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3.°Congresso Ibérico do Milho 2024

“Os agricultores são ambientalistas racionais”

Gabriela Costa29/02/2024
A relevância da cultura do milho na agricultura de regadio do Sul da Europa foi reafirmada no 3.°Congresso Ibérico do Milho, que reuniu em Lisboa, a 21 e 22 de fevereiro, 700 participantes de Portugal e Espanha e um painel de 35 prestigiados oradores.
Jorge Neves, presidente da ANPROMIS, e José Luis Romeo, presidente da AGPME, acompanhados pelo presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura...

Jorge Neves, presidente da ANPROMIS, e José Luis Romeo, presidente da AGPME, acompanhados pelo presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura, e outros participantes.

O milho é uma das principais culturas de regadio na Península Ibérica, ocupando uma área que ronda os 650 mil hectares. Durante o evento, organizado pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal (ANPROMIS) e pela Associação Geral dos Produtores de Milho de Espanha (AGPME), os especialistas defenderam que esta cultura contribui para criar emprego, gerar desenvolvimento socioeconómico e fixar a população no território, reafirmando a sua importância na agricultura de regadio do Sul da Europa.

Integrando dois dias de conferências dedicadas aos desafios e oportunidades do milho, com destaque para a questão da água, o 3.°Congresso Ibérico do Milho “constituiu mais um passo muito relevante para a criação de uma plataforma de diálogo, partilha de conhecimento e defesa conjunta dos interesses dos produtores de milho portugueses e espanhóis, tanto nas instâncias nacionais como nas europeias”, conclui a organização.

À margem do congresso, o presidente da ANPROMIS sublinhou que "numa altura em que a contestação dos agricultores a nível europeu é cada vez mais audível, importa a Comissão Europeia repensar rapidamente a sua Política Agrícola Comum, ajustando-a à realidade dos nossos agricultores, sob pena de a nossa competitividade ficar, irremediavelmente, colocada em causa”. Na opinião de Jorge Neves, “de entre os diversos temas abordados não podemos deixar de destacar a problemática da água. Portugal e Espanha têm a obrigação de fazer um lobby ibérico na defesa do aumento do armazenamento deste recurso, sem dogmas nem fundamentalismos”.

Já José Luis Romeo, presidente da AGPME, corrobora, em declarações à Agriterra, que “a organização conjunta deste congresso é muito relevante, porque Portugal e Espanha têm um conjunto de problemas em comum. A nossa latitude exige que as nossas sementes sejam diferentes das usadas no norte da Europa, mas também temos os mesmos problemas de infestantes, de insetos e os problemas derivados da climatologia especial da região, como a seca, o que faz da água um dos temas principais que une estes dois países”. Para o presidente da associação espanhola, “estas manifestações dos agricultores são um grito que esperamos que seja ouvido em Bruxelas para uma revisão da PAC”.

Eurodeputados ibéricos pela defesa do regadio em Bruxelas

Naquele que foi um dos painéis mais aguardados do congresso – “A importância da gestão integrada dos recursos hídricos em ambiente de alterações climáticas” - eurodeputados portugueses e espanhóis concordaram que o regadio deve ser um desígnio estratégico para defender no Parlamento europeu. E concluíram que, em conjunto, os dois países poderão alcançar medidas que beneficiem os agricultores, que diariamente procuram estratégias para se adaptarem aos impactos das alterações climáticas, nomeadamente os eventos extremos.

Clara Aguilera, eurodeputada da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas Europeus (Espanha), afirmou que “a política da água é essencial na próxima legislatura. As infraestruturas hídricas estão a tornar-se importantes”. Sublinhando que “iniciámos uma agenda verde inexplicável”, a responsável apelou ao histórico de sucesso entre Portugal e Espanha na defesa dos seus interesses, sugerindo que o exemplo da eletricidade é um modelo passível de transpor para a gestão da água.

Os eurodeputados Clara Aguilera, Juan Ignacio Zoido, Nuno Melo e Sandra Pereira (ao centro)

Os eurodeputados Clara Aguilera, Juan Ignacio Zoido, Nuno Melo e Sandra Pereira (ao centro).

Segundo Juan Ignacio Zoido, eurodeputado do Partido Popular Europeu (Espanha), “é preciso desenvolver uma infraestrutura hídrica moderna que permita travar o impacto das alterações climáticas”. Na sua perspetiva, é urgente aproveitar métodos como “a dessalinização e a reutilização de água”.

Nuno Melo, eurodeputado do Partido Popular Europeu (Portugal), defendeu, por sua vez, que “os agricultores são ambientalistas racionais” e que Bruxelas tem uma posição muito dogmática face às medidas ambientais. Lamentando o “empobrecimento paulatino da agricultura [nacional] nos últimos anos”, Nuno Melo acredita que deve existir “uma discriminação positiva para o sul da Europa e, em Portugal, deve, por fim, existir uma política de transvases”. Como conclui, “a água deve ser uma prioridade para qualquer governo”.

A eurodeputada da Esquerda Europeia (Portugal) Sandra Pereira concorda com esta prioridade, salientando que “há infraestruturas que são estratégicas e não se percebe porque não saem do papel”. A responsável refere-se “a obras de apoio ao regadio e à criação de estruturas que permitam a reutilização de água”.

No rescaldo do evento, o presidente da ANPROMIS congratulou-se com a reunião, em Lisboa, de 700 participantes, entre os quais uma delegação espanhola, num total de 100 participantes, que debateram a cultura ibérica do milho. Jorge Neves destacou, ainda, a presença de 150 alunos e docentes de instituições de ensino superior agrícola, “num claro sinal do forte empenho que a ANPROMIS tem tido em aproximar o mundo académico e os seus estudantes, os futuros agricultores e técnicos, da dinâmica empresarial que representamos".

O 3°Congresso Ibérico do Milho reuniu 700 participantes em Lisboa

O 3°Congresso Ibérico do Milho reuniu 700 participantes em Lisboa.

Conclusões do 3° Congresso Ibérico do Milho

  • O milho encontra-se, reconhecidamente, entre as culturas que mais otimizam o uso dos fatores de produção, sejam eles água ou energia.
  • O milho produzido na Península Ibérica é reconhecido pela sua qualidade intrínseca e tem uma importância primordial na alimentação humana e animal dos dois países.
  • As culturas de regadio, e em concreto o milho, contribuem de forma notória para a fixação das populações no território rural dos países do sul da Europa, criando emprego, desenvolvimento socioeconómico e coesão territorial.
  • A importância que a agricultura de regadio tem na preservação da paisagem ibérica e no ordenamento do seu território tem de ser compensada através da criação de medidas ambientais verdadeiramente adaptadas à realidade dos dois países.
  • Portugal e Espanha têm de defender de uma forma descomplexada o fomento do regadio, tanto a nível nacional, como europeu.
  • É imperioso que Portugal e Espanha defendam uma revisão imediata da PAC, não só em Bruxelas, mas também na sua aplicação prática nos dois países, sob pena da competitividade dos nossos produtores ficar, irremediavelmente, colocada em causa.
  • A Comissão Europeia tem de repensar seriamente as regras que impõe aos agricultores europeus, nomeadamente ao nível da BCAA7 e da instalação das culturas secundárias, atendendo às especificidades de cada país.
  • A produção europeia de cereais não pode ser penalizada pela exclusão consecutiva de substâncias ativas, colocando em causa a nossa capacidade de produção, e contribuindo para a ausência de ferramentas de controlo de infestantes impactantes para a produção europeia, como a Datura.
  • É totalmente inaceitável que os produtores europeus de milho tenham que desenvolver a sua atividade sob um conjunto de enormes restrições e imposições, permitindo-se, em simultâneo, a importação de produtos de países terceiros onde os standards de qualidade e de segurança alimentar exigidos aos agricultores se encontram em patamares muito inferiores aos exigidos no espaço europeu. Esta distorção de concorrência é, para os produtores ibéricos, intolerável.
  • A União Europeia tem de autorizar, sem receios e complexos fundamentalistas, o cultivo de variedades desenvolvidas recorrendo à utilização das novas técnicas genómicas (NTG), sendo esta uma oportunidade única de retomar a dianteira no que respeita à investigação no domínio da biotecnologia.
  • A Europa não pode continuar isolada do mundo e tem de permitir a aplicação de herbicidas e outros fitofármacos através da utilização de drones, aplicando assim estes produtos apenas onde são necessários.
  • Assumindo que a Comissão Europeia não abandonou, ainda, a aplicação integral do Pacto Ecológico Europeu, não implementar estas medidas, entre outras, é decretar a morte irremediável da agricultura europeia.
  • A Comissão Europeia e os cidadãos europeus têm de olhar para a sua agricultura não lhe retirando a sua capacidade de produzir alimentos de uma forma sustentável, sem dogmas ambientalistas, que nada contribuem para a sustentabilidade do território europeu.
  • Num contexto de total instabilidade e imprevisibilidade geopolítica mundial, a soberania alimentar, a par da Defesa, constitui, para os países europeus, um desígnio estratégico. Cabe, a cada um dos Estados membros conseguir que este objetivo passe a constituir uma verdadeira prioridade.                                             

Fonte: 3°Congresso Ibérico do Milho

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