Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

“O olival moderno português está a responder com inovação, tecnologia e sustentabilidade” 

Reportagem completa da II Conferência Técnica do Olival

Gabriela Costa27/05/2025
Imagen

A Conferência Técnica do Olival 2025 reuniu em Évora muitas dezenas de profissionais do setor olivícola numa reflexão profunda que incluiu um debate aceso sobre a gestão emergente do bem mais precioso em todas as culturas: a água. Alguns dos maiores especialistas em sustentabilidade e tecnologias para a gestão da água concluíram que o futuro do olival depende de uma visão integrada e eficiente sobre o seu uso e armazenamento. Leia aqui a reportagem completa.

“O olival português já não é apenas tradição. É um ecossistema agroindustrial avançado que cruza ciência, engenharia, tecnologia e visão empresarial”

Imagen

“Estamos aqui para discutir um desafio urgente, mas, simultaneamente, uma oportunidade estratégica para o setor: o futuro do olival, a sustentabilidade e a tecnologia na gestão da água”. Foi com estas palavras que Roberto Grilo, em representação do Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, abriu a II Conferência Técnica do Olival, organizada pela Agriterra a 23 de abril, no Évora Hotel, em Évora.

“É com grande satisfação que vejo este debate ancorado naquilo que é a Estratégia Nacional ‘Água que Une’, uma linha orientadora assumida como base para o desenvolvimento das políticas públicas de um dos bens mais escassos e mais preciosos, a água”, sublinhou, reiterando a importância do tema central do evento: “não há futuro para a agricultura, e não há futuro para o olival, sem uma visão integrada, científica e partilhada sobre a gestão da água”, em consonância com esta Estratégia.

Também em nome da CCDR Alentejo – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo e da Direção Regional de Agricultura do Alentejo, Roberto Grilo destacou a importância estratégica do olival e o papel central do Alentejo, defendendo que “Portugal é hoje um dos maiores produtores mundiais de azeite. E o Alentejo afirma-se como o seu principal motor.”

Apesar das “grandes exigências” que decorrem desse crescimento (otimizar recursos, manter a produtividade, proteger os solos e usar a água com inteligência), na opinião do responsável “o olival moderno português está a responder com inovação, tecnologia e sustentabilidade”. E prova disso é que “hoje temos explorações com sistemas de rega altamente eficientes, monitorização em tempo real, modelos de gestão baseados em dados e um setor cada vez mais profissional”.

Roberto Grilo concluiu a sua intervenção apontando os três eixos de ação do Ministério da Agricultura para o a gestão da água no setor - investir na eficiência hídrica; desenvolver conhecimento técnico e científico; e valorizar o olival em mercados exigentes -, reafirmando o compromisso com o setor olivícola. A uma plateia de muitas dezenas de agricultores, engenheiros agrónomos, investigadores, técnicos, decisores e responsáveis de instituições do setor deixou uma mensagem de José Manuel Fernandes: “o Ministério está atento, presente e disponível. Queremos que o olival português seja exemplo de como é possível conjugar produtividade com responsabilidade, valor económico com equilíbrio ambiental”.

“A sustentabilidade no olival não é uma opção, é uma exigência. E a gestão eficiente da água está no centro dessa equação”

Enaltecendo “todos os profissionais que contribuem diariamente para o desenvolvimento sustentável da olivicultura em Portugal”, Susana Sasseti, diretora executiva da Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal, sublinhou que a iniciativa ‘Água que Une’ é “uma estratégia que nos desafia a cooperar, a inovar e a usar os recursos hídricos com inteligência e visão de longo prazo”.

E, nesse contexto, “o futuro do olival constrói-se com base no conhecimento, na ciência, na tecnologia. Mas também na coragem de repensar modelos, na capacidade de nos adaptarmos e na vontade de colaborar”. Algo para que a Olivum se orgulha de contribuir, neste caso, enquanto parceira ativa desta conferência promotora de “novas ideias, novas soluções e, acima de tudo, novas alianças para um futuro mais sustentável”.

“A chave está no conhecimento partilhado, na colaboração entre agentes e na valorização da investigação e da tecnologia ao serviço do campo

“É muito bom ver esta sala cheia” perante “questões que não podem ser ignoradas: a gestão eficiente da água, a exigência da sustentabilidade ambiental e social, a necessidade de modernização e o uso de tecnologia de precisão e, claro, o compromisso com a qualidade e a valorização do azeite português, com destaque para o azeite do Alentejo”, afirmou, também na sessão de abertura, Filipa Velez, diretora executiva do CEPAAL – Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo.

Defendendo “o desenvolvimento de uma estratégia de promoção concertada” e “pensamento estratégico em torno do futuro do olival português” para fazer face aos desafios atuais, Filipa Velez defendeu o papel de cada um e a colaboração de todos “à volta de temas fundamentais para garantir que o setor não só resiste, mas evolui e lidera” - como os debatidos na conferência da Agriterra a que o CEPAAL se associou, mais uma vez, como parceiro estratégico.

“A falta de capacidade de retenção e armazenamento no momento certo é o verdadeiro desafio”

Imagen

O ‘Impacto da Estratégia Nacional ‘Água que Une’ na produção de Olival’ foi mote para a intervenção do key-note speaker do evento, José Pedro Salema. O CEO da EDIA fez uma análise profunda sobre o desafio hídrico em Portugal, destacando a importância de uma gestão estratégica da água para o setor agrícola, com foco no olival e nos regadios.

Apresentando dados que anunciam, à primeira vista, uma aparente abundância de água no país - “Portugal tem disponível cerca de 50 mil milhões de metros cúbicos de água em ano médio e só utiliza cerca de 4.500 milhões; mesmo em ano seco essa disponibilidade reduz-se para cerca de metade” – o especialista alertou que esta análise através de médias anuais “escondem sempre situações muito diversas e há fontes de água que não podemos utilizar”, evidenciando a discrepância regional e a falta de capacidade de retenção e de armazenamento em períodos de abundância, como o verificado nos últimos meses. “Queremos utilizar a água quando não há. E este é o drama das regiões mediterrâneas, é que a disponibilidade de água é inversa à necessidade”. Portanto, quando a natureza não a providencia precisamos de abastecimento artificial, conclui.

Num cenário futuro, “vamos ter que acautelar as alterações climáticas (com o aumento da evapotranspiração e necessidades crescentes das culturas), mas é muito mais importante decidir quantos hectares novos é que queremos regar em Portugal (com a expansão da área regada estimada em cerca de 113 mil hectares). Esta é a grande decisão”. E foi neste cenário que a estratégia ‘Água que Une’ foi desenhada, “prevendo um aumento das necessidades de consumo de cerca de 1.000 milhões de metros cúbicos”.

Para fazer frente a este desafio, o documento integra um plano de 300 medidas, que requer um investimento global estimado em 9.500 milhões de euros até 2040, e está focado em três grandes eixos: eficiência, resiliência e inteligência. É que, se “não é admissível perder 70% da água em sistemas de abastecimento público” e ser um dos piores países da Europa em águas residuais tratadas, também não é aceitável que “a água usada na agricultura não seja medida”, explica. José Pedro Salema defendeu o reforço de barragens, interligações e armazenamento e a importância dos transvases, sugerindo o exemplo do Alqueva como modelo de gestão integrada e sustentável que pode ser replicado noutros sistemas, incluindo na cultura do olival. Para o setor do olival, salientou ainda o apoio a regadios privados, com 500 milhões de euros para a construção de charcas, e pequenas barragens e a necessidade de definir onde e quanto expandir a área regada.

“Em Portugal quase todo o olival produtivo é de regadio”

Imagen

A primeira mesa redonda da Conferência Técnica do Olival 2025 analisou a importância da água sob múltiplas perspetivas – científica, técnica, empresarial e territorial – contando com a participação de José Núncio, presidente da FENAREG - Federação Nacional de Regantes, Fátima Batista, diretora do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), da Universidade de Évora, José Muñoz-Rojas, especialista em Geografia Rural e Ecologia da Paisagem ECT & MED e Carlos Gabirro, CEO da Biostasia.

A abrir, Gonçalo Moreira, gestor do Programa de Sustentabilidade de Azeite e moderador do painel, questionou em que medida a água é um elemento central no desenvolvimento e sustentabilidade do olival. Fátima Baptista considerou que “a água é um ponto central para a sustentabilidade do olival” e reforçou a necessidade de uma gestão “muito parcimoniosa da água” em qualquer cultura, dado o cenário das alterações climáticas.

A docente admitiu ser-lhe difícil “pensar na sustentabilidade só económica, ou só ambiental, ou só social, pois ela “é o todo”, o que “implica compromissos”. Nessa perspetiva, “há um pilar territorial” quando falamos do Alqueva e de outros investimentos ou infraestruturas para o desenvolvimento regional, como acredita José-Muñoz-Rojas, que defendeu a importância da coesão e do equilíbrio territorial, alertando que “não podemos ter uma porção do território extremamente desenvolvida e outra marginalizada”, incluindo na gestão da água.

“Em Portugal quase todo o olival produtivo é de regadio, o que é muito interessante”, constatou José Núncio, depois de contextualizar que no clima mediterrânico “ou a agricultura é de regadio ou não há agricultura”. Motivo pelo qual os empresários agrícolas ou agricultores dependem estruturalmente do acesso a água para conseguirem ser eficientes.

Ora, como é que uma empresa especialista em soluções de resíduo zero como a Biostasia pode ajudar na retenção e manutenção da água no olival? “A água é vida” e com base neste princípio básico Carlos Gabirro explica que “existem algumas soluções científicas naturais que já permitem reduzir bastante as necessidades de água”, o que é essencial, “tendo em consideração tudo o que passamos nesta fase”.

A tecnologia é importante, “mas é preciso saber usá-la bem, porque muitas vezes rapidamente centramo-nos na área comercial ou financeira e esquecemos o nosso propósito”, esclarece. Dito isto, existem hoje soluções práticas como a glicina-betaína, capaz de “reduzir entre 15% e 30% das necessidades de água” e várias tecnologias que ajudam a “reter a água na planta e no solo”, garante o CEO da Biostasia. Acresce que estas tecnologias que permitem reduzir as necessidades de aplicação de água “muitas vezes também incrementam a produção final”, conclui o responsável, adiantando que “em olival tradicional notam-se aumentos brutais da rentabilidade (por aumento da manutenção) e mesmo no regadio vêem-se bem os efeitos”.

O painel de especialistas debruçou-se ainda sobre a importância da preservação da biodiversidade do solo para a gestão da água no olival, com José Muñoz-Rojas a sublinhar que “há muitíssima água que está dentro do agroecossistema” e que o Alentejo é exemplar no uso do coberto vegetal, comparativamente à Andaluzia ou à Itália.

No que toca a políticas públicas, o presidente da FENAREG recorda que há muitos anos se ambicionava uma estratégia como a que foi agora apresentada, mas frisou a necessidade de modernizar os sistemas hidroagrícolas: “temos sistemas que têm perdas naturais que podem ir até aos 60%”, como o caso “sobejamente conhecido” do Mira, lembrou, defendendo o investimento prioritário do Estado.

Tecnologia e mais formação no setor agrícola, agricultura digital, mercados de serviços ecossistémicos e diversificação de modelos produtivos face ao risco das monoculturas foram outros desafios abordados pelo painel, no âmbito da temática ‘Água como elemento primordial da sustentabilidade no olival moderno’.

“Face aos desafios do setor há que questionar a eficiência atual da indústria e otimizá-la com tecnologia”

Imagen

Antes da pausa para o café, José Pedro Ribeiro, inside sales account manager Analytica & Industry da ILC - Instrumentos de Laboratório e Científicos apresentou a aplicação de equipamentos NIR (Near Infrared Reflectance) no processo produtivo do azeite, destacando o seu impacto na otimização, rastreabilidade e sustentabilidade do setor. A ILC atua no mercado há 47 anos e é parceira da PerkinElmer, desenvolvendo soluções tecnológicas avançadas para o setor agroindustrial, incluindo para o Laboratório Nacional de Azeites e para a Agrária Lagar.

Segundo José Pedro Ribeiro face a desafios do setor como a queda nos preços do azeite nos últimos meses, a baixa taxa de recuperação de produção (3% em cinco anos) e a necessidade de controlo rigoroso da matéria-prima para evitar perdas de qualidade e quantidade, há que questionar a eficiência atual da indústria: “será que estou a extrair o máximo que consigo da minha matéria-prima durante o processo de produção? Tenho dados suficientes para controlar este processo?”

É aqui que a ILC apresenta a sua proposta de valor para o setor, com a disponibilização de soluções de conhecimento, apoio na decisão, rastreabilidade e estatística de cada lote de produção, bem como um acompanhamento constante. O responsável apresentou as três soluções NIR da ILC – o equipamento 7440 (que permite monitoração direta nos tapetes com azeitonas); o equipamento 7350 (que faz a análise da pasta e do bagaço de azeitona); e um equipamento de bancada (versátil para análises em diferentes pontos do processo).

Os sistemas NIR oferecem inúmeras funcionalidades, como leituras em tempo real, com interfaces intuitivas, estatísticas dos lotes, integração com PLC (autómato) e acesso remoto por internet, em qualquer dispositivo móvel e em qualquer lugar.

O impacto desta tecnologia na sustentabilidade do setor é evidente, por exemplo, quando um ganho de 0,3% na eficiência representa até 120 mil euros em 10 mil toneladas de azeite. O que gera um ROI (retorno de investimento) calculado entre um a dois anos, dependendo da capacidade produtiva do lagar, detalha. A nível de infraestrutura, a empresa dispõe de atualmente 48 equipamentos instalados na Península Ibérica, com destaque para o modelo 7350, muito utilizado no bagaço, para otimizar a extração.

Os equipamentos da ILC (patrocinadora do evento) estiveram expostos na zona do coffee-break do evento, onde também estiveram presentes expositores dos demais patrocinadores – Biostásia, Methodus Seguros e Syngenta; e colaboradores - Balam e Hubel Verde - desta 2ª edição da Conferência Técnica do Olival, que totalizou 167 inscritos. No exterior do Évora Hotel, a Borrego Leonor Alentejo (Kubota) e a J.C Pneus (Landini Portugal) tiveram em exposição uma mostra da sua maquinaria agrícola (ver caixa).

Imagen
MONTAJE FOTOS 14 + 15

“É fundamental aumentar o título de utilização de água do EFMA, para evitar quebras de produtividade e assegurar a sustentabilidade num cenário de crescente escassez hídrica”

Imagen

Encomendado pela Olivum e pela Portugal Nuts, o estudo ‘O olival e o amendoal no EFMA, cenários sobre disponibilização de água para a rega’, analisou o impacto da escassez de água no âmbito do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), em cenários atuais e futuros de alterações climáticas.

Apresentado publicamente na Ovibeja, os principais resultados para a cultura do olival deste estudo realizado pela Agroges foram revelados em primeira mão na II Conferência Técnica do Olival, pela mão de Francisco Gomes da Silva, que destacou que o sistema do Alqueva, inicialmente concebido para “garantir segurança hídrica no abastecimento de água para diversos fins, nomeadamente para a agricultura” poderá, “paradoxalmente, enfrentar um problema de escassez”. É que, para além de várias limitações técnicas do sistema e do incremento de distintos destinos da água armazenada, o título de utilização atual do EFMA é de 590 hm³ para a agricultura, volume este que já não responde às necessidades atuais e futuras, dado o crescimento da área regada e os novos compromissos com perímetros confinantes, como Roxo e Odivelas, explica.

As dotações de rega previstas no plano de utilização de água de Alqueva em 2024, nomeadamente para o olival em copa e em sebe (respetivamente, 2.800 a 3.400 m³/ha) revelam-se insuficientes: “são objetivamente inferiores aos valores considerados para o desenvolvimento da cultura nas melhores condições”, conclui o especialista.

Neste contexto “o desafio foi juntarmos esta equação e percebermos onde é que ela está desequilibrada e que formas é que existirão de equilibrá-la nos seus dois lados, isto é, o compromisso de fornecimento de água aos diversos usos agrícolas e a origem dessa água e sua existência em condições de ser distribuída. A análise da Agroges mostrou que as necessidades de rega são “muito equiparadas” para o olival em sebe e em copa, contrariando o atual diferencial de dotação.

Face à satisfação plena das necessidades hídricas, uma quebra de 40% nessa satisfação provoca uma quebra de produtividade no ano de 20%, o que tem um impacto muito significativo na conta de cultura”. E em cenário de alterações climáticas, “em que a alternância pode ser muito grande”, pode mesmo acontecer haver anos em que há uma redução de 40%, ou mais, na disponibilização de água, alerta o sócio gerente da Agroges.

“Estamos um bocadinho fora de pé, na prática. Os valores recomendados no plano de utilização de água do EFMA, na generalidade das situações, não encaixam naquilo que são as necessidades hídricas do olival”, reitera, lembrando que o estudo conclui que essas necessidades são agora idênticas para olival em sebe e olival em copa.

As alterações climáticas agravam a situação: no cenário RCP 4.5 (menos gravoso e mais provável), as necessidades de água aumentarão 5% até 2050 e 13% até 2080. Já no cenário RCP 8.5 (muito menos provável, estando praticamente afastado), os aumentos poderão atingir 21% entre 2050 e 2080, avança.

Conclui-se, pois, que “o título de utilização do EFMA não chega, tem de ser aumentado”. Afinal, e como questiona Francisco Gomes da Silva, qual é o ganho no processo de trocar as utilizações atuais, limitando dotações, para manter uma base de rega assegurada para o futuro?

Apesar de reduções projetadas na precipitação e nas afluências naturais às albufeiras, o estudo da Agroges conclui que existe margem para aumentar o título de utilização para cerca de 1.000 hm³, garantindo ainda dois anos de resiliência: partindo de um cálculo que já inclui toda a água disponibilizada à EDP, numa perspetiva para daqui a 60 anos e no pior cenário de alterações climáticas, teríamos um sistema com capacidade para fornecer mil hectómetros cúbicos por ano para a agricultura e para os outros usos, mantendo dois anos de resiliência”.

Em conclusão, a solução passa por “ter um título de utilização de recursos hídricos, nomeadamente para uso agrícola, claramente superior (dos atuais 590 hm³ deveríamos aproximarmos o mais possível dos tais 1000 hm3/ano). A grande questão é que o aumento do título tem que ser acompanhado pelo aumento de novas origens de água para o sistema do EFMA”, como a futura dessalinizadora de Sines, e da criação de interligações entre bacias. Na minha opinião, “não temos em Portugal outra forma para conferir resiliência ao território em termos de água”, defende o especialista.

“O que importa não é a quantidade de água, mas sim a quantidade de inteligência que aplicamos a uma cultura”

Imagen

Numa apresentação intitulada ‘Talete. O Valor de cada Gota’, João Lopes Bilro, sales representative da gama Syngenta Biologicals para Portugal, começou por destacar a importância da água na agricultura para introduzir o Talete, um bioestimulante que visa otimizar o uso da água pelas plantas.

A empresa está a fazer ensaios em várias culturas, nomeadamente nas culturas regadas. A proposta é aumentar a eficiência no uso da água: “aquilo que queremos com o Talete é equilibrar muito melhor este rácio e tentar que as plantas parem o menos possível ao longo do ciclo, para não haver quebras de produção”. Como explica João Lopes Bilro a solução tem dois modos de ação: melhor retenção de água na planta e maior absorção; e a otimização do uso interno da água, aumentando a fotossíntese e a produção de clorofila.

“Se conseguirmos que a planta pare muito menos, teremos mais índice de massa verde”, garante. Ensaios mostraram ganhos no consumo e eficiência da água: “na aplicação, na presença do Talete, estamos a conseguir mais de 10% de consumo de água na planta, comparativamente a uma testemunha”.

Defendendo que a biostimulação tem sido uma ferramenta fundamental face aos desafios mundiais de produção e de sustentabilidade, o sales representative da Syngenta reforçou a importância de investir não apenas na infraestrutura de rega, mas também na planta”.

“Há soluções e tecnologia em avanço, mas a falta de coordenação, financiamento, validação científica e confiança nos sistemas são entraves à inovação”

Imagen

A segunda mesa redonda da manhã de trabalhos encerrou a Conferência Técnica do Olival 2025, reunindo a participação de Gonçalo Morais Tristão, presidente do COTR - Centro Operativo de Tecnologia de Regadio, Centro de Competências para o Regadio Nacional, Pedro Rocha, EU Business Develpment Irrigation Technologies da ‘A Better Way to Grow’ e Fernando Fonseca, diretor da Methodus Seguros. O painel foi moderado por Gonçalo Rodrigues, professor auxiliar do ISA, que procurou avaliar em que medida está (ou não) o setor preparado com inovação e tecnologias emergentes para superar os desafios da gestão da rega.

O presidente do COTR revelou-se otimista, afirmando que nos últimos anos “temos adquirido conhecimentos, cujos exemplos ouvimos ao longo desta manhã”. A nível tecnológico “o papel das empresas tem sido importantíssimo nos últimos anos”, disse ainda.

Mas, e apesar de o setor estar cada vez mais preparado para enfrentar os desafios da rega, graças à acumulação e disseminação desse conhecimento, Gonçalo Morais Tristão reconhece falhas: “o olival mais moderno está aqui no Sul, e o regadio ajudou imenso o Alqueva, mas ainda não encontrámos a solução para generalizar o conhecimento e as tecnologias acerca da rega a toda a agricultura”.

Como é que podemos ser mais eficientes através da tecnologia? Defendendo que é essencial “pôr o foco na solução” para reduzir o consumo, Pedro Rocha comentou: “compreendo que as necessidades de água vão aumentando, mas se reduzirmos a quantidade de água que necessitamos ela chegará para mais”.

O responsável da ‘A Better way to Grow’ apresentou o DRI, uma solução subterrânea de rega de precisão inovadora já utilizada na Califórnia, que permite uma redução de até 50% no consumo de água, em comparação com sistemas gota-a-gota; tempos de rega mais curtos e períodos de rega menos alargados, reduzindo tempos de bombagem; menor incidência de pragas, doenças e infestantes; e maior eficiência na fertilização.

Trata-se de uma solução tecnológica simples e comprovada que “se fosse implementada em toda a área de culturas permanentes da Península Ibérica permitiria economizar água suficiente para dar de beber a 12 mil milhões de pessoas num ano”, garante. Mas, ressaltou, a introdução de novas tecnologias exige tempo, validação local e apoio institucional.

“O conhecimento ajuda-nos a gerir parte do risco, mas depois há uma preocupação que é a incerteza”, referiu o moderador, questionando o responsável da Methodus Seguros sobre os mecanismos a que os produtores podem recorrer, quando deparados com uma falta de água. Fernando Fonseca respondeu prontamente, ironizando que “os seguros não fazem chover, nem melhorar a qualidade da rega”. Mas perante a crescente preocupação com a mitigação dos riscos provocados pelas alterações climáticas, “trazem confiança ao gestor na hora de investir”.

A agricultura é uma atividade económica “que vive num grau de incerteza muito grande durante todo o ano”, recordou. E por isso “é preciso identificar bem os riscos”, e as seguradoras, com outros parceiros que possuem Big Data, devem trabalhar para perceber qual é o risco real “e contruir apólices que respondam de forma efetiva e eficiente às necessidades do agricultor”.

Fernando Fonseca enfatizou a função estratégica dos seguros na mitigação de riscos climáticos e financeiros, sugerindo que o setor não pode estar “constantemente refugiado em produtos tradicionais, como o seguro de colheitas, que toda a gente contrata”. E defendeu a adoção do seguro paramétrico, baseado em dados objetivos, como uma resposta eficaz à incerteza.

Recordando a proposta para uma certificação dos regantes (integrada na Estratégia ‘Agua que Une’) como forma de incentivar boas práticas e reduzir o risco para os seguros, Gonçalo Morais Tristão acredita que o setor “vai ter a vontade de continuar a apostar no regadio, no transvase com uma ou outra interligação onde faça falta”. E, nesse âmbito, o COTR, enquanto centro de competências de nível nacional, não pode atuar só em Beja e deve apoiar a agricultura noutras regiões, diz. Não obstante, o presidente do COTR enfatizou a necessidade de se avançar com a criação de um centro experimental de regadio em Beja.

A propósito do papel do Estado nas necessidades estruturais dos agricultores, e dos olivicultores, em particular, os participantes na mesa redonda ‘Inovação e tecnologias emergentes ao serviço da gestão da rega do Olival’ convergiram na necessidade de financiamento estável para centros de competências e outras entidades como o COTR; criação de campos de ensaio e observatórios independentes que possam validar a eficácia de novas tecnologias; e continuidade das políticas públicas com maior clareza na relação com os agricultores.

Dinamizada no âmbito dos Encontros Profissionais B2B da Induglobal, do Grupo Interempresas, com o suporte técnico da Fakoy, a Conferência Técnica do Olival 2025 contou com a parceria estratégica da Olivum - Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal e do CEPAAL - Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo.

Imagen

Exposição de maquinaria dinamiza olivicultura local

 

A Conferência Técnica do Olival 2025 integrou, na zona exterior do Évora Hotel, uma Exposição de Máquinas das marcas Landini e Kubota, que pôde ser visitada pelas muitas dezenas de profissionais do setor que assistiram ao evento.

 

Sublinhando que “a olivicultura é uma das principais atividades na nossa região de operação” João costa, proprietário da JC Máquinas Agrícolas, explicou à Agriterra que enquanto concessionário oficial, “dispomos de uma marca como a Landini, muito bem preparada para atuar nessa área”. O motivo que levou o concessionário da Landini a estar presente nesta exposição “foi o facto de ser uma conferência reconhecida nesta região e de se encontrarem presentes diversos técnicos, empresas e proprietários das mesmas, dominantes no negócio da olivicultura”.

A JC Máquinas Agrícolas teve em exposição um trator Landini serie 5-120 e um Landini Rex 4 GT-110, que João Costa acredita que se destacam “pela suspensão da cabine e a caixa robotizada”, disponíveis em ambos os modelos.

Já a Empresa Borrego Leonor Alentejo voltou a participar na Conferência Técnica do Olival depois de ter estado presente na primeira edição, desta vez com dois equipamentos da marca Kubota: o trator M5112 UNQ de 115 CV (que pertence à série M5002, sendo um modelo utilitário robusto e versátil, ideal para diversas aplicações agrícolas); e um atomizador Kubota XTA2230 de 3.000 litros com comando H3O, (atomizador rebocado projetado para aplicações agrícolas intensivas, e com um comando que permite visualizar e tomar decisões em tempo real), como detalha Conceição Guerreiro, do departamento de vendas da Borrego Leonor Alentejo.

A responsável do concessionário oficial da Kubota sublinha a “excelência” dos dois equipamentos, “que representam o que há de mais avançado em tecnologia e eficiência para agricultura moderna”. Na opinião de Conceição Guerreiro, “eventos como este fortalecem o conhecimento técnico, promovem a inovação e aproximam os profissionais que trabalham diariamente para a evolução do setor agrícola”.

REVISTAS

Fna25

NEWSLETTERS

  • Newsletter Agriterra

    26/05/2025

  • Newsletter Agriterra

    23/05/2025

Subscrever gratuitamente a Newsletter semanal - Ver exemplo

Password

Marcar todos

Autorizo o envio de newsletters e informações de interempresas.net

Autorizo o envio de comunicações de terceiros via interempresas.net

Li e aceito as condições do Aviso legal e da Política de Proteção de Dados

Responsable: Interempresas Media, S.L.U. Finalidades: Assinatura da(s) nossa(s) newsletter(s). Gerenciamento de contas de usuários. Envio de e-mails relacionados a ele ou relacionados a interesses semelhantes ou associados.Conservação: durante o relacionamento com você, ou enquanto for necessário para realizar os propósitos especificados. Atribuição: Os dados podem ser transferidos para outras empresas do grupo por motivos de gestão interna. Derechos: Acceso, rectificación, oposición, supresión, portabilidad, limitación del tratatamiento y decisiones automatizadas: entre em contato com nosso DPO. Si considera que el tratamiento no se ajusta a la normativa vigente, puede presentar reclamación ante la AEPD. Mais informação: Política de Proteção de Dados

www.agriterra.pt

Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa

Estatuto Editorial