Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

Produtores do Algarve respondem massivamente à I Conferência Técnica do Abacate

Sónia Ramalho30/06/2023
Cerca de 90% dos produtores de abacate do Algarve fizeram questão de marcar presença na I Conferência Técnica do Abacate, que decorreu a 16 de maio no Grande Auditório da Universidade do Algarve e cuja organização esteve a cargo da revista Agriterra e da Trops.
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Mais de 200 pessoas assistiram às palestras de especialistas de várias áreas relacionadas com o cultivo do abacate e que abordaram temas tão variados como as particularidades do cultivo e a sua viabilidade no Algarve, aos problemas de rega relacionados com o consumo de água, à polinização assistida, fungos aéreos ou às vantagens do abacate clonal.

Se em 2013 existiam 300 hectares de abacateiros plantados, este número aumentou seis vezes até 2019, atingindo os 2600 hectares no final de 2021. Destes, mais de 90% estão no Algarve, razão pela qual os produtores da região têm de estar atentos às particularidades do seu cultivo e principalmente onde devem investir para ter melhores resultados.

David Pozo, diretor da área agroalimentar da Interempresas Media, que edita em Portugal a revista Agriterra, começou por agradecer o entusiasmo com que os agricultores responderam ao convite para marcarem presença na I Conferência Técnica do Abacate, “cuja primeira edição é só um princípio de um longo caminho de jornadas e eventos que vão chegar nos próximos meses como apoio a agricultores que querem apostar em cultivos de presente e de futuro”.

Já Pedro Valadas Monteiro, diretor geral da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, relembrou a importância da agricultura no contexto mundial. “Hoje em dia enfrentamos um conjunto de constrangimentos e a cultura de abacate tem alguns problemas, nomeadamente as conotações com o chamado ‘ouro verde’. Temos uma opinião publica e uma sociedade civil atentas a estas notícias e a única maneira de combater esta desinformação passa por mostrar as boas práticas e não ter receio de abrir as explorações ao exterior. Mostrar as boas tecnologias, o bom trabalho e é por isso que eventos desta natureza são importantes, pois abrem as portas da agricultura aos media e fazedores de opinião”.

David Pozo, diretor da área agroalimentar da Interempresas Media, que edita em Portugal a revista Agriterra
David Pozo, diretor da área agroalimentar da Interempresas Media, que edita em Portugal a revista Agriterra
Pedro Valadas Monteiro, diretor geral da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, na sessão de abertura
Pedro Valadas Monteiro, diretor geral da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, na sessão de abertura

Abacate: 4º fruto com maior volume de mercado

Coube a Enrique Colliles, diretor geral da TROPS, inaugurar o evento com uma palestra sobre o mercado do abacate e as suas perspetivas na Península Ibérica. Apesar do abacate ser a 8ª fruta no mundo em volume de consumo (dados de 2021), é o 4º fruto com maior volume de mercado, já que tem um preço médio superior face à maioria das frutas.
Enrique Colliles, diretor geral da TROPS
Enrique Colliles, diretor geral da TROPS
“Como existe um crescimento do consumo, o seu cultivo é muito atrativo para investir, como aconteceu em países como o Perú, México, Colômbia, Marrocos ou Israel, que já investiram bastante em plantações de abacate”, indicou Enrique Colliles, que partilhou vários gráficos com o volume de exportações dos maiores países produtores de abacate, tendo revelado como esta realidade pode afetar os produtores portugueses.

“Se os preços este ano pareciam altos, nos próximos tempos se estas novas plantações distribuídas pelos vários países entrarem em produção vamos ter um cenário à volta dos 2€ por quilo, uma vez que a oferta pode ser superior à procura”, alertou. Assim, se a oferta está a aumentar, a qualidade passa a ser essencial. “Sem qualidade não se pode vender no mercado.”

Será o abacate uma excelente alternativa?

Face a todas estas condicionantes, será que o abacate ainda é uma excelente alternativa? Enrique Colliles não tem tanta certeza. “Para investir agora no abacate é necessário analisar e perceber se a região é produtiva, já que nem todas as zonas são boas. O mercado começa a estar sobre abastecido, mas temos o clima a nosso favor. Só com uma boa qualidade é que vamos conseguir a fidelização dos consumidores.”
Sobre as particularidades do cultivo do abacate e a sua viabilidade no Algarve, Amílcar Duarte, professor adjunto da Universidade do Algarve, começou por contar um pouco da história de um fruto que “só a partir de meados do século XX é que suscitou interesse que justificasse a plantação de pomares de abacateiros. Um dos três primeiros pomares com rega localizada foi plantado entre 1973 e 1975. Passaram mais de 40 anos até a cultura se expandir”, recordou, e “em 2021 ocupava 2230 ha, 4,4% das culturas permanentes no Algarve. Ou seja, não podemos falar de uma invasão de abacateiros no Algarve, até porque não há condições para isso”.

Quanto à produção de abacate, segundo o professor “podemos plantar abacateiros em diferentes zonas do país, mas têm de ter microclimas e a probabilidade de geada deve ser baixa, já que é um fruto sensível à geada, bem como ao encharcamento”.

Amílcar Duarte, professor adjunto da Universidade do Algarve, começou por contar um pouco da história do abacate
Amílcar Duarte, professor adjunto da Universidade do Algarve, começou por contar um pouco da história do abacate

Risco de matar a galinha dos ovos de ouro

No que diz respeito às doenças, Amílcar Duarte notou que, apesar de ser uma cultura “com poucas pragas e doenças introduzidas em Portugal, existe o risco de introdução dessas doenças pelo perigo da movimentação de material vegetal. A facilidade com que vamos ao continente americano e trazer uma variedade de lá faz com que possamos estar a trazer a desgraça do setor, pelas doenças e pragas”.

É por isso que o professor sublinhou ser fundamental “não trazer plantas de outros países, sobretudo do continente americano, mas caso aconteça devem ser de plantações certificadas, com passaporte fitossanitário. Tenham isto em atenção senão podemos estar a matar a galinha dos ovos de ouro”.

Em termos de rega, e tendo em conta as exigências hídricas face a outras culturas que gastam mais água, como o milho, Amílcar Duarte indicou que “para os pomares da região do Algarve com sistemas de rega gota-a-gota, com um compasso de referência de 5,5m x 6m, podemos estimar as seguintes dotações de rega mensais (m3/ha): 920m3/ha – 101 L/árvore/dia e 1600m3/ha – 176 L/árvore/dia”.

Tendo em conta que é uma cultura exigente em água, já que não tolera a seca nem a rega em demasia, “temos de fazer um esforço para reduzir o consumo de água”, referiu o professor, que destacou projeto Agro+Eficiente, que “procura agricultores com pomares em produção disponíveis para colaborar com o projeto”.

E tendo em conta o excesso de notícias negativas relacionadas com a cultura do abacate, nomeadamente porque consome muita água, Amílcar Duarte destacou a importância de ter isso em consideração e “jogar com a ideia de o abacate ser um fixador de carbono, já que temos alguns dados de ensaios em como o abacateiro contribui para o aumento da matéria orgânica no solo”.

Como combater o stresse abiótico

Na palestra seguinte coube a Vicente Navarro, gestor de cultura de citrinos e subtropicais da ADP Fertilizantes-Grupo Fertiberia, abordar as consequências dos stresses abióticos, nomeadamente “atividade enzimática, danos severos nas plantas, queda das folhas, flores e frutos recém vingados ou stress hídrico”, pelo que foi estudado “um sistema de defesa antioxidante para que a planta tenha maior concentração de antioxidantes enzimátcos e não enzimáticos.”
Vicente Navarro, gestor de cultura de citrinos e subtropicais da ADP Fertilizantes-Grupo Fertiberia
Vicente Navarro, gestor de cultura de citrinos e subtropicais da ADP Fertilizantes-Grupo Fertiberia
A tecnologia Anti Ox – incorporada nos fertilizantes Tecnifol, parte de “substâncias bioestimulantes com poder antioxidante e nutricional. Ativam continuamente as defesas das células e combatem o stress oxidativo, aumentando o potencial produtivo das culturas”, destacou Vicente Navarro, que notou que a “tecnologia tem pouco menos de um ano no mercado”.
Já Pablo Carnicero, diretor de marketing e comunicação da Regaber, focou atenções na forma de melhorar a produção de abacate. “Temos de ver quais os problemas para não conseguir produções elevadas: o solo, a queda dos frutos e o equilíbrio da água e ar no substrato, já que o abacate necessita de um substrato muito oxigenado.”
Pablo Carnicero, diretor de marketing e comunicação da Regaber
Pablo Carnicero, diretor de marketing e comunicação da Regaber
Na sua palestra ‘Cultivando o futuro: como reduzir o consumo de água na produção de abacates’, Pablo Carnicero notou que “se regamos com muita água vamos ter problemas, mas com volumes pequenos e espaçados, desde que não encharque o solo, a produção vai ser melhor. Um dos desafios está relacionado com o sistema radicular, que está muito à superfície, e é sensível ao stresse hídrico”.

E apresentou quatro tendências para aumentar a produção: “aumento na densidade de cultivo, melhoria na fertilização, poda produtiva e sistemas de irrigação ultrabaixo caudal”.

12 colmeias por hectare e abacate clonal

Para abordar os desafios da polinização, João Caço, diretor executivo da Hubel Verde, começou por explicar a floração hermafrodita (masculino e feminino) do abacate, bem como os seus polinizadores, nomeadamente os indiretos, como o caso das abelhas. “Em Portugal, a nossa abelha é mais atraída por flores com nectários maiores e não consegue que o seu abdómen toque nos estames e consiga colher pólen suficiente para fazer uma boa polinização. Por isso é que é necessário envolver tantas abelhas (6 colmeias por ha) na produção de abacate, mas sei de casos em que se colocam 12 colmeias por ha”.
João Caço, diretor executivo da Hubel Verde
João Caço, diretor executivo da Hubel Verde
De seguida, Elsa Grande Abascal, engenheira agrónoma e diretora técnica adjunta dos Viveiros Brokaw Espanha, explicou as diferenças entre uma planta clonal e uma planta de sementes. “Numa planta clonal usamos um porta enxertos que está reproduzido vegetativamente, enxerta-se a planta e mantemos as características idênticas da planta original, o ADN é mantido intacto. Já numa planta de sementes há um intercâmbio de genes e uma polinização cruzada. Temos em cada semente uma genética diferente, cada árvore vai ter raízes e um comportamento diferente, não há homogeneidade”.
Elsa Grande Abascal, engenheira agrónoma e diretora técnica adjunta dos Viveiros Brokaw Espanha
Elsa Grande Abascal, engenheira agrónoma e diretora técnica adjunta dos Viveiros Brokaw Espanha
Entre as vantagens da planta clonal, Elsa Grande Abascal destacou que usam “material que está testado, provado e que sabemos o seu comportamento. Conhecemos as características que têm e como se vai comportar. Porque é importante usar modelos clonais? Porque estamos perante uma procura importante de abacate, mas também existe muita competitividade e temos de ser eficientes no uso de recursos”. Entre as vantagens, a engenheira agrónoma destacou “a produtividade, homogeneidade e tolerância a condições extremas”, e apresentou gráficos com dados de produtividade do abacate clonal, que “aumenta em cerca de 50% a produção. A uniformidade das plantações clonais permite fazer plantações mais intensivas, as árvores são mais eficientes e fáceis de manter.”

Abacate: um grande melhorador do solo agrícola

Durante a tarde, vários oradores defenderam que Portugal não deve competir em matéria de preço, mas sim na qualidade do abacate, como o abacateiro pode funcionar como fixador de carbono (e jogar com esta informação para melhorar a “imagem” do abacate), de que forma a rega gota a gota, na quantidade adequada e no momento certo, pode fazer a diferença e como a dessalinização pode ser um caminho a seguir para enfrentar a seca que se faz sentir no país.
Eva María Arrebola, professora titular do departamento de Microbiologia da Universidade de Málaga, falou sobre a análise de vários fungos que afetam o abacate e a distribuição de cada um por zonas de Espanha. “Os sintomas compatíveis com a morte regressiva que estão a aparecer em plantações de abacate na zona de Málaga-Granada são causados por fundos da família Botryosphaeriaceae. As principais espécies responsáveis por esta doença nesta região são Neofusicoccum parvum, Neofusicoccum luteum e Lasiodiplodia theobromae.” Depois importa fazer um controlo da sintomatologia. “Identificar tratamentos compatíveis e autorizados na cultura do abacate que melhorem a resposta ao ataque dos fungos causadores da morte regressiva de ramos”.
Eva María Arrebola, professora titular do departamento de Microbiologia da Universidade de Málaga
Eva María Arrebola, professora titular do departamento de Microbiologia da Universidade de Málaga
Coube a David Sarmiento, técnico especialista da TROPS, abordar a importância do controlo nutricional do abacate, bem como a importância da fertilização. “Além de eleger onde colocar a plantação e conhecer bem o solo, a chave do cultivo é a rega e a poda, apesar desta última ainda não ser problemática em Portugal pela idade das plantações, cuja maioria tem menos de dez anos”.
David Sarmiento, técnico especialista da TROPS
David Sarmiento, técnico especialista da TROPS
David Sarmiento destacou ainda a questão de o abacate ser “um grande melhorador do solo agrícola. Partimos de um solo pobre e, após alguns anos de cultivo de abacate, este deixa um solo bastante melhor do que se encontrava ao princípio”. Na sua opinião, o êxito do abacate está “numa rega eficaz e eficiente. Em época de seca, pode produzir-se abacate com menos água, o que tem de se utilizar é a rega gota a gota no momento e quantidade adequados”. Sobre os nutrientes de referência que funcionam no cultivo de abacate, destacou o “nitrogénio, fósforo, potássio, cálcio (vital para produzir abacate pois tem muita influência na qualidade do fruto), ferro, zinco, boro e cobre.”
Antes do debate da mesa redonda, Rui Queirós, Especialista em Aplicações Alimentares HPP, da Hipercaric, abordou as vantagens do high pressure processing, nomeadamente a nível da segurança alimentar, já que “eliminam patogénicos como Listeria, Salmonella e E. Coli, há uma extensão do prazo de validade até 3-40 vezes, dependendo do produto e da embalagem, e pelo acesso a novos mercados (ex. pasta de abacate, guacamole)”.
Rui Queirós, Especialista em Aplicações Alimentares HPP, da Hipercaric
Rui Queirós, Especialista em Aplicações Alimentares HPP, da Hipercaric

Qual o futuro?

A encerrar o evento, vários produtores de abacate estiveram reunidos numa mesa redonda, conduzida por Amílcar Duarte, para discutir qual o futuro da produção de abacate em Portugal. Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, começou por fazer uma análise do mercado do abacate, destacando que “temos de ter uma prioridade de modernização dos perímetros de rega e dos aproveitamentos hidroagrícolas. Temos de ter obra e não só planos para a água, temos de ter políticas arrojadas para que o potencial que existe em Portugal possa ser aproveitado”.
A encerrar o evento, vários produtores de abacate estiveram reunidos numa mesa redonda, conduzida por Amílcar Duarte...
A encerrar o evento, vários produtores de abacate estiveram reunidos numa mesa redonda, conduzida por Amílcar Duarte, para discutir qual o futuro da produção de abacate em Portugal

Já Carlos Martins, produtor de abacate, centrou o discurso na problemática da seca. “Sem água não se produz e neste momento estamos a ter um problema de seca”, dando como exemplo o caso de Israel, que “hoje em dia tem uma agricultura pujante. A diferença está nas políticas desenvolvidas para a água, que fizeram uma grande diferença. Temos de fazer o que Israel fez: não só viver do recurso hídrico natural, mas acrescentar água e ela existe num meio infinito, que é o mar. Israel tem dessalinizadoras, o recurso hídrico é dividido em 50% dos meios naturais e outros 50% em dessalinização e tratamento de águas residuais”.

Hugo Melita, sócio gerente da Global Avocados, abordou o abacate produzido em Portugal e a realidade que enfrentamos num futuro próximo. “As áreas de cultivo têm aumentado por todo o mundo, Portugal não foi exceção. Temos de defender a nossa origem, ter qualidade no nosso produto, pois só assim é que conseguimos diferenciar-nos”.

Filipe Ferreira, vice-presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) e produtor de abacate há 5 anos, partilhou uma análise sobre o futuro para o abacate em Portugal. “Há muitas oportunidades, a começar pela qualidade. O abacate do Algarve é muito conhecido pela sua qualidade. Há uma diferença muito grande e essa é uma grande oportunidade, além da produção de proximidade. Produzimos na Europa, é diferente de um mercado como a América Latina, que está há 2/3 semanas, tem mais custos, tem uma pegada de carbono muito maior e o consumidor hoje também está muito sensível a isso. É uma vantagem para o nosso abacate”.

A finalizar, Tomás Melo Gouveia, produtor de abacate, salientou que o abacate “é uma realidade em Portugal, uma cultura que se vem impondo ao longo dos últimos anos e neste momento é uma oportunidade para os agricultores algarvios pois é uma zona onde temos ótimas condições para produzir”.

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