacional.
A pandemia, apesar de tudo, não provocou mossa revelante nos citrinos, ainda que tenha havidos constrangimentos naturais. “Costumava dizer que, de 2019 para 2020, o nosso setor estaria num oásis dentro da desgraça que atingia a economia nacional. Efetivamente, gerou-se uma perceção da parte do consumidor que a Vitamina C e os citrinos seriam uma alternativa para contrabalançar o vírus, e isso levou a uma grande procura por parte do mercado de citrinos, na Europa e em Portugal. Foi um excelente momento para o setor (campanha 2019/2020)”, recorda José Oliveira, também Presidente da CACIAL – Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve .
“A exportação não é por si só uma solução do ponto de vista do preço, de rentabilidade de produto, mas é mais uma porta para fazer face ao escoamento, e não estar completamente dependente do mercado nacional e da distribuição. Não podemos estar na Europa a competir pelo preço mas pela qualidade e, por isso, temo-nos batido muito pela certificação das laranjas, pela Indicação Geográfica Protegida”, sublinha.
A água assume outra dimensão preocupante no setor. O dirigente da CACIAL e da AlgarOrange reconhece que “não podemos dizer, de forma substantiva, que a água até agora tenha agravado substancialmente a qualidade da fruta, agravou o calibre (tamanho) e os custos brutalmente porque estamos há 12 meses consecutivos a regar quando num ano normal um produtor de citrinos rega sete meses”. E não tem dúvidas, “daqui para a frente as coisas vão agravar-se, sobretudo se não chover nos próximos três meses. E não é só a Citricultura que está em perigo nesta matéria, todas as culturas de regadio estão em causa”, avisa. E lembra que é essencial que se tomem medidas de racionalização do uso da água com uma campanha nas cidades, virada para os espaços verdes citadinos, ao invés de se diabolizar permanentemente o consumo de água na Agricultura. “O que é mais racional, deixar de produzir alimentos ou regar zonas de relvado?”, questiona.
A UE é o terceiro produtor mundial de citrinos com cerca de 6 500 000 toneladas, sendo que Espanha e Itália representam cerca de 80% da sua produção. Portugal, Grécia e Chipre representam o restante
Quanto a pragas e doenças, uma das principais preocupações dos citricultores é a doença bacteriana huanglongbing (HLB), e o vetor que propaga a doença (que já está no Algarve), a Trioza erytreae. “Estamos convencidos que se vai propagar por toda a região, o nosso maior receio é que chegue cá a bactéria. Quando sabemos que na Flórida (EUA) a produção caiu 70%, não quero imaginar como iremos sobreviver nesta situação”, antecipa.
A mosca da fruta é outra doença que preocupa o setor, com danos económicos enormes: “há muito que pedimos um plano de combate integrado, à semelhança do que se fez em Valência (Espanha) e que engloba as armadilhas, os machos esterilizados e os produtos fitossanitários. Além disto, era importante ter um sistema de Avisos em que se dê a indicação aos produtores onde e quando se devem fazer os combates e os lançamentos dos produtos”. Para isso, sustenta, é essencial ter um cadastro cítrico. E porque não há? À pergunta, José Oliveira é claro: “nunca houve disponibilidade de verbas oficiais para fazer um cadastro e há muitos anos que reclamos este trabalho. Não é só conhecer as áreas geográficas devidamente cadastradas da região, tem que se saber as variedades, os compassos, os porta-enxertos, conhecer a localização dos hospedeiros e onde estão os pomares abandonados, que são focos terríveis para as pragas”.
CACIAL: a trabalhar em prol dos citrinos há 58 anos
A CACIAL – Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve tem sede em Vale da Venda, concelho de Faro, e foi fundada a 5 de agosto de 1964. Conta atualmente com 40 associados, trabalha com 200 produtores, comercializa 35 milhões de quilos de fruta por ano e tem um volume de negócios que ascende a 25 milhões de euros.
A CACIAL foi reconhecida como Organização de Produtores a 15 de fevereiro de 1995, com jurisdição para a toda a província algarvia, tendo sido a primeira unidade do País a higienizar e embalar citrinos de forma industrial.
Em 1982, e através de um projeto da CEE, reapetrecha-se com equipamento mais moderno para laboração de citrinos. No ano de 1995, a CACIAL consegue aprovar um projeto que colocou os citrinos algarvios num patamar de excelência com o reconhecimento da Indicação Geográfica Protegida, (IGP).
O departamento técnico da CACIAL foi criado em outubro de 2000, na sequência da necessidade da racionalização de custos na produção, com menores e melhores intervenções fitossanitárias e preservação do meio ambiente, através da utilização de produtos com menor impacto nos ecossistemas e a mais-valia comerciais que daí podiam resultar.
Toda a atuação nessa altura tinha por base as regras da Proteção Integrada em citrinos. Atualmente tem por orientação as regras da Produção Integrada.
Recorde-se que a Produção Integrada é um sistema agrícola de produção de alimentos e outros produtos de alta qualidade que utiliza recursos e mecanismos de regulação natural, para substituir os fatores de produção agressivos ao meio ambiente e que assegura, a longo prazo, uma agricultura sustentável. Os pomares de citrinos encontram-se distribuídos pelos concelhos de Faro, Loulé, Albufeira, Silves, Tavira e Olhão.
Para dar resposta às exigências comerciais do mercado interno e externo a CACIAL optou por certificar a sua produção de acordo com as exigências dos vários clientes: Globalg.a.p, Produção Integrada, I.G.P., Clube Produtores Continente, Vida Auchan e Programa Origens.
O Departamento Técnico da CACIAL tem à disposição vários tipos de serviços:
AlgarOrange e a missão de defender os citrinos do Algarve
A AlgarOrange - Associação de Operadores de Citrinos do Algarve é uma associação empresarial sem fins lucrativos criada em 2018 com a missão de representar e defender os citrinos do Algarve.
Assume-se como a porta-voz oficial do setor e reúne, numa única entidade, as principais empresas e organizações que têm como objetivo primordial a produção sustentada de citrinos de qualidade.
Com 11 associados, a AlgarOrange representa cerca de 40% da produção de citrinos no Algarve e 30% da produção nacional de citrinos.
Todos os associados seguem o modo de Produção Integrada, com respeito pelo meio ambiente e com recurso mínimo a pesticidas.
A AlgarOrange é defensora de um modelo de negócio sustentável e de proximidade com os produtores, guiado por este fio condutor comum, transversal às diferentes fases de produção: desde a preparação dos terrenos, à adubação e desinfeção dos pomares, da rega e poda até à colheita e transporte dos citrinos. A missão? Garantir que os citrinos chegam aos consumidores finais no menor tempo possível e com a máxima frescura.
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Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa