A BKT aborda o tema da Agricultura Biológica no seu sétimo episódio do Global Trends. Uma prática antiga que volta a estar no centro das atenções com a tomada de consciência dos consumidores sobre questões ambientais, saúde e bem-estar. Contudo, tendo em conta a necessidade global, pode esta realmente ser considerada a agricultura do futuro?
Nos últimos anos, o sistema agrícola global teve de enfrentar uma série de enormes desafios, da emergência climática à segurança alimentar. Neste contexto, a consciência do impacto humano nas mudanças climáticas, nos ecossistemas e nos alimentos é cada vez mais acentuada. A maioria dos países do mundo começa a considerar a agricultura biológica como uma potencial alternativa para mitigar os efeitos adversos.
Mas será a agricultura biológica realmente mais sustentável? O mesmo tipo de alimento biológico é mais saudável em comparação com um produto obtido por meio da agricultura convencional? E que papel desempenha a segurança alimentar num contexto cada vez mais desglobalizado que tende para uma produção de tipo local? Estes são os temas abordados pelos convidados e especialistas no sétimo episódio do Global Trends, o novo formato da BKT Network dedicado aos macrotemas que caraterizam a agricultura global.
“Não existem dados suficientes disponíveis para provar que as diferenças entre os produtos biológicos e os obtidos através da agricultura convencional são todas significativas para a saúde humana. A diferença fundamental para cada pessoa é a variedade dos alimentos que fazem parte da sua alimentação. O nível de vitaminas ou minerais nas colheitas pode variar, mas a diferença reside mais no tipo de cultura do que na prática agronómica”, explica Barbara Bray, funcionária honorária para os assuntos internacionais na The Nutrition Society e copresidente da 2022 Oxford Farming Conference.
E acrescenta: “o sistema de rotulagem também tem um papel específico. Os consumidores estão cada vez mais confusos com o 'rumor' de rótulos de marketing que destacam alguns aspetos em vez de outros. O foco, por exemplo, é a origem ética dos alimentos. Contudo, isto não significa necessariamente que seja biológico”.
A agricultura biológica tem certamente promovido a consciência de que a produção de alimentos precisa de sofrer alterações substanciais quanto ao seu impacto ambiental. “Agricultores e consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto que a gestão do solo tem na saúde do nosso planeta e, como resultado, na saúde individual das pessoas. Poderão existir perspetivas diferentes sobre uma alternativa eficaz, mas a agricultura orgânica, bem como a agricultura regenerativa, trouxeram a questão para a luz da ribalta. E todos perceberam que há necessidade de mudança”, declara Jeff Moyer, CEO do Rodale Institute, adiantando que, "em particular, a pandemia reforçou a necessidade de dispor de alimentos mais saudáveis e produzidos localmente. Isto aplica-se ainda mais às novas gerações, as quais preguntam com cada vez mais frequência como é que se produzem os alimentos que consumimos e como é que afetam a nossa saúde”.
O solo é um elemento-chave para este impulso em direção ao biológico, uma vez que este último não é uma fonte renovável. A velocidade de degradação pode ser rápida, enquanto que os processos de formação e regeneração são muito lentos. “Temos de inverter a maré”, diz Roger Kerr, CEO da Organic Farmers & Growers e administrador do Organic Research Centre. “O nosso sistema alimentar tem por base fontes finitas. Atingimos o limite em termos de utilização de produtos químicos. Há uma necessidade real de mudar a forma como produzimos os nossos alimentos, e os alimentos biológicos é uma das opções disponíveis – mesmo que não seja a única. Porém, é de salientar o facto de a agricultura biológica apresentar uma inclinação natural para a inovação, uma atitude progressiva para ultrapassar os desafios devido a regulamentos rigorosos, e encontrar soluções alternativas. Assim, também o diálogo entre agricultores, que trocam ideias e se comparam, tem aumentado”, vinca.
A agricultura biológica levou certamente a uma maior consciência do que vamos produzir e consumir. Cristina Micheloni, da associação italiana de agricultura biológica, explica o seu ponto de vista sobre este aspeto: “em Itália, a agricultura orgânica está bem encaminhada, correspondendo a 16,6% da agricultura nacional, mas uma grande quantidade é destinada à exportação. O consumo de alimentos biológicos deve melhorar significativamente. Não só neste país. Para atingir objetivos importantes a nível global, temos mesmo de mudar os nossos hábitos alimentares: reduzir o consumo de alimentos de origem animal e reduzir os resíduos. Atualmente, deitamos um terço da nossa produção ao lixo! E devemos também impulsionar o bio para a cadeia alimentar. Esta é a única forma de chegar ao ponto de utilizarmos a produção biológica à escala global, alimentando 10 mil milhões de pessoas, sem necessidade de aumentar ainda mais as áreas cultivadas”.
O episódio completo está disponível aqui.
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Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa