Filipa Velez, diretora executiva do CEPAAL
21/07/2025Portugal é um país produtor de azeite por tradição. Ao atravessarmos o território nacional as paisagens marcadas pelo olival contam-nos uma história de séculos de tradição, de saber-fazer e de evolução.
Nos últimos 20 anos assistimos a uma verdadeira revolução no setor. A modernização dos olivais com novos sistemas de condução, impulsionada no Alentejo pela barragem do Alqueva, transformou profundamente o panorama da produção nacional.
Vivemos hoje um dos melhores períodos da história da olivicultura nacional. O setor cresceu, modernizou-se e expandiu o seu conhecimento, para dar lugar a uma agroindústria altamente avançada, baseada na qualidade e na sustentabilidade.
O Alentejo é hoje a maior região produtora de azeite em Portugal e o motor inequívoco do setor nacional: Portugal é o 6º maior produtor de azeite do mundo e o 3º maior exportador da Europa, num ano em que a produção nacional ficou perto das 200 mil toneladas e as exportações ultrapassaram os 1.5 mil milhões de euros, revelando a força de um setor cada vez mais relevante na balança comercial portuguesa.
A aposta feita na modernização, na tecnologia, na inovação e no conhecimento é reconhecida em todo o mundo, com mais de 95% dos azeites produzidos a serem de qualidade superior (virgem ou virgem extra), reforçando a posição do país enquanto o maior produtor de azeite de alta qualidade do mundo. Este movimento reflete-se igualmente no aumento da visibilidade dos azeites nacionais nos principais mercados de destino das exportações nacionais, nomeadamente Brasil, França, Angola, Polónia e EUA.
Contudo, existem alguns desafios que o setor olivícola/oleícola nacional tem de enfrentar, desafios esses que estão interligados.
O primeiro, e enquanto país produtor de azeite de alta qualidade, é a diferenciação e a criação de uma marca coletiva agregadora que valorize e promova o azeite embalado com origem nacional.
A criação desta marca chapéu é essencial para que o azeite de Portugal esteja representado a nível internacional de forma unificada. Funcionando como uma garantia de qualidade, origem e rastreabilidade, a marca nacional permitirá, também, informar e reforçar o reconhecimento internacional, trazendo benefícios estratégicos, económicos e prestígio ao setor oleícola nacional.
É assim urgente a criação de uma marca coletiva que proteja o azeite de Portugal, que comunique e valorize a sua identidade e origem, que crie notoriedade internacional e que unifique o setor.
Mas aqui encontramos um outro desafio, o desafio da comunicação. Somos muito bons neste setor, mas precisamos de o comunicar.
Desde o campo até à garrafa de azeite que chega às nossas mesas existe um processo de controlo, acompanhamento e rigor. Este é também um caminho de paixão vertida em cada gota de azeite, porque nela existem pessoas, existe conhecimento humano e tradição que foram passados de geração em geração, e que estão presentes em cada passo que é dado no campo e no lagar. Fazemos os melhores azeites do mundo, todos os anos reconhecidos e premiados a nível nacional e internacional, mas continuamos a ter dificuldade em comunicar que somos muito, mas mesmo muito, bons nesta arte milenar que é a produção do azeite.
O azeite (virgem e virgem extra) é a gordura mais saudável que existe, é vegan, puro sumo de azeitona, rico em gorduras monoinsaturadas, antioxidantes e vitaminas, ajuda a reduzir o ‘mau’ colesterol (LDL), ajuda a prevenir a diabetes, bem como doenças neurodegenerativas, melhora a função cognitiva e é anticancerígeno. Enumerados todos estes benefícios facilmente chegamos à conclusão de que estamos a falar de um superalimento.
Comunicar requer uma narrativa forte, emocional, coerente e ajustada ao público-alvo. Neste sentido, defendo que uma das nossas missões é transmitir conhecimento às novas gerações sobre esta gordura 100% natural. E quando falamos de novas gerações, falamos do consumidor do futuro, mais informado e consciente. Mas falamos também de uma geração digital, sendo assim necessária a criação de campanhas estruturadas para as plataformas digitais que comuniquem o azeite como um alimento ‘sexy’. O que há de mais atraente do que um alimento vegan, saudável, sustentável e versátil?!
Existe uma necessidade estratégica de unir o setor, definir uma visão comum e responder aos desafios internos e externos da fileira, pois os produtores e as associações têm feito um trabalho excecional, mas não chega, não é suficiente. É urgente o envolvimento da tutela, é urgente um olhar estratégico sobre o setor, é urgente o arranque da interprofissional - AIFO (Associação Interprofissional da Fileira Olivícola). Necessitamos que os nossos governantes olhem para o setor como um player fundamental da economia nacional.
Promover o azeite nacional não pode ser apenas uma tarefa do produtor - tem de ser uma missão de todos: das associações, das instituições públicas, dos técnicos e também dos cidadãos.
O azeite é uma marca da nossa identidade cultural e um símbolo da excelência que Portugal tem para oferecer. Porém, como bem sabemos, a excelência só alcança o seu devido reconhecimento com investimento em promoção, educação e mobilização estratégica.
Vamos unir esforços num objetivo comum. Necessitamos de ações concretas que promovam a perceção do valor agregado do azeite como produto de excelência. Temos todas as condições para marcar pela diferença: um produto excecional, práticas sustentáveis, marcas com identidade própria e, sobretudo, gente que acredita no valor do que produz.
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Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa