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Modelos de fenologia da videira utilizados como ferramentas de suporte à decisão na Região Demarcada do Douro

Samuel Reis1* e João A. Santos2

1 CoLAB VINES&WINES - Collaborative Laboratory for the Portuguese Wine Sector, Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), Edifício Centro de Excelência da Vinha e do Vinho, Régia Douro Park, 5000-033 Vila Real, Portugal

2 Centro de Investigação e Tecnologia de Ciências Agronómicas e Florestais (CITAB), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), 5000-801 Vila Real, Portugal

*Email: samuel.reis@advid.pt

22/07/2022

1. Resumo

Nas últimas décadas, a fenologia da videira tem-se alterado em resposta ao aumento da temperatura. Deste modo, as previsões resultantes dos modelos de fenologia são importantes para prever os possíveis impactos. O CoLAB da Vinha e do Vinho/ADVID desenvolveu, com a UTAD, modelos de fenologia que permitem prever os estados fenológicos das castas, o que se traduz numa ferramenta extremamente útil à tomada de decisão dos seus associados. Nesse contexto, este trabalho pretende mostrar, como exemplo, as previsões da floração da videira na Região Demarcada do Douro em 2022.

2. Introdução

Antecipar o provável impacto das alterações climáticas na fenologia da videira (Vitis vinifera L.) será essencial, dado ser uma cultura de elevada importância económica em Portugal. Assim, a previsão das possíveis alterações pode ser baseada em simulações utilizando modelos de fenologia (Reis et al., 2022). Esses modelos (exemplo: Sigmoide proposto por Hänninen, 1990) podem avaliar o desenvolvimento da fenologia em diferentes condições climáticas. Por isso, têm sido aplicados para o abrolhamento, floração e pintor com o intuito de ajudar a compreender o comportamento de cada casta.

O presente trabalho tem como objetivo exemplificar as previsões da floração de 2022 na Região Demarcada do Douro (RDD), utilizando o modelo Sigmoide, e tendo por base os dados recolhidos pelos Associados da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) no âmbito do seu ‘Observatório Vitícola’.

3. Metodologia

Os modelos de fenologia da videira têm sido melhorados pelo CoLAB da Vinha e do Vinho/ADVID, em estreita colaboração com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, desde o primeiro boletim informativo publicado em 2020. No âmbito do projeto ‘Observatório Vitícola’ (2014–2021), os associados da ADVID registam as datas do abrolhamento, isto é, quando atinge 50 % do estado fenológico numa dada parcela. As parcelas usadas para as previsões da floração foram estrategicamente selecionadas e estão localizadas em cada uma das três sub-regiões da RDD, nomeadamente 3 no Baixo Corgo, 6 no Cima Corgo e 3 no Douro Superior, conforme ilustrado na Figura 1. As estações meteorológicas, das quais se recolhem dados diários de temperatura, encontram-se perto das parcelas (< 10 km), sendo que a data do abrolhamento em cada uma e a evolução da temperatura são variáveis de entrada relevantes a ter em conta para o modelo de previsão.
O boletim informativo da floração seguiu dois passos: i) comparação do abrolhamento observado de 2022 com a média 2014–2021; ii) previsões para o período da floração nas parcelas referidas anteriormente com as castas Touriga Francesa, Touriga Nacional e Moscatel Galego.
Figura 1...
Figura 1. Distribuição das parcelas de referência (D, H, I, M, N, O, P, R, S, T, U e V) ao longo das três sub-regiões (Baixo e Cima Corgo e Douro Superior) na Região Demarcada do Douro (RDD). O rio Douro está também representado em linha azul.

4. Resultados

4.1. As datas observadas no período abrolhamento 2022

De acordo com o modelo, previa-se que o abrolhamento ocorresse com atraso ou dentro do período normal, relativamente à média observada 2014–2021, para as castas Touriga Francesa e Touriga Nacional, nas três sub-regiões. Esse resultado esteve de acordo com o observado em campo, à exceção da parcela U. O período do abrolhamento decorreu de 10 a 28 de março nas parcelas monitorizadas e ilustradas na Figura 2.
Figura 2. Datas do abrolhamento em 2022 e médias (2014–2021) nas parcelas monitorizadas...
Figura 2. Datas do abrolhamento em 2022 e médias (2014–2021) nas parcelas monitorizadas. As parcelas a cor azul (R e V) corresponderam a um atraso relativamente à média observada. Nas parcelas a cor verde (M, N, O, S e T), o abrolhamento ocorreu no período normal. Por último, a cor de laranja correspondeu à parcela U, uma vez que antecipou.

4.2. Previsões para o período da floração 2022

Os dados meteorológicos (principalmente a temperatura média diária) foram atualizados até 1 de maio nas 12 parcelas a fim de prever a floração nas castas Touriga Francesa, Touriga Nacional e Moscatel Galego. De acordo com o modelo, as datas previstas variaram de 12 a 31 de maio em função das sub-regiões e castas (Figura 3). Em geral, a previsão era de que as castas Touriga Francesa, Touriga Nacional e Moscatel Galego estariam dentro do período normal nas três sub-regiões (em comparação com a média 2014–2021). Relativamente às datas observadas em campo, estas variaram de 12 a 26 de maio, sendo a qualidade das previsões atestada pela comparação entre datas previstas pelo modelo e observadas, uma vez que o erro associado foi igual ou inferior a 5 dias, à exceção da parcela V.
Figura 3. Datas previstas da floração em 2022. As parcelas a cor azul (R e V) corresponderiam a um atraso relativamente à média observada...
Figura 3. Datas previstas da floração em 2022. As parcelas a cor azul (R e V) corresponderiam a um atraso relativamente à média observada. Nas parcelas a cor verde (D, H, I, M, N, O, P, S e T), a floração ocorreria no período normal. Por último, a cor de laranja corresponde à parcela U, que anteciparia.

Conclusões

Os resultados obtidos pelo modelo da floração revelam uma grande capacidade de previsão nas castas selecionadas, uma vez que o erro associado às datas previstas é de +/- 5 dias. Deste modo, as previsões a curto-prazo obtidas são de elevada importância para uma correta tomada de decisão nas várias operações a realizar na vinha por parte do viticultor.

Referências Bibliográficas

  • Hänninen, H. (1990). Modelling bud dormancy release in trees from cool and temperate regions. Acta For. Fenn., 213, 1–47, doi:10.14214/aff.7660.
  • Reis, S.; Martins, J.; Gonçalves, F.; Carlos, C.; Santos, J.A. (2022). European Grapevine Moth and Vitis vinifera L. Phenology in the Douro Region: (A)synchrony and Climate Scenarios. Agronomy 12, no. 1: 98. https://doi.org/10.3390/agronomy12010098.

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