C.M. Rodríguez1, M. M. Moreno1, A. Hervalejo2, F. J. Arenas-Arenas2 e O. Pérez-Tornero1*
1 Equipa de melhoria genética de citrinos, IMIDA, La Alberca (Múrcia).
2Centro IFAPA Las Torres IFAPA, Alcalá del Río (Sevilha).
*email: olalla.perez@carm.es
03/12/2024Os citrinos das zonas temperadas, como a zona mediterrânica, produzem três gomos por ano, sendo o principal o da primavera/verão, seguido do verão/outono. Os produtores tentam controlar o crescimento vegetativo excessivo através da poda, uma vez que a maioria dos rebentos jovens são muito vigorosos, consomem uma grande quantidade de recursos e são também muito atrativos para diferentes insetos que se alimentam dos rebentos jovens, como é o caso da Trioza erytreae, o vetor do HLB, uma das principais ameaças para o setor citrícola. Por outro lado, a poda resulta em árvores menos desenvolvidas, o que facilita algumas práticas culturais como a colheita e a aplicação de tratamentos, sem perda de produtividade, resultando numa redução de custos.
Os citrinos podem produzir vários rebentos por ano, sendo o principal o rebento da primavera/verão (Sauer, 1951). O controlo do tamanho das árvores, geralmente com tratamentos de poda, é essencial para manter e melhorar a saúde das árvores e aumentar a produtividade e a qualidade dos frutos (Vashisth et al., 2017). Por outro lado, certos insetos pragas desenvolvem-se e alimentam-se exclusivamente durante a época de rebentação, alguns dos quais são responsáveis pela propagação e indução de doenças graves nos citrinos.
Trioza erytreae é um dos principais vetores de Candidatus liberibacter spp, que é o agente causal do Huanglongbing (HLB) ou greening dos citrinos (Gottwald et al., 2007), atualmente descrito como a doença mais devastadora dos citrinos a nível mundial. Após a primeira deteção deste psilídeo na Europa em 2014, especificamente em Portugal e na costa atlântica espanhola, a sua área de distribuição cresceu rapidamente, representando atualmente uma ameaça muito séria para a cultura de citrinos na área do Mediterrâneo (Arenas-Arenas et al., 2019).
Os ciclos reprodutivos de T. erytreae estão intimamente ligados aos períodos de brotação das suas plantas hospedeiras, que incluem todas as espécies de citrinos de interesse comercial (Bové, 2006), com uma preferência particular pelos limoeiros (Arenas-Arenas et al., 2018). Neste sentido, o desenvolvimento de técnicas de controlo do abrolhamento não produtivo da árvore (abrolhamento primavera-verão) reduziria a incidência de T. erytreae e, por conseguinte, dos tratamentos fitossanitários.
O objetivo deste estudo foi analisar o efeito de diferentes tratamentos, constituídos por podas e/ou tratamentos com fito-reguladores (auxinas), no controlo da germinação primavera-verão e verão-outono, na produção e na qualidade dos frutos numa plantação de limoeiros situada em Almeria.
Tabela 1. Percentagem de novos rebentos (total nas 4 orientações), primavera-verão e verão-outono, à meia altura da copa, das árvores submetidas aos diferentes tratamentos, nos dois anos do ensaio, numa parcela comercial de limoeiro 'Fino 49'.
Material vegetal e parcela experimental
O ensaio foi efetuado numa parcela comercial de 2 ha da variedade de limoeiro “Fino 49” em porta-enxertos de Citrus macrophylla, localizada no município de Pulpí (Almeria). A idade das árvores era de 4 anos quando o ensaio começou e a estrutura de plantação tinha 6 x 5m.
Tratamentos e conceção experimental
Foram aplicados 6 tratamentos diferentes durante dois anos consecutivos: (1) Tratamento de controlo, que consiste na gestão habitual da plantação; (2) Aplicação foliar de 2,4 DP (ácido diclorofenoxipropiónico); (3) Aplicação foliar de 356 TPA (ácido 3,5,6-tricloro-2-piridiloxiacético); (4) Poda mecanizada de acordo com o padrão de brotação (primavera, verão e outono); (5) Poda mecanizada seguida da aplicação de 2,4 DP; (6) Poda mecanizada seguida da aplicação de 356 TPA. O 2,4 DP foi preparado numa dose de 150 ml por 100 l de água, e o 365 TPA numa dose de 1,5 comprimidos por 100 l de água. Todos os tratamentos, exceto o 4, foram efetuados em junho de cada ano de ensaio.
Cada tratamento consistiu num grupo experimental de 4 árvores distribuídas em 4 blocos, perfazendo um total de 16 árvores por tratamento e 24 árvores por bloco. Os grupos experimentais foram distribuídos aleatoriamente em cada bloco.
Avaliação do crescimento das árvores
O crescimento das árvores foi avaliado em julho, 2-3 semanas após a aplicação dos tratamentos, e antes da poda em setembro de cada ano, de modo a poder analisar o efeito dos tratamentos sobre a germinação nas estações primavera-verão e verão-outono, respetivamente.
As medições biométricas foram efetuadas com a ajuda de uma mira e de uma fita métrica. Foi analisada a altura total da árvore, bem como o diâmetro longitudinal e transversal na linha de plantação da copa da árvore.
Para analisar os novos rebentos, foi utilizado um anel de 56 cm de diâmetro e o número de novos rebentos, delimitados pelo anel, foi registado nas quatro orientações da árvore (norte, sul, este e oeste) a meia altura da copa da árvore, diferenciando entre rebentos <25 cm, 25-50 cm e >50 cm.
Produção e qualidade dos frutos
Os frutos foram colhidos em outubro do segundo ano do ensaio. O peso dos frutos por árvore/tratamento/bloco foi registado e, para analisar o efeito na qualidade dos frutos, foi recolhida uma amostra aleatória de 16 frutos por árvore nas diferentes orientações das árvores (4 frutos/orientação). Em cada amostra, foram analisados diferentes parâmetros de qualidade externa (peso (g), diâmetro e altura (mm) do fruto) e interna (número de sementes, espessura da casca (mm), acidez (TA; g/100cc), sólidos solúveis totais (SST; ºBrix), índice de maturação (SST/TA) e percentagem de sumo).
Análises estatísticas
Todos os dados obtidos no estudo foram analisados utilizando o software estatístico SPSS (IBM Statistics 25). O efeito dos tratamentos nos resultados foi analisado através de uma ANOVA e o teste LSD (Least Significant Difference) foi utilizado para estudar as diferenças entre tratamentos, nos casos em que a ANOVA mostrou diferenças significativas entre eles. Os gráficos apresentados neste estudo foram elaborados com recurso ao software Sigmaplot v. 14, e os valores representados são as médias e os erros padrão das médias.
Tabela 2. Resultados da análise da qualidade dos frutos em árvores submetidas a diferentes tratamentos no último ano do ensaio numa parcela comercial de limoeiro 'Fino 49'.
O desenvolvimento vegetativo do rebento está associado a níveis elevados de giberelinas no ápice (Goldschmidt e Monselise, 1970). É por isso que a aplicação de algumas substâncias, como certas auxinas, tem sido indicada para a inibição do crescimento de rebentos em citrinos (Phillips e Tucker, 1974; Ratna Babu e Lavania, 1985). O objetivo desta aplicação é controlar o desenvolvimento vegetativo excessivo para obter árvores com um crescimento reduzido, o que facilitaria algumas práticas culturais (poda, aplicação de tratamentos, colheita, redução de pragas, ...) sem afetar a produtividade da cultura.
Neste trabalho, as medições biométricas mostraram diferenças significativas entre tratamentos na altura das árvores nas medições de primavera-verão, com a menor altura de árvore observada no tratamento 4 (poda mecanizada), em ambos os anos do ensaio (Figura 1). Na rebentação estival-outonal, enquanto as árvores mais pequenas foram observadas nos tratamentos 3 e 6 no primeiro ano do ensaio, no segundo ano não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos (Figura 1). Também não se registaram diferenças significativas entre os tratamentos na análise dos diâmetros transversais e longitudinais nas medições da primavera-verão e do verão-outono nos dois anos do ensaio (dados não apresentados).
Fig. 1 - Altura média das árvores, submetidas aos diferentes tratamentos, ao abrolhamento na primavera/verão e no verão/outono, nos dois anos do ensaio, numa parcela comercial de limoeiro 'Fino 49'. As barras representam as médias ± erro padrão. Os dados com letras diferentes indicam diferenças significativas de acordo com o teste LSD (P≤0,05). As letras minúsculas correspondem ao primeiro ano do ensaio e as letras maiúsculas ao segundo ano. Tratamentos: (1) Controlo, (2) 2,4 DP, (3) 3,5,6 TPA, (4) Poda mecanizada, (5) Poda mecanizada + 2,4 DP, (6) Poda mecanizada + 3,5,6 TPA.
O tratamento que produziu significativamente menos rebentos na parte média da copa na primavera-verão foi o tratamento 3, em ambos os anos do ensaio, e 6 no segundo ano, ambos os tratamentos com 3,5,6 TPA, e rebentos significativamente mais longos foram produzidos pelo tratamento 4 no primeiro ano, e nos tratamentos 1 e 2 no segundo ano do ensaio (Figura 2). Cerca de 90% dos rebentos tinham menos de 25 cm de comprimento, em todos os tratamentos, no primeiro ano, sem diferenças significativas entre tratamentos, aumentando a percentagem de rebentos de 25-50 cm no segundo ano, com diferenças significativas entre o controlo e os restantes tratamentos (Quadro 1). No verão-outono, não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos no que respeita ao número de rebentos no primeiro ano, e os rebentos significativamente mais longos foram os do tratamento 1. No segundo ano, os tratamentos que produziram o maior número de rebentos foram o 3 e o 6, com diferenças significativas em relação ao resto dos tratamentos (Figura 1), o que poderia indicar que o 3,5,6 TPA, aplicado em junho, produziu um atraso na germinação. Não foram observadas diferenças significativas no comprimento dos rebentos entre os tratamentos. A maior parte dos rebentos jovens nesta altura tinham um comprimento inferior a 25 cm nos dois anos do ensaio (Quadro 1).
Fig. 2 - Número de novos rebentos por árvore (total nas 4 orientações) na primavera/verão e no verão/outono, à meia altura da copa, das árvores submetidas aos diferentes tratamentos, nos dois anos do ensaio, numa parcela comercial de limoeiro 'Fino 49'. As barras representam as médias ± erro padrão. Os dados com letras diferentes indicam diferenças significativas de acordo com o teste LSD (P≤0,05). As letras minúsculas correspondem ao primeiro ano do ensaio e as letras maiúsculas ao segundo ano. Tratamentos: (1) Controlo, (2) 2,4 DP, (3) 3,5,6 TPA, (4) Poda mecanizada, (5) Poda mecanizada + 2,4 DP, (6) Poda mecanizada + 3,5,6 TPA.
A aplicação de auxinas nas culturas de citrinos tem um efeito regulador no desenvolvimento dos frutos (Agustí et al., 2001). No nosso trabalho, nenhum dos tratamentos teve um efeito significativo na produção, com uma produção média por árvore de 132-145 kg, no entanto, o peso dos frutos foi mais elevado nos tratamentos 3 e 6 (178-182 g/fruto), ambos tratamentos com 3,5,6 TPA, sem diferenças significativas entre os outros tratamentos (Figura 3). Resultados anteriores de outros autores mostraram que a aplicação da auxina sintética 3,5,6 TPA estimulou a acumulação de hidratos de carbono e o crescimento dos frutos em Satsumas (Agustí et al., 2001), o que apoiaria os nossos resultados.
No resto dos parâmetros de qualidade externa analisados, observou-se que, embora a análise de variância tenha mostrado um efeito significativo dos tratamentos no diâmetro dos frutos, esse efeito foi muito pequeno, com frutos de 64-67 mm de diâmetro; os frutos com maior diâmetro foram observados nos tratamentos 6 e 3 (Tabela 2). Não foram observadas diferenças significativas para a altura do fruto ou para a relação diâmetro/altura (dados não mostrados), mas houve diferenças significativas para a espessura da casca, embora as diferenças fossem mínimas (Quadro 2).
Fig. 3 - Produção média por árvore e peso médio dos frutos, em árvores submetidas a diferentes tratamentos, numa parcela comercial de limoeiro 'Fino 49'. Resultados recolhidos em setembro do segundo ano do ensaio. As barras representam as médias ± erro padrão. Os dados com letras diferentes indicam diferenças significativas de acordo com o teste LSD (P≤0,05). Tratamentos: (1) Controlo, (2) 2,4 DP, (3) 3,5,6 TPA, (4) Poda mecanizada, (5) Poda mecanizada + 2,4 DP, (6) Poda mecanizada + 3,5,6 TPA.
Nos parâmetros de qualidade interna, observou-se que o número de sementes por fruto foi muito baixo em todos os tratamentos, sem diferenças significativas entre eles, e não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos para acidez, açúcares ou índice de maturidade (dados não mostrados). Observou-se um efeito significativo dos tratamentos na percentagem de sumo, com valores mais elevados nos tratamentos 2, 3 e 6, tratamentos com auxinas, embora as diferenças com os restantes tratamentos fossem muito pequenas (Quadro 2).
Os resultados deste estudo demonstram que a aplicação da auxina 3,5,6 TPA, tratamentos 3 e 6, em limoeiros 'Fino 49', reduziu significativamente a brotação na primavera-verão, período de maior incidência de T. erytreae, sem reduzir a produção ou o peso dos frutos, sendo uma ferramenta de interesse para o desenvolvimento de estratégias de controlo integrado de T. erytreae e para a redução de tratamentos fitossanitários.
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo Ministério da Economia, da Indústria e da Competitividade espanhol. Projeto E-RTA2015-00005-C06-04.
Bibliografia
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Arenas-Arenas FJ, Duran-Vila N, Quinto J, Hervalejo A. 2018. Is the presence of Trioza erytreae, vector of huanglongbing disease, endangering the Mediterranean citrus industry? Survey of its population density and geographical spread over the last years. J Plant Pathol 100:567–574. https://doi.org/10.1007/s42161-018-0109-8
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