Madalena Salgado Pirata1.2; André Duque3; Raul Estevinha3; Livia Pian3.
08/12/20251. INIAV I.P. – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Polo de Inovação de Dois Portos
2. MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento & CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, Universidade de Évora
3. Associação SFCOLAB – Laboratório colaborativo para Inovação Digital na Agricultura
O projeto DigiFarm2all surgiu como uma resposta inovadora a esta necessidade, ao integrar tecnologias digitais, sensores de campo, modelação agronómica e análise de dados para apoiar a tomada de decisão informada pelos agricultores e técnicos.
Através da recolha e interpretação de dados em tempo real, o DigiFarm2all permite otimizar práticas de rega, gestão de pragas e doenças, promovendo uma agricultura mais eficiente, resiliente e sustentável.
Mais do que uma ferramenta tecnológica, o DigiFarm2all representa um ecossistema colaborativo de inovação, que aproxima a ciência do terreno e capacita os produtores de citrinos a adotarem decisões baseadas em dados, reforçando a competitividade do setor e contribuindo para a adaptação às alterações climáticas. Ao fomentar a digitalização inclusiva - onde todos os agricultores, independentemente da dimensão das suas explorações, têm acesso a ferramentas digitais - o DigiFarm2all contribui para uma transição justa e resiliente da agricultura portuguesa, representando um instrumento estratégico na modernização da citricultura portuguesa, colocando os dados e a inovação ao serviço da sustentabilidade e da competitividade do setor.
Neste artigo dá-se destaque aos pomares de citrinos que ocupam cerca de 21.000 ha em Portugal, e que dão origem a cerca de 340.000 t de laranjas, 39.000 t de tangerinas, 16.000 t de limões, 1.400 t de tângeras, e 239 t de toranjas (Figura 1a). É no Algarve que se encontra a maior produção (Figura 1b), com cerca de 68% da área de laranjeiras e 80% de tangerineiras. As condições edafoclimáticas específicas desta região conferem à laranja do Algarve a denominação de Indicação Geográfica Protegida (IGP) (Duarte, 2020).
Figura 1 – Quantidade (toneladas) de citrinos produzidos (a), e área (hectares) de produção (b), em Portugal no ano de 2018.
Fonte: Duarte, 2020. © SFCOLAB
A Figura 3, que corresponde a alertas de risco gerados pela plataforma digital DigiFarm2all, é exemplo disso mesmo, revelando que o risco de ocorrência de mosca da fruta no Algarve é quase sempre elevado ou severo, representado por uma escala de 0 a 4, que corresponde, por ordem crescente, a risco de ocorrência nulo, baixo, moderado, elevado e severo. Atestando deste modo, a proficuidade, e também a validade desta informação (sendo igualmente disponibilizados alertas de risco para outras pragas e doenças na referida plataforma).
Figura 2 –Temperatura (azul) e humidade do ar (cinzento) registadas por uma estação SOFIS. © SFCOLAB
Figura 3 – Avaliação de risco para a ocorrência de mosca da fruta, na região do Algarve. © SFCOLAB
De acordo com Rosa (2019), a estimativa para a quantidade anual de água a aplicar através da rega aos citrinos é de cerca de 6400 a 7600 m3/ha. Dependendo, naturalmente, das condições meteorológicas e do solo. E a este nível, a plataforma DigiFarm2all também tem potencial para auxiliar numa rega mais eficiente, nomeadamente pela disponibilização de informação meteorológica (Figura 2) nomeadamente precipitação, temperatura e humidade atmosférica, radiação e velocidade do vento, que são utilizadas para a estimativa da evapotranspiração de referência e, com isso, permitem uma estimativa teórica dos consumos de água da planta. Em complemento à disponibilização das informações das condições do solo, especialmente a humidade do solo monitorizada em duas profundidades do solo (Figura 4). A interpretação da informação da humidade do solo inicia pela correta definição da capacidade de campo (linha contínua em azul) e a do limite da reserva facilmente utilizável (linha contínua em vermelho). A partir dai recomenda-se que a humidade do solo seja mantida entre estas duas linhas, sendo possível ajustar o tempo de rega e o intervalo entre regas auxiliando o processo de tomada de decisão.
Figura 4 – Humidade do solo a 20 (azul) e 40 (cinzento) cm de profundidade, registados por uma estação SOFIS. © SFCOLAB
Em suma, a transição digital da agricultura tem como desígnio a sustentabilidade dos processos produtivos, que, no caso do projeto Digifarm2all, acontece através do uso de dados para tomada de decisões mais eficazes.
Bibliografia:
Duarte A.M.M. (2020). Manual de Boas Práticas de Fruticultura – Citrinos. Revista Frutas, Legumes e Flores, em parceria com o INIAV, I.P. (Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade). 1º Fascículo. Disponível em: https://www.iniav.pt/divulgacao/publicacoes-bd/manual-de-boas-praticas-de-fruticultura-citrinos
Rosa A. (2019). Rega das Culturas / Uso Eficiente da Água. Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve. Disponível em: https://www.drapalgarve.gov.pt/images/destaques/Livro_WEB_Rega_Culturas.pdf
www.agriterra.pt
Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa