O 8.° Congresso Nacional do Azeite, realizado em Moura no dia 16 de junho de 2025, reafirmou o papel estratégico do setor oleícola português, destacando os seus resultados expressivos e apontando os principais desafios e oportunidades para o futuro. Em 2024, a produção nacional aproximou-se das 200 mil toneladas e as exportações ultrapassaram os 1,5 mil milhões de euros, consolidando Portugal como o 6.º maior produtor mundial e o 3.º maior exportador europeu de azeite.
O evento, promovido pelo CEPAAL com o apoio da Câmara Municipal de Campo Maior e o Alto Patrocínio da Presidência da República, reuniu mais de 200 profissionais e 30 especialistas nacionais e internacionais.
Na sessão de abertura, Gonçalo Morais Tristão, presidente do CEPAAL, afirmou que 'a identidade do azeite português é essencial para nos impormos e triunfarmos no mercado mundial'. Destacou a importância do Alentejo, responsável por 90% da produção nacional de azeite, e reafirmou o reconhecimento internacional de Portugal como maior produtor mundial de azeite de alta qualidade. Apesar do momento positivo, frisou os desafios que ainda persistem, nomeadamente a valorização do azeite nacional de alta qualidade, a criação e dinamização de uma marca nacional 'chapéu', a sustentabilidade e a adaptação às novas exigências dos mercados, num contexto marcado pela instabilidade e incerteza.
Luís Rosinha, presidente da Câmara de Campo Maior, e Roberto Grilo, vice-presidente da CCDR Alentejo, destacaram a importância do azeite para a economia, cultura e identidade regional, defendendo a inovação aliada à sustentabilidade como fator essencial para valorizar o setor.
Pedro Santos, diretor-geral da Consulai, apresentou os dados mais recentes da produção mundial e nacional, realçando que, em 2024, Portugal registou um aumento de 10% na produção de azeite sem expandir a área cultivada. Este resultado evidencia a modernização e eficiência do setor, posicionando Portugal para se tornar o 2.º maior produtor europeu de azeite até 2030.
Apesar do aumento global da produção — com destaque para Espanha, que registou um crescimento de 66%, e Grécia, com 36% — os preços do azeite voltaram aos níveis de 2021-2022. Esta descida, que ocorre num momento em que os custos de produção continuam elevados, levanta preocupações sérias quanto à sustentabilidade económica do setor, especialmente para os modelos de produção mais tradicionais e familiares, que enfrentam maiores dificuldades de adaptação e margem de manobra financeira.
Esta situação ameaça o equilíbrio de toda a fileira oleícola, já que os produtores ficam mais expostos às flutuações do mercado internacional e a uma maior pressão por volume, em detrimento da qualidade. Por isso, torna-se fundamental encontrar um novo modelo que permita manter a competitividade nos mercados externos, sem sacrificar o valor do azeite português, reconhecido internacionalmente pela sua excelência.
O setor deve, assim, reforçar os esforços de diferenciação com base na qualidade, na certificação de origem, na sustentabilidade e numa estratégia de marca bem definida, capaz de comunicar o verdadeiro valor do azeite nacional. A estabilidade dos preços deve ser acompanhada por uma valorização efetiva do produto — nos mercados, junto dos consumidores e também a nível institucional — garantindo, assim, viabilidade económica, reconhecimento e futuro para o setor.
Seguiu-se um debate, moderado por José Diogo Albuquerque, da Agroportal, com a participação de Henrique Herculano, da Casa Relvas e membro recém-eleito da nova Direção da AIFO; Susana Sassetti, da Olivum; Francisco Ataíde Pavão, da APPITAD/CAP e membro recém-eleito da nova Direção da AIFO; Mariana Matos, da Casa do Azeite; Teresa Pérez, da Interprofissional del Aceite de Oliva Español; e Pedro Santos, da Consulai.
Os oradores foram unânimes na convicção de que Portugal enfrenta uma oportunidade estratégica para afirmar o seu azeite no panorama internacional e sublinharam a importância de criar e promover a marca 'Portugal' para o azeite embalado, num esforço coletivo de diferenciação e valorização do produto nacional. Ao longo do debate, ficou evidente a necessidade de apostar na organização do setor, na formação, na sustentabilidade, na promoção e na internacionalização do azeite português. Neste contexto, a AIFO — Associação Interprofissional da Fileira Olivícola — foi destacada como a entidade central para este desígnio, à semelhança da sua congénere espanhola, que investe anualmente oito milhões de euros na promoção da marca 'Azeite de Espanha'.
Assunção Cristas, keynote speaker do painel sobre ESG, destacou que a sustentabilidade deve ser vista como uma oportunidade de valorização. Referiu os compromissos internacionais, como o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e as grandes tendências da UE: simplificação legislativa, economia circular e mercados de carbono. O painel incluiu especialistas de várias áreas que reforçaram o papel do ESG como fator diferenciador para o setor oleícola.
O painel de debate, moderado por Ana Velez, CEO da VALKIRIAS Consultores, contou com intervenções de Fernando do Rosário (AIFO/Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches), Nuno Santos (Sovena), João Teixeira (Fundação Eugénio de Almeida), José Duarte (Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos), Manuel Norte Santo (SICA) e Virgulino Neves (Portucale).
Os oradores sublinharam que o azeite português está num momento decisivo e precisa consolidar a sua identidade através da Marca Portugal, que deverá representar toda a produção nacional, afirmando-se como símbolo de qualidade, autenticidade e sabor. Neste contexto, torna-se prioritário reforçar a valorização do azeite engarrafado com identidade nacional. O embalamento e a rotulagem clara da origem portuguesa, à semelhança do que acontece com o setor vinícola, são passos fundamentais para afirmar a Marca Portugal como um selo de origem reconhecido e valorizado nos mercados interno e internacional.
Na sessão de encerramento, Luís Rosinha destacou que o congresso foi uma oportunidade para refletir e lançar ideias concretas para valorizar o azeite português. Já Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP, reconheceu o crescimento do setor nos últimos 20 anos, mas alertou para os desafios associados à instabilidade internacional e às mudanças na Política Agrícola Comum (PAC). Defendeu a proteção dos fundos agrícolas e a continuidade de projetos como a Estratégia 'Água que Une', fundamentais para garantir a sustentabilidade do olival e da agricultura nacional, e reforçou também o apelo à união do setor em torno da ativação da AIFO.
O Congresso integra o projeto 'Da Oliveira à Mesa', cofinanciado por fundos comunitários e nacionais através do PDR2020.
Conclusões do 8° Congresso Nacional do Azeite:
• Portugal é o maior produtor mundial de azeite de alta qualidade; 3º maior exportador da Europa, com produção nacional perto das 200 mil toneladas e exportações acima de 1,5 mil milhões de euros
• Olival é o motor da modernização do setor agrícola em Portugal e 90% da produção está concentrada no Alentejo
• Portugal pode vir a ser o 2º maior produtor europeu de azeite até 2030
• Desafios do setor: valorização, competitividade, organização e adaptação às mudanças climáticas e exigências ESG
• Setor agrícola na vanguarda das boas práticas sustentáveis
• Governo precisa desbloquear extensão da norma para que associação Interprofissional se torna numa realidade efetiva e seja criada uma marca forte e unificadora para o azeite português
• Marca Portugal deve unificar produção nacional organizando o setor e facilitando a internacionalização
• É prioritário comunicar eficazmente os benefícios culturais, económicos e nutricionais do azeite enquanto gordura saudável e produto sustentável
• Qualidade deve ser assumida como prioridade e fator diferenciador
• Importância do apoio institucional para promoção no exterior e junto dos mercados da diáspora
• Azeite é elemento central na gastronomia portuguesa, na alta cozinha e na identidade mediterrânica, mas não está a ser usado e precisa mais literacia.
FONTE: 8° Congresso Nacional do Azeite
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