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Radiografia do setor dos citrinos em Portugal

Citricultura: setor teme situação crítica em 2022 e reclama cadastro

Ana Clara14/03/2022
O aumento dos custos de produção, a situação crítica da água, a falta de mão-de-obra e as pragas e doenças que afetam os pomares são os principais problemas diagnosticados pelo setor. O Algarve representa 90% da produção nacional sendo que a exportação ronda os 25%. Falamos com José Oliveira, Presidente da Direção da AlgarOrange - Associação de Operadores de Citrinos do Algarve, que traça um diagnóstico no terreno e, entre outros desafios, reclama um cadastro para a Citricultura portuguesa, essencial para tornar a cultura mais competitiva.
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A União Europeia (UE) é o terceiro produtor mundial de citrinos com cerca de 6 500 000 toneladas, sendo que Espanha e Itália representam cerca de 80% da sua produção. Portugal, Grécia e Chipre representam o restante. Já os dados mais recentes conhecidos, que respeitam à campanha 2020/2021, dão conta de que, no nosso País, a produção cresceu cerca de 20%, sendo o calibre da fruta médio e a qualidade razoável, diz-nos José Oliveira, Presidente da Direção da AlgarOrange - Associação de Operadores de Citrinos do Algarve, que começa por contextualizar o enquadramento da produção nacional.

A pandemia, apesar de tudo, não provocou mossa revelante nos citrinos, ainda que tenha havidos constrangimentos naturais. “Costumava dizer que, de 2019 para 2020, o nosso setor estaria num oásis dentro da desgraça que atingia a economia nacional. Efetivamente, gerou-se uma perceção da parte do consumidor que a Vitamina C e os citrinos seriam uma alternativa para contrabalançar o vírus, e isso levou a uma grande procura por parte do mercado de citrinos, na Europa e em Portugal. Foi um excelente momento para o setor (campanha 2019/2020)”, recorda José Oliveira, também Presidente da CACIAL – Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve .

Em 2021, já em plena pandemia, a história não foi bem assim: “houve menos procura, a produção equilibrou para o normal, com os preços a ajustarem-se”. Nesse ano, lembra o produtor, “produziu-se e vendeu-se dentro da normalidade”, sendo que “o setor nunca foi atingido pela crise, bem como o escoamento”.
Em termos de produção, por exemplo, em 2020, Portugal registou à volta de 420 mil toneladas, só no Algarve foram 368 mil toneladas (90% do total do País), comprovando o estatuto da região como líder na produção nacional. Já os valores da exportação, indica José Oliveira, rondam os 25%.
Para isso também contribuiu a exportação para a Alemanha, iniciada há dois anos, através da cadeia de supermercados Lidl, com três empresas a associarem-se ao projeto. “Em 2021, exportamos 1600 toneladas para o Lidl. Se tivéssemos condições para fornecer mais, eles comprariam mais. E é nisso que continuamos a trabalhar, sendo que estamos a tentar que mais empresas tenham condições para se juntar a esta iniciativa”, afiança.
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Além da Alemanha, os mercados de excelência da exportação de citrinos portugueses são Espanha, França, Itália, Suíça, Canadá e países lusófonos (Cabo Verde, Angola, etc.)

“A exportação não é por si só uma solução do ponto de vista do preço, de rentabilidade de produto, mas é mais uma porta para fazer face ao escoamento, e não estar completamente dependente do mercado nacional e da distribuição. Não podemos estar na Europa a competir pelo preço mas pela qualidade e, por isso, temo-nos batido muito pela certificação das laranjas, pela Indicação Geográfica Protegida”, sublinha.

A nível nacional, avança o responsável, a Grande Distribuição representa entre 75 e 80%. “Do ponto de vista de organização das empresas, a Grande Distribuição tem vantagens e inconvenientes, representando o grande fator de escoamento do produto”. Todavia, alerta, “vamos ver até quando os operadores do mercado tradicional vão aguentar”.

Fatores de produção, água e mão-de-obra

São vários os problemas que afetam a Citricultura portuguesa. A começar pelo aumento dos custos dos fatores de produção: “este último ano tem sido terrível, e não conseguimos prever todas as consequências que daqui podem advir, com o aumento constante dos custos. Temos produtos que utilizamos, como é o caso do cartão, que em 2021, teve seis aumentos, de 30, 40, 50%”. Junte-se a isso os custos dos combustíveis e da eletricidade e o cenário atual suportado pelas empresas é tudo menos animador.

A água assume outra dimensão preocupante no setor. O dirigente da CACIAL e da AlgarOrange reconhece que “não podemos dizer, de forma substantiva, que a água até agora tenha agravado substancialmente a qualidade da fruta, agravou o calibre (tamanho) e os custos brutalmente porque estamos há 12 meses consecutivos a regar quando num ano normal um produtor de citrinos rega sete meses”. E não tem dúvidas, “daqui para a frente as coisas vão agravar-se, sobretudo se não chover nos próximos três meses. E não é só a Citricultura que está em perigo nesta matéria, todas as culturas de regadio estão em causa”, avisa. E lembra que é essencial que se tomem medidas de racionalização do uso da água com uma campanha nas cidades, virada para os espaços verdes citadinos, ao invés de se diabolizar permanentemente o consumo de água na Agricultura. “O que é mais racional, deixar de produzir alimentos ou regar zonas de relvado?”, questiona.

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Outro problema que preocupa o setor é a mão-de-obra, transversal na Agricultura portuguesa, e que afeta igualmente os citrinos no Algarve. “Gostávamos que houvesse simplificação de procedimentos que permitissem às empresas contratarem com todas as condições legais. Isto é muito difícil de conseguir. Temos falta de mão-de-obra, sem dúvida, e estamos muito preocupados com a chegada do verão, já que tememos que a retoma do turismo leve a que muitos trabalhadores que agora estão na Agricultura vão para o Turismo. Não é uma questão de valor pago, mas simplesmente porque as pessoas preferem ir trabalhar para o Turismo”, assevera, adiantando que a CACIAL, por exemplo, conta anualmente, em média, com o trabalho de 110 pessoas e 70/80 na apanha da fruta.

A UE é o terceiro produtor mundial de citrinos com cerca de 6 500 000 toneladas, sendo que Espanha e Itália representam cerca de 80% da sua produção. Portugal, Grécia e Chipre representam o restante

Pragas, doenças e a falta de um cadastro

Quanto a pragas e doenças, uma das principais preocupações dos citricultores é a doença bacteriana huanglongbing (HLB), e o vetor que propaga a doença (que já está no Algarve), a Trioza erytreae. “Estamos convencidos que se vai propagar por toda a região, o nosso maior receio é que chegue cá a bactéria. Quando sabemos que na Flórida (EUA) a produção caiu 70%, não quero imaginar como iremos sobreviver nesta situação”, antecipa.

No que respeita às medidas preventivas, José Oliveira refere que se procedeu ao lançamento de insetos e atualmente está a tentar-se evitar a propagação em todo o Algarve. Neste momento, a doença está situada apenas geograficamente em Vila do Bispo e Aljezur.

A mosca da fruta é outra doença que preocupa o setor, com danos económicos enormes: “há muito que pedimos um plano de combate integrado, à semelhança do que se fez em Valência (Espanha) e que engloba as armadilhas, os machos esterilizados e os produtos fitossanitários. Além disto, era importante ter um sistema de Avisos em que se dê a indicação aos produtores onde e quando se devem fazer os combates e os lançamentos dos produtos”. Para isso, sustenta, é essencial ter um cadastro cítrico. E porque não há? À pergunta, José Oliveira é claro: “nunca houve disponibilidade de verbas oficiais para fazer um cadastro e há muitos anos que reclamos este trabalho. Não é só conhecer as áreas geográficas devidamente cadastradas da região, tem que se saber as variedades, os compassos, os porta-enxertos, conhecer a localização dos hospedeiros e onde estão os pomares abandonados, que são focos terríveis para as pragas”.

O dirigente da AlgarOrange realça que este problema não existe, por exemplo, em Valência, em que o Governo regional gasta 9 a 10 milhões de euros por ano neste combate.
“Já fizemos várias sessões de esclarecimento e debates, mas a questão tem sido sempre falta de dinheiro”, lamenta. O responsável fala ainda de outro problema que prejudica os produtores portugueses: “a UE permite que a fruta que vem do exterior, nomeadamente da África do Sul, tenha limites mínimos de resíduos químicos, e que são proibidos na UE. Já o produtor português não o pode fazer”.
Por tudo isto, José de Oliveira antecipa um ano de 2022 com várias preocupações. À data desta conversa – fevereiro – o responsável refere que “há muita fruta de inverno que não chegou a ser comercializada, temos muito receio que a falta de água provoque uma queda acentuada das duas próximas variedades. E isso a acontecer, juntamente com o preço dos combustíveis e fatores de produção, pode provocar um ano muito difícil para a Citricultura nacional”.
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CACIAL: a trabalhar em prol dos citrinos há 58 anos

A CACIAL – Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve tem sede em Vale da Venda, concelho de Faro, e foi fundada a 5 de agosto de 1964. Conta atualmente com 40 associados, trabalha com 200 produtores, comercializa 35 milhões de quilos de fruta por ano e tem um volume de negócios que ascende a 25 milhões de euros.

A CACIAL foi reconhecida como Organização de Produtores a 15 de fevereiro de 1995, com jurisdição para a toda a província algarvia, tendo sido a primeira unidade do País a higienizar e embalar citrinos de forma industrial.

Em 1982, e através de um projeto da CEE, reapetrecha-se com equipamento mais moderno para laboração de citrinos. No ano de 1995, a CACIAL consegue aprovar um projeto que colocou os citrinos algarvios num patamar de excelência com o reconhecimento da Indicação Geográfica Protegida, (IGP).

O departamento técnico da CACIAL foi criado em outubro de 2000, na sequência da necessidade da racionalização de custos na produção, com menores e melhores intervenções fitossanitárias e preservação do meio ambiente, através da utilização de produtos com menor impacto nos ecossistemas e a mais-valia comerciais que daí podiam resultar.

Toda a atuação nessa altura tinha por base as regras da Proteção Integrada em citrinos. Atualmente tem por orientação as regras da Produção Integrada.

Recorde-se que a Produção Integrada é um sistema agrícola de produção de alimentos e outros produtos de alta qualidade que utiliza recursos e mecanismos de regulação natural, para substituir os fatores de produção agressivos ao meio ambiente e que assegura, a longo prazo, uma agricultura sustentável. Os pomares de citrinos encontram-se distribuídos pelos concelhos de Faro, Loulé, Albufeira, Silves, Tavira e Olhão.

Para dar resposta às exigências comerciais do mercado interno e externo a CACIAL optou por certificar a sua produção de acordo com as exigências dos vários clientes: Globalg.a.p, Produção Integrada, I.G.P., Clube Produtores Continente, Vida Auchan e Programa Origens.

O Departamento Técnico da CACIAL tem à disposição vários tipos de serviços:

  • Visitas técnicas semanais aos produtores
  • Prestação de serviços agrícolas
  • Arrendamento de pomares com respetiva exploração.

AlgarOrange e a missão de defender os citrinos do Algarve

A AlgarOrange - Associação de Operadores de Citrinos do Algarve é uma associação empresarial sem fins lucrativos criada em 2018 com a missão de representar e defender os citrinos do Algarve.

Assume-se como a porta-voz oficial do setor e reúne, numa única entidade, as principais empresas e organizações que têm como objetivo primordial a produção sustentada de citrinos de qualidade.

Com 11 associados, a AlgarOrange representa cerca de 40% da produção de citrinos no Algarve e 30% da produção nacional de citrinos.

Todos os associados seguem o modo de Produção Integrada, com respeito pelo meio ambiente e com recurso mínimo a pesticidas.

A AlgarOrange é defensora de um modelo de negócio sustentável e de proximidade com os produtores, guiado por este fio condutor comum, transversal às diferentes fases de produção: desde a preparação dos terrenos, à adubação e desinfeção dos pomares, da rega e poda até à colheita e transporte dos citrinos. A missão? Garantir que os citrinos chegam aos consumidores finais no menor tempo possível e com a máxima frescura.

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